|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Calcanhotto tenta superar o desânimo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A cantora e compositora gaúcha
Adriana Calcanhotto (o "t" agora é
dobrado), 32, expõe a partir de hoje em São Paulo seu novo disco,
"Maritmo". O período, segundo
ela, é de restabelecimento.
Ao lançar "Maritmo", há poucas
semanas, ela se dizia desanimada,
demonstrando pouca empolgação
com o CD. "Agora já passou um
pouco", diz. "Foi um disco difícil
de ser feito. Me machuquei (ela se
recupera de um acidente no joelho), fiquei doente. Acabei questionando o sentido do trabalho, o
papel da música na minha vida."
Diz que o desânimo foi passando
sem que chegasse a alguma conclusão. "Estava fazendo um disco
mais pop na superfície, fiquei pensando nos impasses do pop, que
por um lado é solto, por outro é encurralado, cheio de regras, fórmulas, pecados que você não pode cometer. Às vezes fica aborrecido."
Os pecados, segundo ela, seriam
"uns absolutos que se ouvem o
tempo todo: isso não toca, isso não
pode, tem que saber o que vai tocar, o que vai ser bem-sucedido".
É de pressão da gravadora (a
Sony) que ela está falando? Adriana responde obliquamente: "Não
pude fazer só o que queria. Vou delineando um trabalho, algumas
coisas vão ficando mais claras, outras menos. Isso não quer dizer que
o resultado tenha me desagradado.
Ficou um disco mais fácil de ouvir,
mais redondo. Não fico preocupada em fazer só o que quero".
Pelas beiradas, ainda deixa escapar um ar de insatisfação: "Outro
disco assim acho que eu não faria.
Não quero me preocupar com o
que vão achar do loop, do sampler.
Foi meio assim neste CD".
Tenta, então, explicar como vem
superando o tal desânimo. "Enquanto estava fazendo, cheguei a
achar que não era honesto, pensei
em parar com tudo. Aí vi que devia
dois discos à gravadora, resolvi
que ia ficar bem. Eu pretendia dar
um passo enorme e não dei. Foi
muito difícil, mas foi muito bom."
A artista não detalha mais as razões que conduzem ao que afinal
parece configurar uma crise -dela, talvez do cenário todo. "Não sei
se há uma crise, mas tenho reparado que as pessoas têm articulado
mais suas crises -Marina e Leila
Pinheiro têm falado sobre isso.
Acho positivo."
Em meio à possível crise, Adriana volta, em "Maritmo", a referências mais ou menos habituais em
sua obra -antropofagia, poesia
concreta, parangolés de Hélio Oiticica. "Não acho que sejam referências antigas. A interatividade dos
parangolés não é antiga, identifico-me mais com eles do que com
minha geração, que acho retrô."
Mas não seria retrô escrever uma
música chamada "Vamos Comer
Caetano"? "Para mim foi irresistível. Mas não é uma canção de celebração, é de devoração. Inclui
amor e ódio."
²
Show: Adriana Calcanhotto
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, Moema,
tel. 011/531-4900)
Quando: hoje, às 21h30, amanhã e sábado,
às 22h
Quanto: R$ 15 a R$ 45
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|