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CRÍTICA
Falta de apuro do diretor chega a comover
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Nós que Aqui Estamos
por Vós Esperamos", o hiato
entre a ambição do projeto e o talento de Marcelo Masagão já era
claro. Sobre algumas das imagens
de arquivo mais contundentes do
século 20, o cineasta colocava, impertinente, a sua legenda, entre
associações precárias e comentários pretensamente espirituosos.
Era um filme de montagem sem
montagem, um exercício de pseudo-intelectualidade explícita.
"Nem Gravata nem Honra", o
novo trabalho de Masagão, não é
nem isso. Constrangedor, apenas.
Entre a pesquisa pseudo-sociológica e incursões psicanalíticas duvidosas, entre comentários prosaicos e piadinhas infames, Masagão se arrasta, aparentemente disposto a fazer do clichê a sua única
categoria.
Tão inevitável quanto o mote, as
diferenças entre os sexos, é a
constatação da enquete: o homem
e a mulher estão mudando. A relevância das questões colocadas
por Masagão só não é menor do
que a dos dados que opera, fatos
do tipo "o sofá da casa é o canto
predileto de fulano", acrescentados aleatoriamente, na forma de
legendas, sobre o relato desinteressado dos entrevistados (vindos
da classe média de uma cidade do
interior paulista, Cunha).
O melhor de "Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos" era o
interesse, até certo ponto ficcional, que Marcelo Masagão revelava pela "pequena história". O pior
do longa "Nem Gravata nem
Honra" é a incapacidade que o diretor demonstra de abordar essa
"pequena história" diretamente,
pelo documentário, sem recair no
prosaísmo vazio das relações sociais cotidianas de uma pequena
cidade.
A culpa, a bem da verdade, não
é tanto dos entrevistados quanto
dos entrevistadores que, volta e
meia, soltam, fora de quadro, as
suas pérolas. Para piorar, Masagão, com síndrome de Vertov, inventa moda na edição, colecionando os recursos mais démodés
de uma ilha de edição. A falta de
apuro (e de autocrítica) do diretor
chega mesmo a ser comovente.
Nem Gravata nem Honra
Direção: Marcelo Masagão
Produção: Brasil, 2001
Quando: hoje, às 19h25, na Sala UOL; e
dia 31, às 13h30, no Cinesesc
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