São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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CRÍTICA

Falta de apuro do diretor chega a comover

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos", o hiato entre a ambição do projeto e o talento de Marcelo Masagão já era claro. Sobre algumas das imagens de arquivo mais contundentes do século 20, o cineasta colocava, impertinente, a sua legenda, entre associações precárias e comentários pretensamente espirituosos. Era um filme de montagem sem montagem, um exercício de pseudo-intelectualidade explícita.
"Nem Gravata nem Honra", o novo trabalho de Masagão, não é nem isso. Constrangedor, apenas. Entre a pesquisa pseudo-sociológica e incursões psicanalíticas duvidosas, entre comentários prosaicos e piadinhas infames, Masagão se arrasta, aparentemente disposto a fazer do clichê a sua única categoria.
Tão inevitável quanto o mote, as diferenças entre os sexos, é a constatação da enquete: o homem e a mulher estão mudando. A relevância das questões colocadas por Masagão só não é menor do que a dos dados que opera, fatos do tipo "o sofá da casa é o canto predileto de fulano", acrescentados aleatoriamente, na forma de legendas, sobre o relato desinteressado dos entrevistados (vindos da classe média de uma cidade do interior paulista, Cunha).
O melhor de "Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos" era o interesse, até certo ponto ficcional, que Marcelo Masagão revelava pela "pequena história". O pior do longa "Nem Gravata nem Honra" é a incapacidade que o diretor demonstra de abordar essa "pequena história" diretamente, pelo documentário, sem recair no prosaísmo vazio das relações sociais cotidianas de uma pequena cidade.
A culpa, a bem da verdade, não é tanto dos entrevistados quanto dos entrevistadores que, volta e meia, soltam, fora de quadro, as suas pérolas. Para piorar, Masagão, com síndrome de Vertov, inventa moda na edição, colecionando os recursos mais démodés de uma ilha de edição. A falta de apuro (e de autocrítica) do diretor chega mesmo a ser comovente.


Nem Gravata nem Honra  
Direção: Marcelo Masagão
Produção: Brasil, 2001
Quando: hoje, às 19h25, na Sala UOL; e dia 31, às 13h30, no Cinesesc




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