São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO

Produtores brasileiros avaliam que anúncio de crise do formato é "achismo" e defendem que o gênero veio para ficar

Para especialista, "reality" sofre saturação

DA REDAÇÃO

Especialistas brasileiros em "reality shows" contestam o estudo feito pela consultoria Magna Global nos EUA e dizem que o gênero não está em decadência.
"O "reality show" veio para ficar. Pode haver uma "bolha" nos EUA, mas outras "bolhas" virão, com novos formatos. Lá, as sitcom [comédia de situação] tiveram uma "bolha" nos anos 60 e 70, mas voltaram com tudo nos 90. Isso também pode acontecer com os "realities", que vão sobreviver porque existe interesse genuíno por eles", afirma Rodrigo Carelli, diretor das três primeiras edições de "Casa dos Artistas", no SBT, e que hoje comanda o "Tá na Mão", uma mistura de "game" com "reality", na Band.
"Toda vez que alguém diz que o "reality show" vai acabar, aparece algo novo que explode", diz Carla Affonso, diretora-geral da Endemol Globo, a empresa brasileira formada pela TV Globo e pela Endemol, produtora holandesa criadora de "Big Brother", o "reality show" de maior audiência mundial, já exibido em 23 países.
"Acho tudo isso [as previsões pessimistas] um mero "achismo'", se limita a dizer J.B. de Oliveira, o Boninho, diretor de "Big Brother Brasil", da Globo.
Steve Sternberg, vice-presidente da Magna Global, responsável pelo estudo que aponta que os "realities" passam por uma "bolha" nos EUA, também diz que o gênero não vai acabar, mas apenas rarear, já que estão saturados.
"Os "realities" não estão morrendo, mas eles estão ficando saturados devido a imitações fracas. Os gêneros televisivos tendem a funcionar em ciclos", afirma Sternberg em entrevista à Folha, por e-mail.
"Há poucos anos, havia um bloco de comédia atrás do outro [na TV americana], o que simplesmente serviu para dividir uma audiência limitada e levar mais telespectadores para a TV a cabo. Estamos começando a ver o mesmo fenômeno nos "realities". Ainda existem bons programas no páreo ("Survivor", "O Aprendiz", "American Idol", "Extreme Makeover: Home Edition" e o novo "Troca de Esposas'). Mas, quando começamos a ver mais do que um desses programas ao mesmo tempo, isso prejudica todos esses "realities'", diz.
Sternberg vê como tendência na TV americana a aposta, agora, em seriados. "Com o sucesso atual de algumas novas séries ("CSI: NY", "Lost", "Desperate Housewives'), as TVs abertas, que sempre copiam o modelo que funciona, vão começar a procurar mais séries nos mesmos moldes na próxima temporada. Os "realities" mais fortes vão sobreviver, e os mais fracos, desaparecer."

Aventura
Sternberg prevê pelo menos mais duas temporadas para "American Idol", "reality" musical (espécie de "Fama" melhorado e que faz sucesso) na TV dos EUA. O programa da Fox (exibido aqui no canal pago Sony) foi líder de audiência no início do ano.
O executivo afirma que "O Aprendiz", que caiu da liderança na primeira temporada para a 12ª posição entre os programas mais vistos, agora em sua segunda edição, não é um fracasso.
O maior fenômeno de audiência entre os "realities" nos EUA é "Survivor", que no Brasil foi copiado em "No Limite", da Globo. Nos Estados Unidos, o formato de aventura já está em sua nona edição -no Brasil, não sobreviveu à terceira. Já "Big Brother", grande sucesso no Brasil e na Europa, não tem o mesmo desempenho nos EUA.
"Survivor" faz muito mais sucesso do que "Big Brother" nos EUA, antes de mais nada, porque tem um apelo para uma audiência muito mais ampla, e não apenas para telespectadores mais jovens", afirma Sternberg.

Donas-de-casa
Pelo menos duas das novas séries que estão fazendo sucesso nos Estados Unidos estréiam no Brasil, no Sony, já no início de novembro: "Desperate Housewives" e "CSI: NY". Já "Joey" (19º lugar no ranking dos mais vistos nos EUA) é atração, também em novembro, no Warner Channel.
"Desperate Housewives", a mais bem-sucedida delas até agora, é protagonizada por uma dona-de-casa, Mary Alice Scott (Brenda Strong), que, cansada do dia-a-dia entediante que leva, resolve se suicidar.
Como um "espírito", ela passa a acompanhar a vida de suas amigas e de seus familiares de um ponto de vista inusitado e indiscreto. Uma de suas vítimas é a amiga Susan, uma mãe solteira interpretada por Teri Hatcher, a eterna Lois Lane de "Lois & Clark". "CSI: NY" dá seqüência à franquia "CSI", que já tinha um filhote, "CSI: Miami". Trata-se de uma série de eficientes detetives, que agora solucionam crimes em Nova York.
Já "Joey" é descendente de "Friends", megassucesso encerrado em maio nos EUA. É protagonizada por Matt LeBlanc, o Joey Tribbiani de "Friends". Ele deixa Nova York e vai tentar uma carreira de ator em Hollywood.
Finalmente, "Lost", que não tem previsão de estréia no Brasil, é a nova série do criador de "Alias", J.J. Abrams. Nela, a história gira em torno de sobreviventes de um acidente de avião, que ficam presos em uma ilha deserta tropical. Um dos atores é Matthew Fox, de "O Quinteto" ("Party of Five"). (DANIEL CASTRO E BRUNO YUTAKA SAITO)

Texto Anterior: "Reality" vai ao paredão
Próximo Texto: Espermatozóides entram na corrida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.