São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Criador de "Akira" se lança à era vitoriana

JEAN-FRANÇOIS RAUGER
DO "MONDE"

Após 16 anos da estréia mundial de "Akira" nos cinemas, seu criador, Katsuhiro Otomo, desloca o habitual cenário futurista para uma Inglaterra do século 19, em "Steamboy", exibido hoje, às 15h50, no Cineclube DirecTV (mais exibições amanhã e dia 31).
A animação trata da disputa por uma invenção em plena era vitoriana. "Escolhi esse cenário porque a leitura de Charles Dickens me marcou profundamente", diz.
 

Pergunta - Por que "Steamboy" demorou tanto?
Katsuhiro Otomo -
A preparação e a realização de "Steamboy" custaram muito caro. O filme foi inteiramente feito em digital. Demoramos muito para reunir o dinheiro necessário. Os investidores não compreendiam essa idéia de ancorar a narrativa na Inglaterra do século 19, e não no futuro.

Pergunta - Por que ambientá-lo na Inglaterra vitoriana?
Otomo -
Essa época me interessa porque ela corresponde ao mesmo tempo a um desenvolvimento da ciência e à reflexão sobre ela. Tivemos a impressão de viver momentos semelhantes aos daquela época. Como os homens do século 19, tivemos de inventar ferramentas adaptadas a nossos projetos. E das três gerações de heróis cada uma tem uma relação diferente com a ciência.

Pergunta - O filme exprime um fascínio pela destruição. Por quê?
Otomo -
Adoro criar coisas com muito cuidado e, quando estão prontas, destruí-las. Quando era criança, era apaixonado por modelos em miniatura de objetos. Passava dias montando esses modelos, mas achava que o trabalho só ficava realmente concluído quando os destruía. Não procuro compreender o meu trabalho. É verdade que, em dado momento, o vapor se torna um personagem. Eu quis levar o espectador a mergulhar nessa dimensão abstrata.


Tradução de Clara Allain

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