São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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"QUESTÃO DE IMAGEM"

Agnès Jaoui recria com moralismo retrógrado fábula do patinho feio

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes deste ano, "Questão de Imagem", ao contrário do que o título sugere, é um filme em que a imagem não tem qualquer autonomia em relação ao texto.
Tudo o que se vê na tela é atrelado aos diálogos e à orquestração de dezenas de personagens em torno de uma questão central. No fundo, Agnès Jaoui (diretora, atriz e, ao lado do marido, Jean-Pierre Bacri, co-roteirista), filma (bons) diálogos, em uma versão um pouco mais sofisticada de um bom programa de televisão.
Não faltam, portanto, clichês. Agnès Jaoui simplesmente recria, uma vez mais, a fábula do patinho feio, com uma roupagem contemporânea. Faz isso com simpatia e algum humor, mas flertando perigosamente com um moralismo retrógrado.
A ditadura do corpo na sociedade moderna massacra a auto-estima da protagonista, a jovem gordinha Lolita (Marilou Berri). O talento para o canto, que ela desenvolve com a professora Sylvia (Jaoui), não chega a aliviar sua aflição maior: a indiferença do pai, o escritor egocêntrico Étienne Cassard (Bacri).
Como em "O Gosto dos Outros", longa-metragem anterior da diretora, a trajetória psicológica independente desses três personagens e de outros tantos vai se cruzar, caminhando para o inevitável final catártico.
Seguindo uma estrutura muito parecida, "O Gosto" apresentava seus personagens de maneira um pouco mais original. Aqui, Jaoui se deixou guiar por caminhos ainda mais convencionais, que em nenhum momento são criticados. O tom final do filme, portanto, é um tanto óbvio, "revelando" os valores fúteis de uma sociedade baseada em estereótipos físicos. Nada que já não tenha sido dito.


Questão de Imagem
Comme un Image
  
Direção: Agnès Jaoui
Produção: França, 2004
Com: Marilou Berri, Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri
Quando: hoje, às 22h, no Espaço Unibanco; outras exibições nos dias 31 e 1º/11



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