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VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
Cinco horas com Raul Gil
CONTA-SE QUE o iogue Swami
Maujgiri Maharaj passou 17 anos
em pé, entre 1955 e 1973, escorando-se numa tábua apenas para dormir.
Mais ou menos nessa época, o faquir Mastram Bapu plantou-se num
lugar, sentado, à beira de uma estrada no vilarejo de Chitra (Índia),
por mais de duas décadas.
Em busca de iluminação existencial e de uma compreensão superior
do mundo, propus-me a assistir, na
íntegra, o "Programa Raul Gil" do
penúltimo sábado (SBT, sáb., 14h15
às 19h15, classificação livre).
O programa, com a duração de
cinco horas, foi inteiramente dedicado às crianças. Tanto os calouros
quanto os jurados eram café com
leite: segundo apuração interna, a
média de idade era de 8,3 anos.
Bloco após bloco, hora após hora,
o espectador acompanhou a performance de crianças excessivamente
artísticas, daquelas que dizem "eu
sou criança", que sorriem para as
câmeras e estão sempre na moda.
Entre elas, a assistente de palco
Yasmin, que faz sucesso ao repetir
errado as falas de Raul Gil -levando o apresentador a usar palavras
difíceis de propósito.
A única exceção era Guilherme,
um moleque tranquilo que tocava
cavaquinho e teve que responder
para Yasmin que não, não era casado. Ele não dançou, não fez micagens e não tentou ser espirituoso, limitando-se a tocar seu instrumento.
Deu de ombros quando uma das
juradas elogiou seu figurino. "A
apresentação dele foi ex-ce-len-te",
ressaltou a loirinha de sete anos,
qualificando-o de impecável.
Sua presença, porém, foi logo
substituída pela de um papagaio gigante, um cachorro azul, centenas
de balões e um minicover do Elvis.
Uma cantora gospel entrou para gritar os versos: "Como Zaqueu, quero
subir o mais alto que eu puder".
A certa altura, dezenas de artistas felizes ocupavam o palco, pulando, cantando e sacudindo os braços, como se não houvesse tristeza
alguma no mundo.
De sua parte, Raul Gil parecia
cansado e impaciente, repetindo as
mesmas palavras para os calouros
mirins: "potencial", "sucesso" e "talento" foram as mais usadas e a expressão "todos são vencedores"
apareceu umas boas dez vezes.
"Depois de passarem oito meses
conosco [na competição], o máximo
que a gente pode fazer por vocês é
prestar essa homenagem", ele diz,
num ato falho. O calouro agradece.
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