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"AMIGAS DE COLÉGIO"
Filme sueco expõe homossexualidade e abre feridas culturais
especial para a Folha
Esqueça o título de novela das
seis, "Amigas de Colégio", que a
distribuidora brasileira tascou no
filme de estréia do sueco Lukas
Moodysson, 30. O nome original
é "Fucking Amal" (algo como
"Estrepando com Amal"), sendo
que o nominativo não se refere a
nenhum dos teens focalizados no
filme, mas a uma pequena cidade
no interior da Suécia, tão aborrecida para adolescentes quanto
qualquer cidade média do interior no sul/sudeste brasileiro.
A partir do título original e
acompanhando-se a trama do filme, entende-se, afinal, que a pacata Amal não se escandaliza com
abuso de álcool e drogas por adolescentes, por festinhas de orgia
ou pela ciranda do "ficar" ora
com um, ora com outro garoto. A
verdadeira revolução de costumes (até mesmo na liberadíssima
Suécia de hoje) é assumir, quando
a tendência é mais do que uma latência, uma sexualidade "alternativa", lésbica no caso.
Para as duas garotas protagonistas do filme, essa acaba sendo,
no fim das contas, a maneira mais
saudável de crescer, aparecer e
afirmar identidades -um passinho além daquelas fabricadas pela esteira de produção de novas
consciências, na "nova" Europa.
Na verdade, "Amal" escandaliza sobretudo pela sinceridade,
muito próxima da do cinema
Dogma (dinamarquês), parentesco acentuado em técnica (câmera
ágil, granulação, imperfeições) e
narrativa (sem artifícios). Essa foi
provavelmente a razão de ter estourado nas bilheterias escandinavas em 98, e do seu romance
singelo fazer tanto barulho nos
festivais GLS de que participou,
inclusive o de São Paulo 99 (Mix
Brasil), onde foi escolhido pelo
público, como melhor filme.
Diferentemente dos franceses
que aderiram à estética Dogma,
os nórdicos administram exemplarmente economias de linguagem, herança talvez do sistema
religioso calvinista. À parte essa
limpeza, o diretor tem dois trunfos exuberantes: as atrizes Rebecca Liljeberg, 18 (Agnes, a garota
evitada na escola por suas tendências sexuais) e Alexandra Dahlström, 15 (Elin, a gata do lugar).
A história de Agnes lembra, ainda, um romance naturalista sueco
transposto para a tela 47 anos
atrás por Ingmar Bergman: "Mônica e o Desejo". Nesse livro/filme, a jovem do título assume as
consequências de uma fuga com
o namorado, para uma ilha deserta. É uma referência no mínimo
substancial.
(AM)
Avaliação:
Filme: Amigas de Colégio (Fucking
Amal)
Diretor: Lukas Moodysson
Produção: Suécia, 1998
Com: Alexandra Dahlström e Rebecca
Liljeberg
Quando: estréia amanhã no Espaço
Unibanco 2, Lumière 1 e Pátio
Higienópolis 4
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