São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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"AMIGAS DE COLÉGIO"

Filme sueco expõe homossexualidade e abre feridas culturais

especial para a Folha

Esqueça o título de novela das seis, "Amigas de Colégio", que a distribuidora brasileira tascou no filme de estréia do sueco Lukas Moodysson, 30. O nome original é "Fucking Amal" (algo como "Estrepando com Amal"), sendo que o nominativo não se refere a nenhum dos teens focalizados no filme, mas a uma pequena cidade no interior da Suécia, tão aborrecida para adolescentes quanto qualquer cidade média do interior no sul/sudeste brasileiro.
A partir do título original e acompanhando-se a trama do filme, entende-se, afinal, que a pacata Amal não se escandaliza com abuso de álcool e drogas por adolescentes, por festinhas de orgia ou pela ciranda do "ficar" ora com um, ora com outro garoto. A verdadeira revolução de costumes (até mesmo na liberadíssima Suécia de hoje) é assumir, quando a tendência é mais do que uma latência, uma sexualidade "alternativa", lésbica no caso.
Para as duas garotas protagonistas do filme, essa acaba sendo, no fim das contas, a maneira mais saudável de crescer, aparecer e afirmar identidades -um passinho além daquelas fabricadas pela esteira de produção de novas consciências, na "nova" Europa.
Na verdade, "Amal" escandaliza sobretudo pela sinceridade, muito próxima da do cinema Dogma (dinamarquês), parentesco acentuado em técnica (câmera ágil, granulação, imperfeições) e narrativa (sem artifícios). Essa foi provavelmente a razão de ter estourado nas bilheterias escandinavas em 98, e do seu romance singelo fazer tanto barulho nos festivais GLS de que participou, inclusive o de São Paulo 99 (Mix Brasil), onde foi escolhido pelo público, como melhor filme.
Diferentemente dos franceses que aderiram à estética Dogma, os nórdicos administram exemplarmente economias de linguagem, herança talvez do sistema religioso calvinista. À parte essa limpeza, o diretor tem dois trunfos exuberantes: as atrizes Rebecca Liljeberg, 18 (Agnes, a garota evitada na escola por suas tendências sexuais) e Alexandra Dahlström, 15 (Elin, a gata do lugar).
A história de Agnes lembra, ainda, um romance naturalista sueco transposto para a tela 47 anos atrás por Ingmar Bergman: "Mônica e o Desejo". Nesse livro/filme, a jovem do título assume as consequências de uma fuga com o namorado, para uma ilha deserta. É uma referência no mínimo substancial. (AM)


Avaliação:    


Filme: Amigas de Colégio (Fucking Amal)
Diretor: Lukas Moodysson
Produção: Suécia, 1998
Com: Alexandra Dahlström e Rebecca Liljeberg
Quando: estréia amanhã no Espaço Unibanco 2, Lumière 1 e Pátio Higienópolis 4




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