THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

"Eu sou uma cidadã britânica. Como tal, jamais recusaria cantar um tema de James Bond."
A frase de Shirley Manson, vocalista da banda Garbage, mostra duas coisas: que os britânicos adoram mesmo o agente 007 e que ser escalado para interpretar a música de abertura de um de seus filmes ainda é um galardão no mundo pop.
No caso do Garbage, uma das grandes bandas surgidas nesta década, o grupo nem fez questão de manter seu estilo. "The World Is Not Enough", a canção, não tem nada do rock tecno-grunge do Garbage. É uma música romântica, derramada, com a vocalista da banda prestando homenagem ao estilão de sua famosa xará Shirley Bassey.
E tudo começou mesmo com a diva. Até "Goldfinger" (64), ninguém dava a mínima para as canções dos filmes de Bond. Ou será que alguém se lembra de Matt Munro cantando "From Russia With Love", no ano anterior?
Mas "Goldfinger" foi um sucesso estrondoso, um clássico no repertório de Bassey. Em seguida, a série de 007 emendou mais dois ícones do pop chique dos anos 60: Tom Jones, cantando "Thunderball" (65), e Nancy Sinatra, com "You Only Live Twice" (67).
Depois de alguns anos de cafonice explícita nas canções, a estréia de Roger Moore como 007, em 1973, merecia pompa. A escolha da música não poderia ser mais grandiosa. Paul McCartney emplacou seu maior sucesso mundial pós-Beatles com "Live and Let Die". Mudanças de andamento marcadas com riffs explosivos e algumas frases musicais que grudam no ouvido fazem da música de McCartney o maior hit entre os temas de 007.
Como Moore compôs um Bond mais romântico do que o de Sean Connery, isso ficou refletido nos temas do herói. Alguns resultados foram péssimos, como a própria Shirley Bassey voltando em 1979 com "Moonraker", musiquinha mais do que detestável.
Mas houve grandes acertos, como a consagrada Carly Simon em "Nobody Does It Better" (77), tema de "007 - O Espião que me Amava", e a então novata Sheena Easton com a belíssima canção "For Your Eyes Only" (81), de "007 - Somente para seus Olhos".
Os anos 80 foram marcados pelas bandas de rock e pela "maldição de 007". Quem foi escolhido para criar o tema teve a carreira em queda livre -como o Duran Duran, que deu uma sumida depois de "A View to a Kill" (85), e o A-Ha, que foi literalmente varrido do mundo pop depois de gravar a insossa "Living Daylights" (87).
Na fase Pierce Brosnan, nomes de sucesso do pop voltaram às "Bond songs". Em "GoldenEye" (95), Bono e The Edge, da megabanda U2, brincaram com sons eletrônicos no tema. No filme seguinte, "007 - O Amanhã Nunca Morre" (97), Sheryl Crow mostrou com "Tomorrow Never Dies" que os milhões de discos vendidos não a tornam algo mais do que uma cantora afetada.
Depois do Garbage, já se fala em Beck ou Beastie Boys para o próximo filme. Boas opções.



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