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MÚSICA
Em seu primeiro álbum, o brasiliense Nego Moçambique mistura elementos de dança de rua com a house music
O "escotismo" do break chega à eletrônica
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Das ruas para os clubes. Nego
Moçambique (ou Marcelo Augusto de Jesus Martins) lança neste final de ano seu primeiro disco
e -nada sem querer- carrega o
break para as pistas de dança.
Nas lojas, "Nego Moçambique",
o álbum, provavelmente estará na
prateleira reservada aos CDs de
house, mas seu espírito está com
aqueles dançarinos de praças urbanas como o largo São Bento, no
centro de São Paulo. A música eletrônica, segundo o DJ e produtor,
ainda é "elitista".
"Eu sempre fui apaixonado pela
break dance. Muitos garotos não
se preocupavam com o hedonismo da dance music, aquilo tinha
uma aplicação mais prática mesmo. O break é uma espécie de escotismo, mas sem que esses garotos precisem de alguém lhes dizendo o que fazer", diz o brasiliense Nego Moçambique, 30.
O disco vem inteiro carregado
com essa inspiração das ruas, como atesta a faixa "Gil para B-Boys", que traz um sample de
"Palco", aquela do ministro da
Cultura. "Essa música era só uma
brincadeira com um refrão. Fiz
para tocar na rua. Esperava que o
pessoal do break gostasse." Não
apenas o pessoal do break gostou
-a faixa foi incluída numa compilação do programa "Amp", da
MTV. Uma outra canção, "Um
Jardim no Plexo Solar", foi a trilha
de um comercial da Coca-Cola
veiculado na São Paulo Fashion
Week. Nada mau para quem veio
a São Paulo no começo do ano
tentar "arrumar algum dinheiro"
tocando em festas.
Filho de criação de um casal de
professores, Nego Moçambique
estudou artes na UnB (Universidade de Brasília) e começou a
produzir música há seis anos.
Após se apresentar em clubes brasilienses, o pouco espaço que a
eletrônica ocupa na capital federal
o empurrou a São Paulo.
Habilidoso e dono de apresentações contagiantes, Nego Moçambique começou a ser notado
após ser escalado para tocar nas
festas do núcleo paulista Colors.
Ele diz "não entender nada" de
eletrônica. "Não sei nada do que
está acontecendo, das novidades.
Não escuto nada do que vem de
fora, só se alguém botar para tocar. Em casa, prefiro ficar em silêncio", diz. "Digo, a minha escola
de produção foi a house americana, e como eu comecei tocando
em clubes, então tinha que ter repertório house, mas estou um
pouco enjoado. Hoje ouço funk,
soul, música africana e trilha de
filmes de break."
Nego Moçambique prega o fim
da excelência rítmica e da "ditadura da perfeição" que cercam a
eletrônica. "Incomoda o formato
sempre bem mixado da house.
Antigamente a eletrônica tinha
um lado experimental fortíssimo.
Isso está morrendo. Os DJs chegam com seus discos ótimos, todo
mundo toca o esperado, bem mixado. Nada pode dar errado. E isso, ao mesmo tempo que fez a eletrônica ascender, é o que pode
acabar com ela."
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