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São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

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MÚSICA

Em seu primeiro álbum, o brasiliense Nego Moçambique mistura elementos de dança de rua com a house music

O "escotismo" do break chega à eletrônica

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Das ruas para os clubes. Nego Moçambique (ou Marcelo Augusto de Jesus Martins) lança neste final de ano seu primeiro disco e -nada sem querer- carrega o break para as pistas de dança.
Nas lojas, "Nego Moçambique", o álbum, provavelmente estará na prateleira reservada aos CDs de house, mas seu espírito está com aqueles dançarinos de praças urbanas como o largo São Bento, no centro de São Paulo. A música eletrônica, segundo o DJ e produtor, ainda é "elitista".
"Eu sempre fui apaixonado pela break dance. Muitos garotos não se preocupavam com o hedonismo da dance music, aquilo tinha uma aplicação mais prática mesmo. O break é uma espécie de escotismo, mas sem que esses garotos precisem de alguém lhes dizendo o que fazer", diz o brasiliense Nego Moçambique, 30.
O disco vem inteiro carregado com essa inspiração das ruas, como atesta a faixa "Gil para B-Boys", que traz um sample de "Palco", aquela do ministro da Cultura. "Essa música era só uma brincadeira com um refrão. Fiz para tocar na rua. Esperava que o pessoal do break gostasse." Não apenas o pessoal do break gostou -a faixa foi incluída numa compilação do programa "Amp", da MTV. Uma outra canção, "Um Jardim no Plexo Solar", foi a trilha de um comercial da Coca-Cola veiculado na São Paulo Fashion Week. Nada mau para quem veio a São Paulo no começo do ano tentar "arrumar algum dinheiro" tocando em festas.
Filho de criação de um casal de professores, Nego Moçambique estudou artes na UnB (Universidade de Brasília) e começou a produzir música há seis anos. Após se apresentar em clubes brasilienses, o pouco espaço que a eletrônica ocupa na capital federal o empurrou a São Paulo.
Habilidoso e dono de apresentações contagiantes, Nego Moçambique começou a ser notado após ser escalado para tocar nas festas do núcleo paulista Colors. Ele diz "não entender nada" de eletrônica. "Não sei nada do que está acontecendo, das novidades. Não escuto nada do que vem de fora, só se alguém botar para tocar. Em casa, prefiro ficar em silêncio", diz. "Digo, a minha escola de produção foi a house americana, e como eu comecei tocando em clubes, então tinha que ter repertório house, mas estou um pouco enjoado. Hoje ouço funk, soul, música africana e trilha de filmes de break."
Nego Moçambique prega o fim da excelência rítmica e da "ditadura da perfeição" que cercam a eletrônica. "Incomoda o formato sempre bem mixado da house. Antigamente a eletrônica tinha um lado experimental fortíssimo. Isso está morrendo. Os DJs chegam com seus discos ótimos, todo mundo toca o esperado, bem mixado. Nada pode dar errado. E isso, ao mesmo tempo que fez a eletrônica ascender, é o que pode acabar com ela."

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