São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2002 |
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ERIKA PALOMINO Casa de criadores põe novos nomes na roda
A 11ª edição da Casa de Criadores aconteceu em São Paulo durante esta semana em São Paulo,
mostrando a coleção de 13 estilistas na mostra principal e seis marcas no projeto LAB, de cunho
mais experimental. Houve mais
acertos, em relação à sua última
versão. Para começar, a volta a
um galpão, tipo de espaço que
consegue preservar e garantir
mais as características de seus estilistas. Leia a cobertura completa da Casa de Criadores no site www.erikapalomino.com.br LORENZO MERLINO Lorenzo Merlino fez um dos melhores desfiles do evento e um dos mais coesos. Pena que a invencionice de desfilar fora da luz impediu que se visse a contento elementos importantes. Merlino mostra bom domínio de proporções e volumes, no jogo geométrico apoiado nos botões, que sustentam e acoplam faixas às roupas e customizam bem os sapatinhos retrô. A inspiração são as salas de estar do final dos anos 70, trazendo couro marrom e veludo roxo, lidos sob perfume do estilo do modernismo fashion francês. São ótimas as camisetas desdobradas em túnicas, manchadas de chá, usadas também com a calça reta, sequinha. Seguras de sua sexualidade, suas mulheres aviadoras vêm de microssaias e microvestidos-camisas. Lembram o estranhamento e o distanciamento das figuras femininas de Cindy Sherman e até Vanessa Beecroft. MARIA x MADALENA Estreante no evento, a Maria x Madalena (o nome é irritante) começa com o pé direito. O look surpreende, brincando de apache street, com sobreposições e volumes em cores como o vermelho e o roxo, o creme e o verde. As formas são contemporâneas e supercool, como na calça branca com túnica de fitas; no conjunto de jaqueta e calça rock, em verde-pistache, em Gabrielle Furlan e nas calças urbanas amarradas, em silhueta sempre certinha. Algumas imagens são deliciosas, mas a melhor de todas é mesmo o look com picotes e pluminhas em verde, branco e vermelho. O casaco inacabado de veludo marrom já é um tem-que-ter. A Maria x Madalena é sociedade entre o estilista Guilherme Mata, ex-Forum, e Lucimara de Oliveira, ex-Reinaldo Lourenço, no marketing. GISELE NASSER Ao som de Sigur Rós, a estilista desfilou coleção em sintonia com o romantismo hippie-folk e com o estilo Biba, tendências fortes do momento, em silhuetas que remetiam a recentes hits do Planeta Fashion. O desfile fica naquela categoria dos "lindos", com atmosfera etérea e impecável trabalho de cores. Romântico, suave e contemporâneo, o inverno de Giselle Nasser mostra uma estilista pronta para o mercado. Ela não começou a comercializar ainda: se eu fosse dona de uma multimarca, não perdia tempo. Artesanal e natural, sua roupa é o que querem as mulheres agora. QUEM ENTRA NA SP FASHION WEEK: Caio Gobbi, Lorenzo Merlino, Pôko Pano, V-Rom, Vide Bula e Jorge Kauffman, mais quatro nomes a confirmar. KARLLA GIROTTO Também está pronta e deve subir para o elenco A na próxima estação. Karlla Girotto é de um tipo de estilista que exorciza, na passarela, seus fantasmas e inquietudes, e nós, da platéia, temos a oportunidade de compartilhar isso. Karlla é uma artista. Na passarela, uma imagem de mulher glacial se opunha à de uma mulher magma, e essa dualidade de luz e sombra aparece em pares na passarela, em cores antagônicas -branco, marfim, azul-céu, menta, chumbo, preto-, em bordados inteligentes feitos a mão pela estilista, em frente ao espelho. A imagem é incrível, num imbricado patchwork de plissados, tramas de lã e trecê, um maluco rebanho fashion que tem seu clímax na criatura final, um andrógino fauno de três pernas inspirado no performático Matthew Barney. Golas, casacas, calças masculinas são as armas, e o cachecol grosso de fio torcido é um primor. Excelente. EDUARDO INAGAKI Novíssimo estilista do núcleo avant-garde da moda em SP, ele desdobra a geometria numa coleção supermegateen, que tem na imagem de Pedro Falcão de macacão-coeiro rosa seu emblema. O desfile é uma delícia, nessa tendência de infantilismos que serve como oposição a tempos sombrios (pense em Bernard Willhelm). Proporções grandes, cores fofas (azul, rosa, branco, amarelo), muita lã na saia de menina e na jaqueta feminina, linda em azul, blusê. As formas amplas funcionam. É nome para prestar atenção. NO ÚLTIMO DIA... Jum Nakao se recupera e mostra coleção all-black, com argolas de esportes radicais, exercitando-se nas formas. Mas é Marcelo Quadros quem mostra mais progressos, com um megamix ultrafashion e sempre chic das mulheres que ele ama: ladies, vamps, bitches, disco divas, cabaret e socialites, ao som da melhor house gay. Agora sim: proporções corretas, humor e ironia, com uma roupa bem costurada e (ufa!) de bom gosto. Sapatos lindos. Numa passarela de balões vermelhos, a V-Rom sai do gueto (viva!) e faz roupa para gente grande. Não é mais roupa só para a clubland, e tem até terninho. A bermuda estreita (e não street) é o melhor da coleção, junto com as estampas de bichos. Jeziel Moraes volta mais esperto, superbem. Faz uma silhueta mais descolada e comercial, que ainda assim preserva sua identidade. O jeans é uma delícia, no índigo ou no white, manchado de ferrugem, com atracadores em lugar de zíperes, fruto da paixão do estilista pelo S&M. Brinca de caubói (os cintos são hit) e de iconografia rebelde, com estampas de Elvis. Texto Anterior: "Terra de Ninguém": Como é tragicômica a humanidade... Próximo Texto: Inverno 2002: Herchcovitch faz sua estréia na Cori Índice |
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