As relações entre homens na visão de dois diretores estreantes chegam às locadoras em filmes independentes americanos

MARIANE MORISAWA
da Redação

Chad (Aaron Eckhart) e Howard (Matt Malloy) estão sentados na sala de espera de um aeroporto. Howard reclama de dores na orelha. Acaba de ser golpeado por uma mulher após simplesmente ter-lhe perguntado a hora.
Os dois são amigos, executivos bem-sucedidos encaminhados por seis semanas a uma sucursal da firma onde trabalham.
Ambos foram abandonados por suas respectivas namoradas. Chad pergunta: "O que querem, afinal, as mulheres?". É então que ele propõe a Howard um pacto: "Restaurar a dignidade". Para isso, resolvem "sacanear alguém". No caso, uma mulher. Mais: uma mulher fragilizada, que há muito não estabelece um relacionamento.
Encontram a vítima perfeita em Christine (Stacy Edwards), uma secretária bela e surda. O plano: abordá-la, tratá-la com gestos gentis e românticos -ou seja, os básicos flores e jantar- e enchê-la de galanteios. Depois, abandoná-la. Detalhe: os dois ao mesmo tempo, de modo que ela tenha não uma, mas duas opções e decepções.
O filme foi acusado de misógino por críticos e espectadores, despertando polêmica. O diretor, o então estreante Neil LaBute, nega. Concede que a premissa é machista, mas acredita que se trata mais da competição de dois homens entre si do que propriamente uma vingança contra as mulheres. E ele tem razão.
No entanto, é impossível deixar de lado o fato de o filme retratar o homem pós-conquistas femininas, ainda perdido entre a velha situação de domínio e a nova, de um certo equilíbrio de forças entre os dois sexos. E o machismo ainda se encaixa nesse perfil.
Mas, ao mostrar seres tão desprezíveis -o aparentemente inofensivo Howard chega a ser ainda pior que o bonitão Chad-, o filme também acaba despertando aversão a esse tipo de homem.
Mesmo porque não chega a vitimar Christine. Ela se coloca mais forte do que pode aparentar. Por exemplo, sem saber que Chad e Howard se conhecem, adia até o último momento a revelação a um de que também está saindo com o outro, tendo, de verdade, duas opções. E despreza o "bonzinho" Howard pelo belo e ousado Chad.
"Na Companhia de Homens", concorde-se ou não com seu ponto de vista, oferece artigo raro no cinema de hoje em dia: provoca e faz pensar. Resta esperar ansiosamente para que o segundo filme de LaBute, "Your Friends and Neighbors", também estrelado por Eckhart, chegue logo ao país.