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Produção brinca com "ideal de perfeição" dos EUA, diz Spacey
LUCIANO VIANNA
especial para a Folha em Londres
Indicado para o Oscar de melhor ator por sua interpretação de
Lester Burnham, Kevin Spacey,
que já ganhou o Oscar de melhor
ator coadjuvante em 1996 por seu
papel no filme "Os Suspeitos",
conversou com a Folha, após a
estréia européia do filme, em
Londres. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - Você já tinha tido vivido em algum subúrbio como o
retratado em "Beleza Americana"? Como isso influenciou a
construção do seu personagem?
Kevin Spacey - Eu fui criado em
diversos subúrbios de Los Angeles, mas minhas experiências sobre o casamento foram bem diferentes da de Lester. Meus pais foram casados por 44 anos e eram
extraordinariamente felizes. Eu
não tinha uma visão tão desordenada da vida como ele, mas eureconheço algumas coisas.
Folha - Como foi trabalhar
com um diretor iniciante no cinema, como Sam Mendes?
Spacey - Foi excelente. Eu tenho uma sorte muito grande com
diretores iniciantes. A grande
maioria de scripts que chegam
para mim de iniciantes é bem
mais original e inventiva do que
os de diretores já consagrados. No
primeiro filme, todo diretor gosta
de tentar coisas novas, quebrar as
regras, e para um artista isso é excelente, porque dá mais liberdade
para trabalhar o seu personagem.
Quando nos encontramos pela
primeira vez para discutir o
script, soubemos que teríamos de
trabalhar juntos. Nossas interpretações eram iguais e nos identificamos bastante um com o outro.
Folha - Na sua opinião, o que
"Beleza Americana" significa?
Spacey - É um nome prático para o filme, porque dá margem a
várias explicações. Muita gente
não sabe, mas existe uma rosa
com esse nome nos EUA. Outra
explicação é que o nome dentro
do contexto do filme brinca um
pouco com esse sonho de perfeição dos americanos, de achar que
tudo é belo no dia-a-dia.
Folha - Onde você acha a beleza no dia-a-dia?
Spacey - Eu não consigo achar
beleza permanentemente no meu
dia-a-dia. Há momentos bonitos
e outros não.
Eu acho beleza em ficar olhando
o meu cachorro por horas brincando no jardim. Acho que não
importa o que você faça na sua vida, mas o importante é você tentar ver a beleza que existe nas pequenas coisas.
Em "Beleza Americana", todos
os personagens acham que conhecem uns aos outros, mas estão
enganados. Ninguém é aquilo que
parece.
Folha - Você acha que esse filme é um retrato dos anos 90
nos Estados Unidos?
Spacey - Não, eu acho que o filme é o retrato de duas famílias
que, por acaso, moram nos EUA.
Acho que, se essas famílias vivessem em Berlim, Londres ou Paris,
as emoções e os relacionamentos
que cada um dos personagens
tem com sua respectiva família e
com eles mesmos seria igual.
Não é exatamente uma visão do
american way of life e, sim, de todos nós, de como estamos cada
vez mais interiormente fechados e
de como não nos comunicamos
com os que estão ao nosso lado.
Folha - O filme mostra um
mundo de mentiras.
Spacey - Para mim, ele mostra
como é fácil a gente viver ao lado
de alguém e não conhecê-lo de
verdade. Como é fácil você fazer
uma imagem de alguém e seguir
essa imagem por anos e anos, sem
parecer notar que as pessoas crescem, mudam e que isso é normal.
O filme não traz nenhuma resposta, mas tenta examinar o que
acontece no interior da vida das
pessoas, das famílias atualmente.
Folha - Em algum momento
você sentiu alguma pressão por
estar fazendo um filme com um
estreante para um grande estúdio como o DreamWorks?
Spacey - Eu adorei que um
grande estúdio tenha dado o seu
aval para o filme, porque isso cria
um exemplo para que os outros o
sigam. Não há como negar que se
trata de um filme inusitado para
um grande estúdio, mas, durante
toda a filmagem, nunca houve
pressões para tornar o filme mais
comercial ou coisas do tipo.
Folha - Como você escolhe os
seus papéis?
Spacey - Quando eu fiquei conhecido, em 95, foi por causa de
três filmes que apareceram num
intervalo de seis meses. Em todos
eles eu fazia personagens frios, assustadores, e isso começou a influir muito na visão que as pessoas passaram a ter de mim. Nem
parecia que eu já tinha trabalhado
17 anos no teatro e cinema, onde
interpretei papéis muito mais parecidos com o Lester.
É da natureza humana você
achar que uma pessoa é do jeito
que você a viu pela primeira vez.
Então, para muita gente, eu só ia
me dar bem fazendo papéis de
bandidos psicopatas ou assassinos calculistas.
Chegou uma fase em que eu resolvi mudar isso, não queria só fazer papéis de pessoas más pelos
próximos dez anos. Então comecei um processo para me mover
em outra direção, fazer personagens mais ambíguos e, hoje em
dia, acho que já sou reconhecido
como um ator que pode fazer diversos tipos de personagens.
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