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OFICINA EM LIVRO
Ode à casa do "Te-Ato"
FRANCESCA ANGIOLILLO
da Redação
Existe em São Paulo, nos baixos
de um viaduto, um espaço destinado a celebrações pouco ortodoxas. O viaduto é o Minhocão, cicatriz indelével; o espaço de que falamos, de proporções bem menores e, infelizmente, menos marcante no contexto urbano do que
seu vizinho, é o teatro Oficina.
As idéias que deram forma ao
palco de José Celso Martinez Corrêa estão em um livrinho, "Teatro
Oficina", lançamento conjunto
do começo do ano da editora portuguesa Blau e do Instituto Lina
Bo e P.M. Bardi.
Lina -autora de outra referência na paisagem paulistana, o
Masp- concebeu, entre 80 e 84, a
reconstrução do teatro, destruído
por um incêndio em 66.
O livro tem, por assim dizer,
duas partes. A primeira, mais
"terrena", é uma apresentação feita pelo arquiteto Edson Elito
-que tocou a reconstrução com
Lina-, que vem logo após uma
brevíssima introdução da arquiteta, mas que basta para que Lina
nos lembre a que veio o projeto:
dar forma à "verdadeira significação do teatro- sua estrutura Física e Táctil, sua Não-Abstração-
que o diferencia do cinema e da
tevê, permitindo ao mesmo tempo o uso total desses meios".
E que teatro seria mais físico e
"promíscuo" em sua relação com
o espectador do que o Oficina,
com sua rua, seus bancos quase
na cena, "espelhando-se como
duas fatias de pão de um sanduíche"? O "terreiro eletrônico", como diz Zé Celso, seu babalaô.
Elito, em seu texto, explica como se deu forma ao conceito. Como a rua central que é o palco do
Oficina tornou-se mais rua do
que a rua embaixo do viaduto.
Como os quatro elementos da natureza estão representados no
projeto. Como a memória do teatro que existia ali permanece no
que se preservou das paredes.
Aqui e ali, os primeiros desenhos, fotos da obra, alguns detalhes do projeto. Mas este não é um
livro para estudar a arquitetura, se
bem que ela seja tocante. Ele é como se fosse uma homenagem a
esse teatro que é um "bunker",
como o livro mesmo diz. O porão
da resistência do Uzyna Uzona,
da dramaturgia de Zé Celso, da
crença de seu grupo.
É aí que chegamos à segunda
parte. Entra em cena Zé Celso.
O texto, bem, é dele. Quem o conhece já espera a ortografia, acentuação e a divisão silábica próprias, o tom poético e verborrágico, pelo qual nomes comuns viram próprios, as maiúsculas tornando palavras personagens.
O autor vai misturando sua história pessoal à do espaço -elas
são indissociáveis-, a partir de
sua ligação geográfica na infância
(ali na região morava seu avô).
Os fatos vêm recheados à maneira de Zé Celso. Que maneira?
Chamar o Minhocão de "Muro de
Berlim", por exemplo.
Conta episódios como o do dinheiro de Maluf que Juruna rejeitou e que ele, Zé, então aceitou na
TV. E mais: sacramentou a "doação" com leitura de um trecho de
"As Bacantes", com o próprio
Maluf. "Leu bem, é um ator."
E assim vai, costurando sua vida
à do país e à do Oficina, conto no
qual "as personagens... têm uma
história de luta por um teatro
concreto" e o lugar "é uma metáfora arquitetônica e urbana de
uma postura diante do Teatro".
Lugar que renasceu de um tombamento, em 81, com parecer do
arquiteto e cenógrafo Flávio Império, o qual justificava a ação
"não pela importância histórica
do imóvel", então descaracterizado e pedindo reforma, mas "pelo
seu uso como palco das transformações do teatro brasileiro". Que
elas continuem. Evoé!
Avaliação:
Livro: Teatro Oficina
Autores: Lina Bo Bardi, Edson Elito, José
Celso Martinez Corrêa
Editora: Blau e Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi (0/xx/11/3744-9902)
Quanto: R$ 10 (bilíngue, sem
numeração de págs.)
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