|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Falta prêmio para
efeitos especiais
JOÃO MARCELLO BÔSCOLI
especial para a Folha
Ricky Martin, Britney Spears,
Backstreet Boys, Christina Aguilera, Lou Bega, N'Sync, Jennifer
Lopez. Deveriam instituir um
Grammy de efeitos especiais, ou
talvez devessem criar uma categoria que premiasse os intelectuais
de marketing das grandes gravadoras, aqueles seres humanos
sensíveis que acham normal chamar artistas de produto.
E ainda costumam explicar:
"Veja bem, o artista é um produto
como um outro qualquer...". E eu
que achava que artista era tudo,
menos um outro produto qualquer.
Esse golpe do "teen idol" é velho, teve seu momento mais evidente nos anos 70 com Família
Dó-Re-Mi, Lief Garret, Peter
Frampton e tal, mas diante do que
se vê hoje isso vira brincadeira de
criança.
Para os latinos, o prejuízo é nítido: passaram a vida sonhando
com a conquista do mercado
americano e, quando chegaram
lá, o fizeram pelas mãos de Emilio
Estefan, à diferença dos afro-americanos, que, quando chegaram
ao topo do mercado, o fizeram
com o maestro Quincy Jones e o
intoxicante Michael Jackson.
Como soldados que atiram para
dentro do forte, essa geração de
tubarões executivos latinos parece querer confinar seu povo e sua
obra na prateleira de produtos de
segunda categoria no supermercado da música popular. Não fossem o Santana velho de guerra e o
Buena Vista Social Club, a situação seria um vexame total.
Por essas e outras a música eletrônica, o hip hop e a música brasileira continuam sendo as grandes fontes de música interessante
no planeta. Apesar de o hip hop
ser hoje mainstream e já ter seus
delitos publicitários, na maioria
das vezes é inflamável e verdadeiro por ter sua produção pulverizada em centenas de pequenas
gravadoras, garantindo independência editorial quase absoluta.
A música brasileira, com a vitória de Caetano Veloso, segue com
sua imagem de riqueza, apesar de
nossos executivos tentarem destruir isso todos os dias em troca
de um bônus vagabundo e de
uma possibilidade de ficar tomando broncas em inglês em Nova York ou Miami.
Finalmente, temos a música eletrônica, correndo na paralela e no
mínimo dois anos na frente do
resto -também no Brasil. É óbvio que não me refiro ao Brasil das
paradas de sucesso, dopado de lixo; falo do som que já foi e do que
virá, pois o atual... só chorando.
João Marcello Bôscoli é músico, produtor e
diretor da gravadora Trama.
Texto Anterior: Produtor do ano é brasileiro Próximo Texto: Cinema - Estréias: "Verão de Sam" foi o da paranóia na NY de 77 Índice
|