São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000


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ANÁLISE
Falta prêmio para efeitos especiais

JOÃO MARCELLO BÔSCOLI
especial para a Folha

Ricky Martin, Britney Spears, Backstreet Boys, Christina Aguilera, Lou Bega, N'Sync, Jennifer Lopez. Deveriam instituir um Grammy de efeitos especiais, ou talvez devessem criar uma categoria que premiasse os intelectuais de marketing das grandes gravadoras, aqueles seres humanos sensíveis que acham normal chamar artistas de produto.
E ainda costumam explicar: "Veja bem, o artista é um produto como um outro qualquer...". E eu que achava que artista era tudo, menos um outro produto qualquer.
Esse golpe do "teen idol" é velho, teve seu momento mais evidente nos anos 70 com Família Dó-Re-Mi, Lief Garret, Peter Frampton e tal, mas diante do que se vê hoje isso vira brincadeira de criança.
Para os latinos, o prejuízo é nítido: passaram a vida sonhando com a conquista do mercado americano e, quando chegaram lá, o fizeram pelas mãos de Emilio Estefan, à diferença dos afro-americanos, que, quando chegaram ao topo do mercado, o fizeram com o maestro Quincy Jones e o intoxicante Michael Jackson.
Como soldados que atiram para dentro do forte, essa geração de tubarões executivos latinos parece querer confinar seu povo e sua obra na prateleira de produtos de segunda categoria no supermercado da música popular. Não fossem o Santana velho de guerra e o Buena Vista Social Club, a situação seria um vexame total.
Por essas e outras a música eletrônica, o hip hop e a música brasileira continuam sendo as grandes fontes de música interessante no planeta. Apesar de o hip hop ser hoje mainstream e já ter seus delitos publicitários, na maioria das vezes é inflamável e verdadeiro por ter sua produção pulverizada em centenas de pequenas gravadoras, garantindo independência editorial quase absoluta.
A música brasileira, com a vitória de Caetano Veloso, segue com sua imagem de riqueza, apesar de nossos executivos tentarem destruir isso todos os dias em troca de um bônus vagabundo e de uma possibilidade de ficar tomando broncas em inglês em Nova York ou Miami.
Finalmente, temos a música eletrônica, correndo na paralela e no mínimo dois anos na frente do resto -também no Brasil. É óbvio que não me refiro ao Brasil das paradas de sucesso, dopado de lixo; falo do som que já foi e do que virá, pois o atual... só chorando.


João Marcello Bôscoli é músico, produtor e diretor da gravadora Trama.


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