São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000


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O FILHO DE SAM
Assassino lamenta filme de Lee

das agências internacionais

David Berkowitz, o "serial killer" cuja trajetória sangrenta é o tema central de "Verão de Sam", disse estar muito triste com o fato de o diretor Spike Lee ter realizado o filme. Berkowitz, hoje com 46 anos de idade e recentemente convertido ao cristianismo, cumpre várias prisões perpétuas consecutivas pelos assassinatos cometidos em 1977.
"Lamento muito que este filme tenha sido feito", disse Berkowitz ao jornal "The New York Times", em junho do ano passado. "Fiquei muito triste, porque parece que essa dor não acaba nunca. Estou decepcionado com Hollywood e com a companhia Walt Disney", disse.
O assassino ficou conhecido na época como "filho de Sam". Ganhou esse nome pois disse ter cometido os assassinatos a mando de um cachorro chamado Sam.
Berkowitz disse ainda que rezava por Spike Lee e por sua família, mas o cineasta tomou essas palavras como uma ameaça velada. "Rezo por Spike Lee e sua família: sua mulher, Tonya, e seus filhos, Jackson e Satchel. Deus não quer que eu fique revoltado com ninguém", disse o condenado. Lee encarou as declarações como uma ameaça velada.
Posteriormente, em entrevista a Larry King, na CNN, o assassino disse que suas palavras foram incorretamente reproduzidas: "Não monitorei nada sobre sua família, rezo por ela, não tenho absolutamente nada contra Lee e nunca disse nada de ruim a seu respeito. Rezo para que Deus o abençoe em todas as áreas de sua vida".
O jornal nova-iorquino ouviu também alguns familiares das vítimas. O mecânico aposentado Michael Lauria, 67, cuja filha Donna foi a primeira vítima fatal de Berkowitz, aos 18 anos de idade, disse que Lee não tinha compaixão e que estava ganhando dinheiro com a dor dos outros. "Em primeiro lugar, Spike Lee acha que assassinato é entretenimento, e não é. Ele está obrigando as famílias a reviver tudo aquilo. Está ganhando dinheiro com a minha dor e de minha família. Ele não tem compaixão. Deveriam ter procurado as famílias e pedido sua autorização. Walt Disney deve estar se virando em seu caixão", disse Lauria.
Spike Lee se manifestou a respeito desse assunto no último festival de Cannes, quando disse: "Sinto profundamente pelos pais das vítimas do filho de Sam. Ao mesmo tempo, sou um artista, e esta é uma história que eu quis contar. Mesmo que eu não tivesse feito o filme, nada traria de volta suas filhas, seus entes queridos. Eles foram mortos por um psicopata. Para nós, o filme não glorifica a figura de David Berkowitz", disse. Os crimes de Berkowitz pontuam um dos verões mais quentes e abafados que Nova York presenciou. Aos crimes de Berkowitz, ao sol abrasador e à cidade aterrorizada e impotente, Lee acrescentou características mais amenas daqueles dias, como o auge da era disco, a revolução sexual e partidas de beisebol.
"Verão de Sam" recebeu críticas negativas de veículos como a revista "Advocate", que criticou o filme pelo retrato que faz dos homossexuais. "Infelizmente, Spike Lee parece esquecer sua mensagem de tolerância quando se trata dos gays", escreveu Howard Feinstein.


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