ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Dezessete anos após a realização, a explosão musical ufanista "Bahia de Todos os Sambas" chega como um suspiro a uma minúscula sala paulistana.
Visto apenas em cinema alternativo de Salvador em 97, o filme documenta mais de 150 artistas baianos prontos a atravessar o Rubicão e tomar Roma de assalto no verão de 1983. Caetano Veloso à frente de esquadra estrelada da MPB, onde ofuscavam seu "mestre", João Gilberto, e o "mestre do mestre", Dorival Caymmi. No segundo pelotão, baianas em rendas brancas, bailarinos de danças de candomblé e capoeiristas.
Era o "festival baiano" promovido pelo genovês Gianni Amico e pela prefeitura romana durante nove noites, entre as ruínas do Circo Massimo, no centro histórico de Roma, culminando numa multidão levada pelo trio de Armandinho na Piazza Navona.
Abandonando o estilo seco de "São Bernardo" e "Eles Não Usam Black-Tie"", o cineasta carioca Leon Hirszman (1937-1987) se entregava a clima de euforia ingênua, colecionando 36 horas de filme-exaltação ao lado de Paulo Cézar Saraceni ("O Viajante").
Saraceni editou o material em 1h40, incluindo imagens de Hirszman dionisíaco nos bastidores. Entre as poucas sequências menos previsíveis, longos closes de adoração de um João Gilbertomuito à vontade e Caetano, em calças justíssimas, dando bicotas na boca de seu guitarrista.

Brancaleone
No mais, a caravana brinca de Brancaleone. Caetano entrevista Caymmi para louvar a "Roma Negra" (Salvador) e as investidas anteriores da cultura baiana no hemisfério norte.
Na seleção musical, o show-filme começa emocionante, com "Diplomacia" e a tristeza nobre do compositor Batatinha em pessoa. Segue com João tropeçando distraído em versos italianos ("Estate"). Nana Caymmi, em momento de estabanamento máximo em voz e marcação, crucifica o pai, que abre os braços ("Suíte dos Pescadores"). Gal coloca "Índia" num registro perfeito. Apesar de frios, há vários outros quitutes na bandeja baiana.

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