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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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CRÍTICA

Mulheres demais ressuscitam novelão das 8

XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

"Ele já comeu todo o Rio de Janeiro", denuncia Luciana, na pele de Camila Pitanga, a morena que vale pelas obras completas de Gilberto Freyre e todos os cafunés da mestiçagem. E sai para a guerra de cabelos com Marina (Paloma Duarte), ainda vestida de noiva. O Casanova do Leblon -jamais do Bairro Peixoto, pois o dono da trama é Manoel Carlos- é Diogo, cafajeste ainda em formação, a cargo de Rodrigo Santoro.
Marina é matriz, Luciana é prima e filial. Nos papéis eternos do sonho machista ordinário: a imaculada debaixo do mesmo teto e a doce vagabunda na rua. Diogo quer mais. No dia do casamento, invade o quarto de raparigas em flor -uma jovem só de calcinha cobre os peitos às pressas e ensaia uma moral mínima sobre o ato. Ele sai. Ela suspira de desejo, como todas as mocinhas diante da TV. Uma "ola" de saias.
As "Mulheres Apaixonadas" do Balzac da zona sul carioca têm fogo nas entranhas como as suas semelhantes do livro homônimo de D.H. Lawrence. Vale a triste obrigação da felicidade -sobretudo via sexo- como se fosse tão fácil como comprar a baguete do Garcia Rodrigues, casa da geografia sentimental do novelista. Então elas se jogam ladeira abaixo, dublês de moderninhas, mas praticando o mais paleolítico dos esportes: deixar os machos loucos.
Na era do Viagra, os velhos só querem rosetar, como na canção das antigas. É saudável o merchandising social da terceira idade. O que lembra um jingle do velho Ulisses Guimarães: "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais".
Até no inconsciente aquoso o desejo é revelado. Muitos banhos à "Big Brother", como percebeu a antropóloga Esther Hamburger nesta Folha, muita chuva, e Estela (Lavínia Vlasak) a deslizar nua no asfalto, depois de acidente na autopista. Os "proletas" congelam entre o socorro e a masturbação mecânica. Aí vem um padre, o tarado na bacia das almas, e cobre a tal carne.
A sucessora de "Esperança" tem acidente de carro e suspense na sala de cirurgia, caso do médico e homem-jiló César (José Mayer). E a luxuosa Maria Padilha, que entende os segredos do dramaturgo Peter Brook como nenhuma atriz brasileira, em um papel pequeno para o seu absurdo. O chavão rodrigueano corre solto. Sexo com cunhado é tu-do, como diz uma amiga. E o próprio Nelson Rodrigues foi citado à beira da piscina. Mulheres demais, caro Rex Stout.


Mulheres Apaixonadas    
Quando: Globo, de seg. a sáb., às 20h55



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