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CRÍTICA
Mulheres demais ressuscitam novelão das 8
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
"Ele já comeu todo o Rio de
Janeiro", denuncia Luciana, na pele de Camila Pitanga, a
morena que vale pelas obras completas de Gilberto Freyre e todos
os cafunés da mestiçagem. E sai
para a guerra de cabelos com Marina (Paloma Duarte), ainda vestida de noiva. O Casanova do Leblon -jamais do Bairro Peixoto,
pois o dono da trama é Manoel
Carlos- é Diogo, cafajeste ainda
em formação, a cargo de Rodrigo
Santoro.
Marina é matriz, Luciana é prima e filial. Nos papéis eternos do
sonho machista ordinário: a imaculada debaixo do mesmo teto e a
doce vagabunda na rua. Diogo
quer mais. No dia do casamento,
invade o quarto de raparigas em
flor -uma jovem só de calcinha
cobre os peitos às pressas e ensaia
uma moral mínima sobre o ato.
Ele sai. Ela suspira de desejo, como todas as mocinhas diante da
TV. Uma "ola" de saias.
As "Mulheres Apaixonadas" do
Balzac da zona sul carioca têm fogo nas entranhas como as suas semelhantes do livro homônimo de
D.H. Lawrence. Vale a triste obrigação da felicidade -sobretudo
via sexo- como se fosse tão fácil
como comprar a baguete do Garcia Rodrigues, casa da geografia
sentimental do novelista. Então
elas se jogam ladeira abaixo, dublês de moderninhas, mas praticando o mais paleolítico dos esportes: deixar os machos loucos.
Na era do Viagra, os velhos só
querem rosetar, como na canção
das antigas. É saudável o merchandising social da terceira idade. O que lembra um jingle do velho Ulisses Guimarães: "Bote fé
no velhinho, que o velhinho é demais".
Até no inconsciente aquoso o
desejo é revelado. Muitos banhos
à "Big Brother", como percebeu a
antropóloga Esther Hamburger
nesta Folha, muita chuva, e Estela
(Lavínia Vlasak) a deslizar nua no
asfalto, depois de acidente na autopista. Os "proletas" congelam
entre o socorro e a masturbação
mecânica. Aí vem um padre, o tarado na bacia das almas, e cobre a
tal carne.
A sucessora de "Esperança" tem
acidente de carro e suspense na
sala de cirurgia, caso do médico e
homem-jiló César (José Mayer). E
a luxuosa Maria Padilha, que entende os segredos do dramaturgo
Peter Brook como nenhuma atriz
brasileira, em um papel pequeno
para o seu absurdo. O chavão rodrigueano corre solto. Sexo com
cunhado é tu-do, como diz uma
amiga. E o próprio Nelson Rodrigues foi citado à beira da piscina.
Mulheres demais, caro Rex Stout.
Mulheres Apaixonadas
Quando: Globo, de seg. a sáb., às 20h55
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