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OS FANTASMAS SE DIVERTEM
Indústria fonográfica investe na volta de ídolos da década, mas discos não vendem o esperado
Chega de retrô; nós odiamos os anos 80
JEFF LEEDS
DO "INDEPENDENT"
A música da década de 80 é de
novo parte do "zeitgeist" (o espírito do tempo), e de maneira intensa. O que começou mais de
uma década atrás em casas noturnas com noites de nostalgia se espalhou pelas rádios em programas de "flashback". E depois veio
o sucesso retrô de estouros de bilheteria como "Afinado no
Amor" e de videogames que abusavam dos tons pastéis saturados,
como "Grand Theft Auto". Na
TV, os sucessos da década agora
formam a trilha sonora de incontáveis séries populares nos EUA,
como "The O. C.", cujos produtores escolheram uma cover de "If
You Leave", do OMD, para uma
cena decisiva na temporada passada. Isso tudo prova que as canções marcadas por uso intenso de
sintetizadores e as bandas de músicos cabeludos da era continuam
a exercer estranho fascínio sobre a
faixa etária dos 30 e poucos anos.
A indústria fonográfica demorou a agir, mas ao longo dos últimos 18 meses ela começou tardiamente a tentar ganhar dinheiro
com a tendência. Músicos perdidos nos desertos do pop por mais
de uma década decidiram entrar
em contato com os velhos colegas
de banda e reunir os grupos em
nome da arte, do comércio, ou
ambos. Uma série de grupos populares no passado, do New Edition aos ídolos pop Duran Duran
e George Michael, passando por
músicos que aspiram a maior seriedade como Tears for Fears e
porta-estandartes da angústia
adolescente como o Cure, sacudiram a poeira e assinaram contrato, em alguns casos lançando CDs
com material novo pela primeira
vez em 15 anos. Seguindo o exemplo do Motley Crue, que lançou
um álbum duplo, Billy Idol, careteiro de roupas exageradas, os deprimidos mais fofinhos do planeta, o New Order, e o rapper Heavy
D, famoso pelo mau humor, também lançarão novos álbuns.
Todos eles retornaram com
alarde, percorrendo tapetes vermelhos em meio à gritaria de fãs,
em visitas a estações de rádio e em
shows especialmente produzidos.
No entanto, a despeito de todo
esse entusiasmo dos fãs e dos milhões de dólares investidos em
marketing, os anos 80 não estão
vendendo. As pessoas podem ter
voltado a usar a moda da época e
dançar ao som das bandas de sua
juventude, mas não estão procurando as lojas para comprar os
novos discos. Para uma indústria
que apostou no retrô, o momento
é de luto nos Estados Unidos.
Tomemos, por exemplo, o
Tears for Fears. O novo álbum da
banda, "Everybody Loves a
Happy Ending", vendeu apenas
80 mil cópias até 30 de janeiro
-muito abaixo de seu disco anterior, "The Seeds of Love", com 1
milhão de cópias vendidas.
Reviver as carreiras de artistas
que abandonaram a cena pop
nunca é uma empreitada fácil,
mas já foi feito -em geral por
meio de uma atualização de imagem e de uma busca de maneiras
de atrair novos fãs, além de manter os antigos satisfeitos.
Os executivos que orquestram o
retorno dos músicos dos anos 80
estão seguindo as fórmulas estabelecidas. O Duran Duran trabalhou com alguns produtores atualizados -Don Gilmore, que produziu o Linkin Park, e Dallas Austin, que trabalhou com Pink-
em seu novo disco. O Tears for
Fears usou Brittany Murphy, uma
atriz de grande apelo junto aos jovens, em seu novo vídeo.
E de certa maneira essas estratégias obtiveram sucesso: pesquisas
da gravadora New Door com os
consumidores demonstram que
cerca de metade das pessoas que
compraram o novo álbum do
Tears for Fears não conheciam a
música da banda anteriormente.
A promoção de novos álbuns
também ajudou as vendas desses
grupos no exterior. Mas quando
se trata do material novo, os fãs
americanos de 30 e poucos anos
que deveriam, pela lógica, formar
a base da audiência, não estão nos
números esperados.
De acordo com Ann Fishman,
presidente da Generational Targeted Marketing, o problema não
é a música, mas as lembranças. Os
fãs da "Geração X" "não têm
grande apego por sua juventude".
"Presumimos que a nostalgia seja
uma ótima ferramenta de vendas.
Isso se aplica à geração "baby
boom" [nascida entre 1946 e 1964],
mas não à "Geração X". A história
de sua juventude os forçou a amadurecer rápido. Eles gostam da
música de sua juventude, mas não
têm necessidade dela".
A teoria poderia ajudar a explicar por que Madonna e Prince tiveram um ano muito bom. Ambos se deram bem nos anos 80 e
continuaram tocando, atualizando sua imagem. Os álbuns recentes não pareciam retomadas compulsórias de uma carreira, mas
simplesmente um novo capítulo.
Agravando as dificuldades temos o fato de que os astros desaparecidos dos anos 80 estão voltando a um cenário musical que
mal reconhecem. A maquinaria
que os transformou em fenômenos de vendas duas décadas atrás
-as rádios e a MTV- há muito
foi desmantelada ou mudou. O
espectro de rádio passou a ser dividido entre formatos administrados com grande rigor, dirigidos a nichos específicos. E no que
tange à MTV, a novidade se desgastou. A gigante do setor hoje
devota mais tempo a programas
"reality show" e estilo de vida.
Mas essas bandas devem se sair
muito bem em suas turnês pela
América do Norte. O Motley Crue
receberá cachês mínimos de US$
250 mil por noite (cerca de R$ 650
mil). O Duran Duran, além de cachês elevados, vem aproveitando
a tendência de preferência por ingressos VIP. Oferece aos fãs a
chance de comprar pacotes de
viagem, com duas noites em hotel
e recordações autografadas, a US$
2.590 (cerca de R$ 6.700).
"É difícil para nós tocar o material velho, porque só queremos
tocar o novo", diz Curt Smith, do
Tears for Fears. "Seria horrível tocar ao vivo e ter o público todo pedindo "Shout". A emoção em muitas das canções que compusemos
no passado já não nos diz nada.
Existem certas emoções que a
gente sente na adolescência e aos
20 anos que não existem mais, na
verdade, aos 40. Havia uma certa
"angst" que tínhamos e não temos
mais. Agora, a nossa angústia é a
da meia-idade".
De qualquer jeito, o tempo está
se esgotando. Quer você ame ou
odeie esse tipo de música, o segundo advento dos anos 80 já está
durando quase tanto quanto a década original. Além disso, os anos
90 estão prontos para um retoque
e um novo momento de glória.
"With the Lights Out", caixa com
discos do Nirvana, foi um dos
grandes sucessos de venda no Natal de 2004 nos EUA. Os bares da
moda começaram a organizar
noites dos anos 90, ou adotaram
temas que retomam a década.
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