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Coleção eterniza malícia de marchinhas
DA SUCURSAL DO RIO
As marchinhas de Carnaval
surgiram nos anos 20, chegaram ao apogeu nos 30 e decaíram
até ter em 70, em "Bandeira Branca", seu "canto do cisne", como
diz o pesquisador Jairo Severiano.
Mas, felizmente, o fantasma do
tal cisne insiste em aparecer nos
tríduos momescos -como eram
chamados os Carnavais nos tempos áureos das marchinhas.
Na ressaca da última folia, é lançado "Na Magia dos Antigos Carnavais", com 14 ótimos exemplares do gênero que, embora derivado da polca-marcha portuguesa, é absolutamente brasileiro.
Um problema do CD é não ter
Lamartine no seu repertório, nem
Nássara, Assis Valente e outros
craques. O jornalista Thiago Marques Luiz fez a seleção a partir do
que tinha à disposição no arquivo
da RCA, hoje pertencente à BMG.
Haroldo Lobo, com quatro composições, é o campeão da lista.
A solução é relaxar e, em vez de
querer ouvir "as melhores marchinhas", ouvir um grupo de deliciosas músicas de Carnaval, a
maioria em gravações originais.
Entre as que até hoje são cantadas estão "A Jardineira" (com Orlando Silva no auge), "Allah-Lá-Ô" (com Carlos Galhardo), "As
Pastorinhas" (com Cauby Peixoto) e "Marcha do Cordão da Bola
Preta" (com Carmen Costa).
Mais prazeroso é ouvir as que
perderam popularidade com o
tempo, mas não malícia. É o caso
de "Mamãe, Eu Levei Bomba",
sucesso de Dircinha Batista: ""Mamãe, eu levei bomba/ Pela primeira vez'/ "Filhinha, queridinha/ Foi
francês? Foi português?'/ "Nem
sei, mamãe, nem sei/ A prova foi
tão dura, mamãe, que eu naufraguei". Agora não adianta chorar/
O remédio é estudar". Assim também é "Cão que Ladra Não Morde": "Se você fosse embora/ Ai,
que feliz eu seria/ Como menção
honrosa/ A minha sogra de presente eu lhe daria".
Já "Vai que É Mole", cantada
por Linda Batista, mistura malícia
a uma primorosa incorreção política: "Mulher é feito pudim, geléia, rocambole/ Não vai pensar
que é duro/ Vai que é mole, vai
que é mole".
Um resumo da irreverência do
gênero está numa das segundas
partes que Noel Rosa fez para a
primeira de Heitor dos Prazeres
em "Pierrô Apaixonado", no CD
com uma versão um tanto melancólica demais de Maria Bethânia:
"A colombina entrou no botequim/ Bebeu, bebeu, saiu assim,
assim/ Dizendo "Pierrô, cacete,/
Vai tomar sorvete com o arlequim'". Em quatro versos, o Carnaval carioca.
(LFV)
Na Magia dos Antigos Carnavais
Artistas: vários
Gravadora: BMG
Quanto: R$ 15, em média
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