São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

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Coleção eterniza malícia de marchinhas

DA SUCURSAL DO RIO

As marchinhas de Carnaval surgiram nos anos 20, chegaram ao apogeu nos 30 e decaíram até ter em 70, em "Bandeira Branca", seu "canto do cisne", como diz o pesquisador Jairo Severiano.
Mas, felizmente, o fantasma do tal cisne insiste em aparecer nos tríduos momescos -como eram chamados os Carnavais nos tempos áureos das marchinhas.
Na ressaca da última folia, é lançado "Na Magia dos Antigos Carnavais", com 14 ótimos exemplares do gênero que, embora derivado da polca-marcha portuguesa, é absolutamente brasileiro.
Um problema do CD é não ter Lamartine no seu repertório, nem Nássara, Assis Valente e outros craques. O jornalista Thiago Marques Luiz fez a seleção a partir do que tinha à disposição no arquivo da RCA, hoje pertencente à BMG. Haroldo Lobo, com quatro composições, é o campeão da lista.
A solução é relaxar e, em vez de querer ouvir "as melhores marchinhas", ouvir um grupo de deliciosas músicas de Carnaval, a maioria em gravações originais.
Entre as que até hoje são cantadas estão "A Jardineira" (com Orlando Silva no auge), "Allah-Lá-Ô" (com Carlos Galhardo), "As Pastorinhas" (com Cauby Peixoto) e "Marcha do Cordão da Bola Preta" (com Carmen Costa).
Mais prazeroso é ouvir as que perderam popularidade com o tempo, mas não malícia. É o caso de "Mamãe, Eu Levei Bomba", sucesso de Dircinha Batista: ""Mamãe, eu levei bomba/ Pela primeira vez'/ "Filhinha, queridinha/ Foi francês? Foi português?'/ "Nem sei, mamãe, nem sei/ A prova foi tão dura, mamãe, que eu naufraguei". Agora não adianta chorar/ O remédio é estudar". Assim também é "Cão que Ladra Não Morde": "Se você fosse embora/ Ai, que feliz eu seria/ Como menção honrosa/ A minha sogra de presente eu lhe daria".
Já "Vai que É Mole", cantada por Linda Batista, mistura malícia a uma primorosa incorreção política: "Mulher é feito pudim, geléia, rocambole/ Não vai pensar que é duro/ Vai que é mole, vai que é mole".
Um resumo da irreverência do gênero está numa das segundas partes que Noel Rosa fez para a primeira de Heitor dos Prazeres em "Pierrô Apaixonado", no CD com uma versão um tanto melancólica demais de Maria Bethânia: "A colombina entrou no botequim/ Bebeu, bebeu, saiu assim, assim/ Dizendo "Pierrô, cacete,/ Vai tomar sorvete com o arlequim'". Em quatro versos, o Carnaval carioca. (LFV)


Na Magia dos Antigos Carnavais
    
Artistas: vários
Gravadora: BMG
Quanto: R$ 15, em média


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