São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

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"ETERNO AMOR"

Em novo longa de Jeunet, Audrey Tautou vai à guerra
AMOR, sublime AMOR

Divulgação
A atriz francesa Audrey Tautou em cena de "Eterno Amor", que estréia hoje nos cinemas do Brasil


MARCELO FORLANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2002), Jean-Pierre Jeunet conta a história de uma menina sonhadora que, ao perceber a dificuldade em mudar o mundo todo, resolve ao menos mudar o mundo ao seu redor.
Mathilde, a protagonista de "Eterno Amor", tem suas diferenças em relação a Amélie, mas há entre elas fortes ligações. A principal é a atriz que as interpreta, Audrey Tautou. "Acho que Mathilde é a avó da Amélie, e um bom título para este filme seria "Amélie vai à guerra'", brinca o cineasta, em entrevista à Folha, em seu estúdio nos arredores de Paris.
Mas essas similaridades não o preocupam. "A história é completamente diferente, e os personagens são bem distintos. Amélie era tímida, muito introvertida. Já Mathilde é mais durona, se recusa aceitar a morte do noivo."
Baseado no livro "Un Long Dimanche de Fiançailles" (um longo domingo de noivado), de Sébastien Japrisot, o filme, que concorre em 12 categorias do César (o Oscar francês) amanhã e a duas no Oscar no domingo (fotografia e direção de arte), tem como pano de fundo a Primeira Guerra. Mathilde é uma jovem que vê seu noivo, Manech, pela última vez no dia em que ele vai para a guerra. Após um tempo sem receber notícias, chega uma carta dizendo que ele havia morrido nas trincheiras. Mathilde teima que ele está vivo e começa uma investigação para tentar encontrá-lo.
Além do livro, Jeunet diz que, para as cenas de batalha, "O Resgate do Soldado Ryan", de Spielberg, foi uma boa referência. "Acho que é um dos melhores nesse sentido, mas, como este não é um filme de guerra, não quis mostrar muita violência e sangue. Afinal é uma história de amor."
Porém, que não se pense que "Eterno Amor" é só mais um filme açucarado. A fita tem cenas bastante realistas das batalhas e também o que o diretor classifica como uma assinatura própria, que é o uso do humor e da poesia na hora de filmar. "Claro que o humor vai ficar mais para as cenas fora das trincheiras. Mas isso não quer dizer que não possa acontecer no meio do campo de batalha também, escondido em alguns detalhes", adverte.
Outra idéia que Jeunet criou para o filme foi a superstição de Mathilde, que fica fazendo apostas com o destino para se certificar de que está certa em continuar a busca por Manech. Mas "Amélie" acabou mudando detalhes do longa. No original, Mathilde fica o tempo todo numa cadeira de rodas; aqui, apenas manca, por conta da poliomielite, e toca um fagote. "No livro, ela pinta. Mas em "Amélie" a pintura era importante, e não queríamos repetir", explica.
Famoso por criar seus próprios roteiros, Jeunet conta que teve de abrir uma exceção para o livro, porque fez a história ficar em sua cabeça por mais de uma década.
Contudo, teve de enfrentar logo de cara um problema: o estúdio Warner Bros. era dono dos direitos para transformá-lo em filme. Após escolher Audrey Tautou para protagonizar a produção, as peças se encaixaram. Além de julgá-la ideal para interpretar Mathilde, o sucesso que conseguiram com "Amélie" abriu as portas para conversar com a Warner, que concordou não só em produzir o filme mas também em deixar Jeunet na direção e com carta branca para filmá-lo na França, em francês e com atores franceses.
Jeunet diz que este é o único livro que pensa transformar em filme. Isso por conta de sua obsessão pela Primeira Guerra. "Não sei explicar por quê. Cheguei a perder duas férias com livros sobre a Primeira Guerra. Uma vez arruinei minhas férias em Bali, porque era uma leitura tão pesada que não conseguia dormir depois. Tinha pesadelos. Foi uma estupidez. Lá fora, um sol lindo e eu lendo aquilo. Às vezes acho que é porque morri nessa guerra."


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