São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

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"O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA"

Refilmagem do terror é olhar voyeur e sádico sobre violência

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tradutor que é da igualdade orgânica entre humanos, o sangue é julgado pornográfico quando trespassa a superfície da pele. Sob essa chave, "O Massacre da Serra Elétrica" abalou esse tabu em 1974, inclusive apostando mais no ato de aproximação com esse subterrâneo sagrado dos corpos do que no objeto em si.
É o oposto desta refilmagem de Marcus Nispel, que promete esclarecimentos sobre os eventos narrados no original.
Haverá mais cenas de violência explícita, portanto, fotografadas às claras e estetizando o sangue e vísceras que aparecem em primeiro plano. Uma aposta arriscada pela banalização na qual esse modelo de filme de terror costuma cair, como ficou claro em filhotes bastardos como "Sexta-Feira 13".
O clássico de Tobe Hooper lidava com um estatuto documental na imagem -sempre suja e aceitando a claridade e a escuridão dos ambientes- para registrar uma certa fisionomia das coisas, da superfície dos corpos, da madeira podre, do mato. Era uma câmera receosa do que iria encontrar naquela casa onde a família de canibais confeccionava relicários de pele humana. Susan era a protagonista que fugia da motosserra de Bubba Sawyer (ou Leatherface), além de espectadora da morte de seus amigos.
A refilmagem segue um pouco a premissa original, com o grupo de amigos tendo de parar perto de um matadouro no Texas por falta de combustível. A família é mais extensamente mostrada, com avós e netos.
E há um determinismo aplicado a seus personagens, dos assassinos às vítimas que reproduzem a clicheria sobre pós-adolescentes sempre chapados de maconha. Os closes de mutilações parecem, então, lição moral contra a inconseqüência do grupo, e não é à toa que a mais assentada deles, Erin (Jessica Biel), é a protagonista.
O motivo de chegada dos amigos àquelas instâncias também esclarece muito: na versão primeira, eles queriam visitar a casa onde passaram a infância, e agora eles estão apenas de passagem, rumo ao México. É um olhar passageiro de Nispel bem distinto do olhar intimista de Hooper, que vai ao encontro da monstruosidade nas vísceras familiares.
A verdadeira revelação estaria, portanto, na peça original e não no distanciamento sádico deste "O Massacre da Serra Elétrica" em versão 2003.


O Massacre da Serra Elétrica
The Texas Chainsaw Massacre
 
Direção: Marcus Nispel
Produção: EUA, 2003
Com: Jessica Biel, Jonathan Tucker, Erica Leerhsen
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Metrô Santa Cruz, Shopping D e circuito


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