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"O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA"
Refilmagem do terror é olhar voyeur e sádico sobre violência
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tradutor que é da igualdade orgânica entre humanos,
o sangue é julgado pornográfico
quando trespassa a superfície da
pele. Sob essa chave, "O Massacre
da Serra Elétrica" abalou esse tabu em 1974, inclusive apostando
mais no ato de aproximação com
esse subterrâneo sagrado dos corpos do que no objeto em si.
É o oposto desta refilmagem de
Marcus Nispel, que promete esclarecimentos sobre os eventos
narrados no original.
Haverá mais cenas de violência
explícita, portanto, fotografadas
às claras e estetizando o sangue e
vísceras que aparecem em primeiro plano. Uma aposta arriscada pela banalização na qual esse
modelo de filme de terror costuma cair, como ficou claro em filhotes bastardos como "Sexta-Feira 13".
O clássico de Tobe Hooper lidava com um estatuto documental
na imagem -sempre suja e aceitando a claridade e a escuridão
dos ambientes- para registrar
uma certa fisionomia das coisas,
da superfície dos corpos, da madeira podre, do mato. Era uma câmera receosa do que iria encontrar naquela casa onde a família
de canibais confeccionava relicários de pele humana. Susan era a
protagonista que fugia da motosserra de Bubba Sawyer (ou Leatherface), além de espectadora da
morte de seus amigos.
A refilmagem segue um pouco a
premissa original, com o grupo de
amigos tendo de parar perto de
um matadouro no Texas por falta
de combustível. A família é mais
extensamente mostrada, com
avós e netos.
E há um determinismo aplicado
a seus personagens, dos assassinos às vítimas que reproduzem a
clicheria sobre pós-adolescentes
sempre chapados de maconha.
Os closes de mutilações parecem,
então, lição moral contra a inconseqüência do grupo, e não é à toa
que a mais assentada deles, Erin
(Jessica Biel), é a protagonista.
O motivo de chegada dos amigos àquelas instâncias também
esclarece muito: na versão primeira, eles queriam visitar a casa
onde passaram a infância, e agora
eles estão apenas de passagem,
rumo ao México. É um olhar passageiro de Nispel bem distinto do
olhar intimista de Hooper, que vai
ao encontro da monstruosidade
nas vísceras familiares.
A verdadeira revelação estaria,
portanto, na peça original e não
no distanciamento sádico deste
"O Massacre da Serra Elétrica"
em versão 2003.
O Massacre da Serra Elétrica
The Texas Chainsaw Massacre
Direção: Marcus Nispel
Produção: EUA, 2003
Com: Jessica Biel, Jonathan Tucker, Erica
Leerhsen
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Metrô Santa Cruz, Shopping D e
circuito
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