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Estréia a aguardada "Heroes"
Sucesso de audiência nos EUA, série mescla fantasia à crônica do cotidiano de "gente comum"
Intérprete do artista que pinta o futuro ao se drogar, Santiago Cabrera conta que aceitou o papel por causa da fragilidade do personagem
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
No fim dos anos 90, o chileno, então radicado na Inglaterra, Santiago Cabrera dava seus
dribles em um time de futebol
semiprofissional com a esperança de um dia ser descoberto
por um olheiro e quiçá até convocado para uma missão heróica: ajudar a encerrar a estiagem
de títulos de expressão da seleção inglesa.
O devaneio esportivo não foi
adiante, mas a veia heróica se
comprovou -ao menos na ficção: hoje ator, ele interpreta o
pintor Isaac Mendez na série
"Heroes", sensação da atual
temporada televisiva dos EUA
que radiografa o cotidiano de
pessoas comuns que, em diferentes latitudes, descobrem ser
dotadas de superpoderes e, aos
poucos, vão estabelecendo conexões entre si.
O programa -que virou xodó
de crítica e público ao mostrar a
dura rotina de gente que voa, lê
mentes alheias, atravessa corpos sólidos e nunca se machuca, sem, por conta disso, deixar
de enfrentar as aflições dos
"simples mortais"- estréia no
Brasil nesta sexta, dia 2, às 21h,
no Universal Channel.
Em entrevista por telefone à
imprensa latino-americana da
qual a Folha participou, Cabrera relembra a época em que
trocou os gramados pelos palcos londrinos. "Estava com 20
anos [ele hoje tem 28] e era hora de aceitar que não iria muito
longe no futebol. Tinha feito
uma peça, e a experiência de
atuar havia me fascinado. A escola de artes cênicas não me
deixava tempo para treinar."
Nota-se uma ponta de nostalgia... "Estou feliz com o rumo que as coisas tomaram, mas
tornar-me um jogador de futebol sem dúvida teria sido a realização de um sonho", observa.
Já que bater bola com Beckham, Owen e cia. exigiria uma
viagem no tempo - algo de que
só é capaz Hiro Nakamura, o
nerd japonês interpretado pelo
carismático Masi Oka, que divide a tela com Mendez em "Heroes" -, falemos do presente. O
personagem de Cabrera é um
artista plástico nova-iorquino
que, ao usar heroína, cria telas
que reproduzem fielmente
acontecimentos futuros -aí
incluídas catástrofes como
uma explosão nuclear em Manhattan. Ele passa então a crer
que é um predestinado.
O ator, que visitou clínicas de
desintoxicação para compor
Mendez, não acredita que o superpoder controverso do personagem transmita um mau
exemplo para os públicos infantil e adolescente, com os
quais a trama de tons sobrenaturais tem forte apelo.
"Não há uma glorificação do
comportamento dele nem a intenção de retratá-lo como um
exemplo a ser seguido. Apesar
dos elementos de fantasia e
mistério, a história tem um pé
firme na realidade. Daí ele ser
apresentado por uma perspectiva sombria, como uma pessoa
com falhas que se dá conta de
que tem habilidades especiais",
explica Cabrera, acrescentando que foi justamente "a natureza complicada, vulnerável,
autodestrutiva" do papel que o
atraiu. "Na verdade, a mensagem é a de que ele não precisa
da droga; o uso dela é simplesmente fruto de insegurança."
Ecos de "Lost"
Filho de diplomata, o ator encarna o bom-mocismo ao escolher heróis da vida real: "Os médicos que, apesar de receber
pouca atenção, estão salvando
o mundo".
Mas abre mão da política da
"boa vizinhança" ao analisar o
peso que o sucesso de "Lost" teve no surgimento de seriados
cujas histórias se estendem por
mais de um episódio -como é o
caso de "Heroes". "O que "Lost"
fez foi mostrar que era possível
fazer séries com 12, 13 protagonistas. No mais, não vejo semelhanças entre os dois programas", desdenha.
Com ou sem DNA alheio, o
fato é que "Heroes" está dando
trabalho a Jack Bauer, o herói
veterano de "24 Horas". Desde
que voltou à carga, no mês passado, nos EUA, o agente "pau-pra-toda-obra" tem amargado
sucessivas derrotas no ibope
para Mendez e sua patota de
heróis atormentados -que já
têm sinal verde para uma segunda temporada.
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