São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estréia a aguardada "Heroes"

Sucesso de audiência nos EUA, série mescla fantasia à crônica do cotidiano de "gente comum"

Intérprete do artista que pinta o futuro ao se drogar, Santiago Cabrera conta que aceitou o papel por causa da fragilidade do personagem

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

No fim dos anos 90, o chileno, então radicado na Inglaterra, Santiago Cabrera dava seus dribles em um time de futebol semiprofissional com a esperança de um dia ser descoberto por um olheiro e quiçá até convocado para uma missão heróica: ajudar a encerrar a estiagem de títulos de expressão da seleção inglesa.
O devaneio esportivo não foi adiante, mas a veia heróica se comprovou -ao menos na ficção: hoje ator, ele interpreta o pintor Isaac Mendez na série "Heroes", sensação da atual temporada televisiva dos EUA que radiografa o cotidiano de pessoas comuns que, em diferentes latitudes, descobrem ser dotadas de superpoderes e, aos poucos, vão estabelecendo conexões entre si.
O programa -que virou xodó de crítica e público ao mostrar a dura rotina de gente que voa, lê mentes alheias, atravessa corpos sólidos e nunca se machuca, sem, por conta disso, deixar de enfrentar as aflições dos "simples mortais"- estréia no Brasil nesta sexta, dia 2, às 21h, no Universal Channel.
Em entrevista por telefone à imprensa latino-americana da qual a Folha participou, Cabrera relembra a época em que trocou os gramados pelos palcos londrinos. "Estava com 20 anos [ele hoje tem 28] e era hora de aceitar que não iria muito longe no futebol. Tinha feito uma peça, e a experiência de atuar havia me fascinado. A escola de artes cênicas não me deixava tempo para treinar."
Nota-se uma ponta de nostalgia... "Estou feliz com o rumo que as coisas tomaram, mas tornar-me um jogador de futebol sem dúvida teria sido a realização de um sonho", observa.
Já que bater bola com Beckham, Owen e cia. exigiria uma viagem no tempo - algo de que só é capaz Hiro Nakamura, o nerd japonês interpretado pelo carismático Masi Oka, que divide a tela com Mendez em "Heroes" -, falemos do presente. O personagem de Cabrera é um artista plástico nova-iorquino que, ao usar heroína, cria telas que reproduzem fielmente acontecimentos futuros -aí incluídas catástrofes como uma explosão nuclear em Manhattan. Ele passa então a crer que é um predestinado.
O ator, que visitou clínicas de desintoxicação para compor Mendez, não acredita que o superpoder controverso do personagem transmita um mau exemplo para os públicos infantil e adolescente, com os quais a trama de tons sobrenaturais tem forte apelo.
"Não há uma glorificação do comportamento dele nem a intenção de retratá-lo como um exemplo a ser seguido. Apesar dos elementos de fantasia e mistério, a história tem um pé firme na realidade. Daí ele ser apresentado por uma perspectiva sombria, como uma pessoa com falhas que se dá conta de que tem habilidades especiais", explica Cabrera, acrescentando que foi justamente "a natureza complicada, vulnerável, autodestrutiva" do papel que o atraiu. "Na verdade, a mensagem é a de que ele não precisa da droga; o uso dela é simplesmente fruto de insegurança."

Ecos de "Lost"
Filho de diplomata, o ator encarna o bom-mocismo ao escolher heróis da vida real: "Os médicos que, apesar de receber pouca atenção, estão salvando o mundo".
Mas abre mão da política da "boa vizinhança" ao analisar o peso que o sucesso de "Lost" teve no surgimento de seriados cujas histórias se estendem por mais de um episódio -como é o caso de "Heroes". "O que "Lost" fez foi mostrar que era possível fazer séries com 12, 13 protagonistas. No mais, não vejo semelhanças entre os dois programas", desdenha.
Com ou sem DNA alheio, o fato é que "Heroes" está dando trabalho a Jack Bauer, o herói veterano de "24 Horas". Desde que voltou à carga, no mês passado, nos EUA, o agente "pau-pra-toda-obra" tem amargado sucessivas derrotas no ibope para Mendez e sua patota de heróis atormentados -que já têm sinal verde para uma segunda temporada.


Texto Anterior: Ferreira Gullar: O sonho acabou
Próximo Texto: Crítica: Série engrena ao assumir modelo de HQ
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.