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25ª BIENAL DE SÃO PAULO
Nudez permitida
Ao lado de Vanessa Beecroft, Spencer Tunick, um dos responsáveis pela "invasão" de nus no evento inaugurado ontem para o público, diz que seu trabalho é "explosão da vida"
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Spencer Tunick/Divulgação
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Corpos sobre a Queensboro Bridge, em NY, em performance do norte-americano Spencer Tunick presente na Bienal |
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nunca a Bienal de São Paulo
apresentou tantos nus em uma
exposição. Ontem foi a vez do pelotão feminino, comandado por
Vanessa Beecroft, com a performance "VB50". As mulheres posaram por três horas dentro do
pavilhão da Bienal.
A explosão de nus deve ocorrer
mesmo no dia 27 de abril, quando
o nova-iorquino Spencer Tunick
realizar a sua performance: fotografar pessoas nuas que comparecerão espontaneamente no parque Ibirapuera às 5h30.
Da última vez, em Melbourne,
4.500 pessoas participaram. Por
realizar as imagens em locais urbanos, Tunick já chegou a ser preso seis vezes nos EUA. "Aqui não
devo ter problemas, a Bienal já
conseguiu a permissão", afirma o
artista.
Em São Paulo, Tunick, 35, espera menor afluência. "Se vierem
800 pessoas está ótimo", diz. Para
participar, os interessados devem
escrever para o e-mail
bienal.spencer@uol.com.br. "É a
porta de ouro. Só quem entrar em
contato pode participar", afirma
Tunick. Como prêmio, quem posar pelado vai ganhar uma foto.
Ontem, enquanto buscava o local mais adequado do parque Ibirapuera para realizar seu trabalho, Tunick conversou com a Folha. Leia a seguir alguns trechos
da entrevista.
Folha - Como você começou a fazer esse trabalho?
Spencer Tunick - No início, eu fotografava apenas uma pessoa nua
por vez nas ruas de Nova York,
era como registrar uma escultura.
O trabalho tornou-se famoso e
muitos me procuravam para servir de modelo. Por isso, em 94, resolvi reunir vários interessados
em frente ao edifício da ONU durante o amanhecer. O resultado
superou minhas expectativas e essas massas humanas tornaram-se
a parte mais interessante do trabalho.
Folha - E por que escolher a nudez?
Tunick - Quero comunicar uma
experiência que una as pessoas e
as purifica. Quando se vê um corpo nu num espaço público, a fragilidade desses corpos é a primeira impressão.
Para mim, esse trabalho é uma
instalação e uma performance
combinadas. Participar delas é
uma nova experiência, quem estiver lá não vai se arrepender.
Folha - O curador da Bienal, Alfons Hug, tinha um certo receio em
apresentar as fotos, pois elas lembram um campo de concentração.
Você concorda?
Tunick - Os alemães precisam
perder essa culpa pelas catástrofes
no século 20, eles não foram os
únicos a promover um holocausto. Só porque existem imagens
em preto-e-branco dos campos
de concentração eles não devem
achar que são os únicos na história a promover isso.
Eu reconheço semelhanças com
tais imagens, mas meu trabalho
trata da explosão da vida por
meio de corpos nus, e não do contrário. Por isso, passei a fazer apenas fotos coloridas dessa série.
Folha - Vanessa Beecroft também
trabalha com várias pessoas nuas
ao mesmo tempo. Qual a diferença
existente entre as obras dela e as
suas?
Tunick - Creio que Vanessa busca criar um estranhamento com
suas imagens. Com a forte propaganda da moda nas revistas, ela
aponta para uma certa inconfortabilidade, é uma boa forma de
crítica social, com o que todo artista deve se preocupar.
Folha - E qual é a crítica que você
faz com suas imagens?
Tunick - Várias pessoas são presas no mundo por estarem nuas.
Busco criar uma tensão entre o
corpo humano e as cenas urbanas. É importante olhar para o
corpo como objeto de arte, e não
apenas de sexo.
Folha - Você já foi preso por causa
de suas performances?
Tunick - Seis vezes nos Estados
Unidos, sendo cinco apenas em
Nova York. Cheguei a processar a
prefeitura da cidade por causa
disso, pois não há lei que proíba
esse tipo de performance. Ganhei
a causa na Suprema Corte, mas
mesmo assim não consigo permissão para novos trabalhos lá.
Apesar de continuar a viver em
Nova York, decidi não mais trabalhar lá. Tenho convites de várias partes do mundo. Antes de
São Paulo, vou trabalhar em Buenos Aires, por exemplo.
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