São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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TEATRO
Gerald Thomas acusa organizadores de amadorismo; Antunes Filho diz esperar por resposta há um mês e meio
"Figurões" criticam festival de Curitiba

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

A ausência dos três maiores diretores do teatro brasileiro no Festival de Curitiba deste ano está causando polêmica.
É a primeira vez, em suas oito edições, que Curitiba não recebe nem Gerald Thomas, nem Antunes Filho, nem Zé Celso. Ouvidos pela Folha, os três não pouparam críticas ao festival.
Gerald Thomas considera a organização do evento amadora. "Tudo é na última hora. A comunicação é falha. Fazem pouco caso, nada tem contrato. Tudo é absolutamente amador", diz o diretor.
"Dessa vez, me ofereceram US$ 35 mil. É pouco para uma estréia mundial, com cenários, salários etc. Mas, por vontade de trabalhar no Brasil, aceitei. De repente, me ligam dizendo que continua 35 mil, só que em reais, não mais em dólares. Tive que dispensá-los.
O pior é que, como precisam da minha presença para atrair a imprensa e deixar o festival mais colorido, ficam divulgando que eu estarei lá antes de estar acertado. Já estão capitalizando em cima da minha ausência."
Se fosse, Thomas estrearia "Seis Autores em Busca de um Personagem". "Em 96, estreei "Nowhere Man". Depois, foi "Os Reis do Iê-Iê-Iê". No ano passado, já não fui, também por completa desorganização do festival", diz.
O diretor Antunes Filho afirma que, após contatado, não teve resposta. "Não tiveram a gentileza de me telefonar", diz.
"Eles queriam "As Troianas". Mas esse é um espetáculo do Sesc, que eu tenho que estrear no Sesc. Ofereci "Prêt-À-Porter", eles disseram que dariam a resposta em uma semana. Já se passou um mês e meio e ainda estou esperando."
Antunes diz que não vai perdoar o tratamento recebido: "Aquele pessoal é grosso. É uma molecagem o que estão fazendo. Quem semeia vento, colhe tempestade. Da próxima vez que me pedirem algo digo que respondo em uma semana, mas vou demorar um ano".
Já Zé Celso afirma que propôs levar "Cacilda!". "Eles não aceitaram por razões econômicas. Isso já tinha acontecido com outras peças. Nem chegamos a negociar", diz.
"Mas gostaria de dizer que, num momento de crise como esse, o teatro deveria ser apoiado. A cultura fiscal é um fiasco. Pela lógica do Brasil, "Cacilda!" não deveria existir", diz o diretor, se referindo ao fato de manter a peça apenas com dinheiro da bilheteria.
"Mas o que resiste ao extermínio cultural do país deveria ser apoiado. O teatro tem coisas a dizer para a sociedade em um momento como esse. Acho que o festival deveria tomar uma postura política perante esse esforço. O Festival de Curitiba é simpático, mas é apenas uma mostra, não há debate. Há uma solidão muito grande nesse não-apoio."


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