São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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Grupo Vigor Mortis celebra serial killer brasileiro

ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba

Nos anos 20, crimes estranhos aconteceram no Brasil. O único ponto que os unia era uma esquisita marca deixada pelo assassino no corpo das vítimas: DCVXVI.
O criminoso se chamava Febrônio Índio do Brasil, passou 50 anos em um manicômio judiciário e morreu em 1984 aos 90 anos.
Inspirado na vida desse serial killer nacional, o grupo Vigor Mortis apresenta hoje e amanhã, no Festival de Curitiba, o espetáculo "DCVXVI - Eis o Filho da Luz".
A companhia, criada em 96, realiza suas montagens tendo como base de pesquisa o grand guignol -termo sanguinolento derivado do teatro criado em 1895, em Paris, onde o horror era a tônica.
Ali, numa ruela da cidade, era comum ver no palco corpos mutilados, pescoços cortados, estupros, enfim, sangue para todo o lado -tudo de mentirinha, claro.

"Filial" curitibana
Fechado oficialmente em 1962, após anos de decadência, o Théâtre de Grand-Guignol ganhou uma "filial" curitibana, a Vigor Mortis, que, depois de mostrar no festival do ano passado a peça "Peep", chega a 1999 com a saga de Febrônio.
A história chegou ao diretor Paulo Biscaia Filho pelas mãos de um amigo, quando compilava textos sobre serial killers para a peça "Peep".
Admirado com o assassino que matava com uma espada à São Jorge, decidiu que seu próximo projeto seria dedicado a ele.
Mineiro, filho de um açougueiro, o criminoso era obcecado por "curar" as pessoas. Acabou internado num manicômio, onde morreu.
"Certa vez ele teve um delírio no qual aparecia uma nossa senhora de cabelos loiros, que lhe deu a missão de informar ao mundo que Deus não estava morto. Para isso, Febrônio deveria marcar os seus escolhidos com o símbolo DCVXVI", conta Biscaia.

Número da besta
A estranha marca, segundo a companhia Vigor Mortis, não passa de números romanos, que significam 666, conhecido como "o número da besta" (D = 500, C = 100, V = 5, X = 10, V = 5, I = 1; eliminando-se os zeros, tem-se em sequência os números 51, 51, 51, que somados separadamente dão 666).
Febrônio chegou a escrever um evangelho, "As Revelações do Príncipe do Fogo", livro que acabou queimado pela polícia na época. Um exemplar chegou até a ser comprado, das mãos do próprio Febrônio, por Sergio Buarque de Holanda.
Em "DCVXVI", Febrônio é interpretado pelo ator Clóvis Inoce. Como cenário, um vídeo no qual aparece um plano-sequência de ruas de Curitiba. Caso o espetáculo vá para São Paulo -fato que ainda não está definido-, as imagens serão de cenas paulistanas.
Em tempo: os atores da companhia Vigor Mortis nunca voltam no final da peça para agradecer os aplausos da platéia. "Lutamos uma hora e meia para que o público acredite que o ator foi degolado, não dá para voltar e dizer "obrigadu'", diz Biscaia, rindo.

Quando: hoje, às 21h30, e amanhã, às 20h, no Galpão (esquina das ruas Dr. Faivre e Nilo Cairo, Curitiba). R$ 20


A jornalista Erika Sallum viaja a convite da organização do festival


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