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Grupo Vigor Mortis celebra
serial killer brasileiro
ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba
Nos anos 20, crimes estranhos
aconteceram no Brasil. O único
ponto que os unia era uma esquisita marca deixada pelo assassino no
corpo das vítimas: DCVXVI.
O criminoso se chamava Febrônio Índio do Brasil, passou 50 anos
em um manicômio judiciário e
morreu em 1984 aos 90 anos.
Inspirado na vida desse serial killer nacional, o grupo Vigor Mortis
apresenta hoje e amanhã, no Festival de Curitiba, o espetáculo
"DCVXVI - Eis o Filho da Luz".
A companhia, criada em 96, realiza suas montagens tendo como
base de pesquisa o grand guignol
-termo sanguinolento derivado
do teatro criado em 1895, em Paris,
onde o horror era a tônica.
Ali, numa ruela da cidade, era comum ver no palco corpos mutilados, pescoços cortados, estupros,
enfim, sangue para todo o lado
-tudo de mentirinha, claro.
"Filial" curitibana
Fechado oficialmente em 1962,
após anos de decadência, o Théâtre de Grand-Guignol ganhou uma
"filial" curitibana, a Vigor Mortis,
que, depois de mostrar no festival
do ano passado a peça "Peep", chega a 1999 com a saga de Febrônio.
A história chegou ao diretor Paulo Biscaia Filho pelas mãos de um
amigo, quando compilava textos
sobre serial killers para a peça
"Peep".
Admirado com o assassino que
matava com uma espada à São Jorge, decidiu que seu próximo projeto seria dedicado a ele.
Mineiro, filho de um açougueiro,
o criminoso era obcecado por "curar" as pessoas. Acabou internado
num manicômio, onde morreu.
"Certa vez ele teve um delírio no
qual aparecia uma nossa senhora
de cabelos loiros, que lhe deu a
missão de informar ao mundo que
Deus não estava morto. Para isso,
Febrônio deveria marcar os seus
escolhidos com o símbolo
DCVXVI", conta Biscaia.
Número da besta
A estranha marca, segundo a
companhia Vigor Mortis, não passa de números romanos, que significam 666, conhecido como "o número da besta" (D = 500, C = 100, V
= 5, X = 10, V = 5, I = 1; eliminando-se os zeros, tem-se em sequência os números 51, 51, 51, que somados separadamente dão 666).
Febrônio chegou a escrever um
evangelho, "As Revelações do
Príncipe do Fogo", livro que acabou queimado pela polícia na época. Um exemplar chegou até a ser
comprado, das mãos do próprio
Febrônio, por Sergio Buarque de
Holanda.
Em "DCVXVI", Febrônio é interpretado pelo ator Clóvis Inoce. Como cenário, um vídeo no qual aparece um plano-sequência de ruas
de Curitiba. Caso o espetáculo vá
para São Paulo -fato que ainda
não está definido-, as imagens
serão de cenas paulistanas.
Em tempo: os atores da companhia Vigor Mortis nunca voltam
no final da peça para agradecer os
aplausos da platéia. "Lutamos uma
hora e meia para que o público
acredite que o ator foi degolado,
não dá para voltar e dizer "obrigadu'", diz Biscaia, rindo.
Quando: hoje, às 21h30, e amanhã, às 20h,
no Galpão (esquina das ruas Dr. Faivre e Nilo
Cairo, Curitiba). R$ 20
A jornalista
Erika Sallum viaja a convite da organização do festival
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