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DISCO
Tecladista japonês lança o disco "Smoochy", com influência brasileira e canções com título em português
Ryuichi Sakamoto prepara volta ao Brasil
LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio
Chega ao Brasil, via selo Milan da
gravadora BMG, o mais novo trabalho do compositor e tecladista
japonês Ryuichi Sakamoto.
O CD ``Smoochy'', assim como
seu anterior, ``1996'', tem conexão
direta com o Brasil: dele participam três músicos brasileiros (Jacques Morelembaum, Vinícius
Cantuária e Paula Morelembaum),
um ``meio'' brasileiro (o guitarrista americano Arto Lindsay, que
aqui viveu muitos anos) e há três
composições com nome em português -``Insensatez'' (não é a de
Tom Jobim), ``Poesia'' e ``Rio''.
A rigor, isso não é novidade no
trabalho de Sakamoto, fã confesso
tanto da música quanto de personalidades brasileiras, como Tom,
Caetano Veloso e Edu Lobo.
O novo disco também não esconde as características principais
do músico: arranjos sofisticados e
riqueza sonora, permeados por
abordagens muitas vezes inusitadas de instrumentos como o celo
ou o teclado eletrônico.
O resultado é denso e elaborado,
em muitos momentos remetendo
para as maravilhosas trilhas sonoras que Sakamoto perpetrou para
filmes como ``O Último Imperador'' e ``O Pequeno Buda''.
Em entrevista por escrito, de Nova York, onde vive, Sakamoto fala
de suas preferências na música
brasileira, afirma que, apesar de
ter nascido em Nakano, em 1952,
não se considera japonês e revela
que estará no Brasil, para shows
em homenagem a Tom Jobim,
provavelmente em agosto.
Folha - É conhecida sua ligação
com a música brasileira, a ponto
de alguns críticos o considerarem
``discípulo'' de Tom Jobim. Isso é
verdade? Quais outros compositores, além de Jobim, inspiram o ``côté'' brasileiro de sua música?
Sakamoto - É uma honra eu poder ser considerado um discípulo
de Jobim. Tenho certeza que estamos na mesma família musical.
Nosso avô é Debussy. Além de Jobim, amo João Gilberto, Gilberto
Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso...
Folha - ``Smoochy'' tem a participação de três músicos brasileiros,
de um quase brasileiro e composições com títulos em português. Só
faltou uma música cantada na língua que se fala no Brasil. Isso vai
acontecer um dia?
Sakamoto - Bem, não sei. Meu
conhecimento da língua brasileira
é pobre, apesar de amá-la. Mas algumas de minhas músicas podem
ser cantadas em português. Meu
amigo Vinícius Cantuária está fazendo uma versão de ``Tango'',
com Gal Costa. Ficaria feliz se cantores brasileiros cantassem minhas músicas em português.
Folha - Apesar de ter uma comunidade japonesa muito grande, o
Brasil conhece e consome pouco a
música de seu país. Quais artistas
o sr. recomendaria e por quê?
Sakamoto - Você quer dizer
``música japonesa''? Eu nunca me
considerei japonês. Sou alguma
outra coisa. Eu não conheço muito
sobre música japonesa, por isso
não posso recomendar nada.
Folha - No caminho inverso, que
artistas brasileiros o sr. recomendaria a seus amigos japoneses?
Sakamoto - Jobim, João Gilberto, Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso, Marisa Monte, Gal
Costa, Leila Pinheiro...
Folha - Seu último disco traz uma
canção chamada ``Tango'', com letra em espanhol e cantora de origem colombiana. O sr. pretende
ampliar seu trânsito na América
Latina? Qual sua opinião sobre a
música do resto do continente?
Sakamoto - Gosto da maior
parte da música latina. ``Tango'' é
sobre a Argentina. Por isso, a letra
é em espanhol. Embora seja sobre
a Argentina, a música parece ser
muito mais brasileira.
Folha - Seu show com Jacques
Morelembaum e Everton Nelson já
foi visto por japoneses e europeus.
Os brasileiros só conhecem esse
trabalho por causa de ``1996'' e tiveram uma amostra ao vivo quando o sr. aqui esteve a convite de
Morelembaum, em 1995. Haverá
uma turnê de verdade aqui?
Sakamoto - Adoraria ir para tocar com Jacques. Deve haver alguma pessoa ou instituição que possa
me convidar para isso. Quem?
Folha - Os críticos mais puristas
dizem que a música brasileira está
numa fase de entressafra, abrindo
espaços para subgêneros como o
axé music e o pagode. O sr. conhece esses gêneros? Está de acordo
com essa avaliação?
Sakamoto - Não conheço esses
gêneros. Ensine-me.
Folha - O sr., que sempre se envolveu com cinema, atuando ou
realizando trilhas sonoras, conhece o cinema brasileiro?
Sakamoto - Alguma coisa, porque Jacques e Caetano fizeram trilhas sonoras. Mas não é fácil conseguir informação sobre filmes
brasileiros por aqui. Talvez seja
mais fácil no Japão. Porque o povo
japonês é faminto de informação.
Folha - O que ganha mais repercussão fora do Brasil, a violência
ou a arte realizada no país?
Sakamoto - Música, o Carnaval, samba, floresta, café, crianças
de rua assassinadas.
Folha - Quando será sua próxima
visita ``a trabalho'' ao Brasil?
Sakamoto - Antes do verão deste ano, para o show em tributo a
Jobim, com Paulo Jobim e Jacques.
Acreditamos que seja em agosto.
Disco: Ryuichi Sakamoto
Artista: Smoochy
Lançamento: BMG-Milan
Quanto: R$ 18 (em média)
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