São Paulo, sexta, 25 de abril de 1997.

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DISCO
Tecladista japonês lança o disco "Smoochy", com influência brasileira e canções com título em português
Ryuichi Sakamoto prepara volta ao Brasil

LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio

Chega ao Brasil, via selo Milan da gravadora BMG, o mais novo trabalho do compositor e tecladista japonês Ryuichi Sakamoto.
O CD ``Smoochy'', assim como seu anterior, ``1996'', tem conexão direta com o Brasil: dele participam três músicos brasileiros (Jacques Morelembaum, Vinícius Cantuária e Paula Morelembaum), um ``meio'' brasileiro (o guitarrista americano Arto Lindsay, que aqui viveu muitos anos) e há três composições com nome em português -``Insensatez'' (não é a de Tom Jobim), ``Poesia'' e ``Rio''.
A rigor, isso não é novidade no trabalho de Sakamoto, fã confesso tanto da música quanto de personalidades brasileiras, como Tom, Caetano Veloso e Edu Lobo.
O novo disco também não esconde as características principais do músico: arranjos sofisticados e riqueza sonora, permeados por abordagens muitas vezes inusitadas de instrumentos como o celo ou o teclado eletrônico.
O resultado é denso e elaborado, em muitos momentos remetendo para as maravilhosas trilhas sonoras que Sakamoto perpetrou para filmes como ``O Último Imperador'' e ``O Pequeno Buda''.
Em entrevista por escrito, de Nova York, onde vive, Sakamoto fala de suas preferências na música brasileira, afirma que, apesar de ter nascido em Nakano, em 1952, não se considera japonês e revela que estará no Brasil, para shows em homenagem a Tom Jobim, provavelmente em agosto.

Folha - É conhecida sua ligação com a música brasileira, a ponto de alguns críticos o considerarem ``discípulo'' de Tom Jobim. Isso é verdade? Quais outros compositores, além de Jobim, inspiram o ``côté'' brasileiro de sua música?
Sakamoto -
É uma honra eu poder ser considerado um discípulo de Jobim. Tenho certeza que estamos na mesma família musical. Nosso avô é Debussy. Além de Jobim, amo João Gilberto, Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso...
Folha - ``Smoochy'' tem a participação de três músicos brasileiros, de um quase brasileiro e composições com títulos em português. Só faltou uma música cantada na língua que se fala no Brasil. Isso vai acontecer um dia?
Sakamoto -
Bem, não sei. Meu conhecimento da língua brasileira é pobre, apesar de amá-la. Mas algumas de minhas músicas podem ser cantadas em português. Meu amigo Vinícius Cantuária está fazendo uma versão de ``Tango'', com Gal Costa. Ficaria feliz se cantores brasileiros cantassem minhas músicas em português.
Folha - Apesar de ter uma comunidade japonesa muito grande, o Brasil conhece e consome pouco a música de seu país. Quais artistas o sr. recomendaria e por quê?
Sakamoto -
Você quer dizer ``música japonesa''? Eu nunca me considerei japonês. Sou alguma outra coisa. Eu não conheço muito sobre música japonesa, por isso não posso recomendar nada.
Folha - No caminho inverso, que artistas brasileiros o sr. recomendaria a seus amigos japoneses?
Sakamoto -
Jobim, João Gilberto, Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso, Marisa Monte, Gal Costa, Leila Pinheiro...
Folha - Seu último disco traz uma canção chamada ``Tango'', com letra em espanhol e cantora de origem colombiana. O sr. pretende ampliar seu trânsito na América Latina? Qual sua opinião sobre a música do resto do continente?
Sakamoto -
Gosto da maior parte da música latina. ``Tango'' é sobre a Argentina. Por isso, a letra é em espanhol. Embora seja sobre a Argentina, a música parece ser muito mais brasileira.
Folha - Seu show com Jacques Morelembaum e Everton Nelson já foi visto por japoneses e europeus. Os brasileiros só conhecem esse trabalho por causa de ``1996'' e tiveram uma amostra ao vivo quando o sr. aqui esteve a convite de Morelembaum, em 1995. Haverá uma turnê de verdade aqui?
Sakamoto -
Adoraria ir para tocar com Jacques. Deve haver alguma pessoa ou instituição que possa me convidar para isso. Quem?
Folha - Os críticos mais puristas dizem que a música brasileira está numa fase de entressafra, abrindo espaços para subgêneros como o axé music e o pagode. O sr. conhece esses gêneros? Está de acordo com essa avaliação?
Sakamoto -
Não conheço esses gêneros. Ensine-me.
Folha - O sr., que sempre se envolveu com cinema, atuando ou realizando trilhas sonoras, conhece o cinema brasileiro?
Sakamoto -
Alguma coisa, porque Jacques e Caetano fizeram trilhas sonoras. Mas não é fácil conseguir informação sobre filmes brasileiros por aqui. Talvez seja mais fácil no Japão. Porque o povo japonês é faminto de informação.
Folha - O que ganha mais repercussão fora do Brasil, a violência ou a arte realizada no país?
Sakamoto -
Música, o Carnaval, samba, floresta, café, crianças de rua assassinadas.
Folha - Quando será sua próxima visita ``a trabalho'' ao Brasil?
Sakamoto -
Antes do verão deste ano, para o show em tributo a Jobim, com Paulo Jobim e Jacques. Acreditamos que seja em agosto.

Disco: Ryuichi Sakamoto
Artista: Smoochy
Lançamento: BMG-Milan
Quanto: R$ 18 (em média)

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