São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998

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Sou o melhor do romance policial, diz Ellroy

MARCELO REZENDE
especial para a Folha

O romancista norte-americano James Ellroy, 48, tornou-se um "autor popular" graças ao cinema, com a adaptação para as telas de "Los Angeles - Cidade Proibida", uma de suas principais obras.
O filme foi criticamente aclamado. E parte da atenção se dirigiu aos diálogos e situações criados por Ellroy, que antes da literatura já foi um vagabundo e viciado, figura constante e solitária na paisagem da Califórnia.
Segundo ele mesmo, em entrevista por telefone à Folha, tanto sua literatura quanto seu destino estão associados a uma tragédia ocorrida na infância: o assassinato de sua mãe.
Agora, a editora Record está lançando no Brasil "Tablóide Americano", mais uma investida de Ellroy no submundo de seu país.
Leia abaixo trechos da entrevista.

Folha - O sr. é tido como um inovador do gênero policial nos EUA. O que aconteceu dos clássicos do gênero -como Raymond Chandler- até seu trabalho?
James Ellroy -
Eu não sei. Há muito, muito tempo que não leio livros de Raymond Chandler. Só posso falar sobre meu próprio trabalho. Eu não leio outros autores de romances policiais.
Folha - Por quê?
Ellroy -
Porque eu sou o melhor em atividade. Só leio meus próprios livros. Tornei-me o melhor graças à minha aplicação. Trabalho árduo, você sabe. Mergulhando de maneira intensa em minhas próprias experiências, nos traumas que carrego comigo.
Folha - O sr. não escreve apenas sobre crimes, mas também sobre a história recente dos EUA.
Ellroy -
Acho que é isso. O que venho tentando fazer é reescrever a história dos EUA e de Los Angeles, a minha cidade. E acho que venho me dando bem com a tarefa. Tenho a vontade, a curiosidade, de escrever sobre a minha história, que se passou nesses lugares. Minha mãe foi assassinada quando eu tinha 10 anos.
Foi isso que me fez ficar interessado em crimes e mistério, e também na história social dos EUA dos anos 50. Eu vivo lá. Em vários sentidos. Vivi em Los Angeles por 16 anos. Eu não gosto da cidade. Não particularmente.
Eu gosto de recriar a cidade, especialmente nos anos 50. A década em que minha mãe morreu, e eu descobri o crime. Isso justifica meu interesse. Não quero saber da LA de hoje.
Folha - Nem o mito da máfia para o cenário cultural norte-americano lhe interessa?
Ellroy -
O crime organizado aparece no meu romance "Tablóide Americano", mas isso não me interessa muito.
Folha - A morte de sua mãe é o grande tema? No ano passado o sr. lançou um livro sobre ela: "My Dark Places".
Ellroy -
O livro foi uma das maiores experiências de toda a minha vida. Eu realmente investiguei o assassinato de minha mãe. Eu não descobri quem a matou, mas descobri muito sobre ela. Acho que foi o maior trabalho que já produzi. E sei também que logo que o terminei precisei voltar rapidamente para a ficção.
Folha - Depois do sucesso de "Los Angeles - Cidade Proibida", o sr. pretende trabalhar para o cinema escrevendo roteiros?
Ellroy -
Eu acho que o filme é maravilhoso, uma excelente adaptação de meu livro, mas não pretendo escrever nada especialmente para o cinema. Eu sou um autor de romances policiais. Isso é o que faço para ganhar a vida.



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