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Cineasta reproduz colapso em Turim
DA REPORTAGEM LOCAL
Júlio Bressane já tem três horas
de imagens de Turim, cidade que
marcou os últimos meses da produção de Nietzsche. Foi a cidade
onde o filósofo viveu a cena do colapso mental que encerrou, de repente, sua obra: ao ver um cavalo
sendo chicoteado, abraçou o pescoço do animal e desabou.
A cena deve estar em "Dias de
Nietzsche em Turim", cuja filmagem prossegue no Rio, com Fernando Eiras como Nietzsche.
(NS)
Folha - O que o fez se interessar
por Nietzsche em Turim?
Júlio Bressane - Li muitos anos,
conheço bem Nietzsche. E a passagem por Turim é crucial, um
momento paradoxal de fertilidade e mudez. Em oito meses, ele escreveu alguns dos seus textos
mais importantes e emudeceu.
Folha - O roteiro é seu?
Bressane - É, mas a criação do tema e o argumento foram da Rosa
Dias, minha mulher. Esse filme eu
comecei a fazer em 95, a primeira
vez em que fui a Turim. Depois
voltei outras vezes. Com isso fiz
uma parte do filme. A outra eu
vou filmar no Rio.
Folha - Em estúdio?
Bressane - São cenas em que ele
está em lugares de Turim que podem ser semelhantes. Por exemplo, a Cafeteria Fiori, que é famosa em Turim, é semelhante à Colombo. Eu filmaria não para falsear a Fiori, mas porque este é um
Nietzsche em português, brasileiro. A recepção de Nietzsche no
Brasil começa já em 1895.
Folha - Quando ele estava vivo?
Bressane - O João Ribeiro escreveu um ensaio em 1895. Nos últimos cem anos, foram centenas de
traduções, artigos, cadeiras universitárias que ensinam Nietzsche. Há um corpo em língua brasileira sobre Nietzsche. Como há
na França. Foi feito um livro sobre
a recepção de Nietzsche na França, a importância que ele teve na
língua francesa, a ferramenta em
que ele se tornou dentro do pensamento francês. O filme tem essas coisas e tem Nietzsche no centro, hoje, do pensamento.
Folha - Por que você diz isso?
Bressane - Os principais filósofos são nietzschianos. A filosofia
no mundo passa hoje por Nietzsche. Ele é, e será, duradouro ainda
por muitos anos.
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