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CRÍTICA
Filme expressa sintomas da nova barbárie
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Funny Games" (1997), a
crítica que Michael Haneke
fazia ao esquema de suspense dos
thrillers e à estilização da violência era tanto mais radical quanto
mais o cineasta sacrificava a sua liberdade de autor. Era como se
concluísse que só poderia criticar
esse esquema entregando-se a ele,
repetindo-o e dissecando-o.
Em "Código Desconhecido", o
diretor austríaco parte de uma estrutura menos rígida para ter
maior liberdade criativa e melhor
expressar, assim, tanto seu talento
quanto sua posição. É um filme
mais imperfeito, mas na exata
medida em que mais autoral.
Haneke faz sentir os sintomas
da nova barbárie e retoma um tema caro ao cinema do pós-guerra:
a banalização do atroz, para flagrar a ascensão do intolerável na
Europa contemporânea.
Na rua, um jovem francês humilha uma pedinte da Europa
Central. Um filho de imigrantes
africanos intervém a favor da
mendiga e acaba preso com ela.
Em casa, para não ouvir as surras
que os vizinhos dão na filha, uma
atriz (Juliette Binoche) aumenta o
som da televisão. A atriz não intervém, e a criança acaba morta.
Eis os fragmentos de uma situação (cronicamente) inviável.
Tornado simples fato social, o
atroz proliferou-se, ultrapassando a capacidade de reação: é a
constatação central do cinema do
pós-guerra -fundamental a cena
em que Binoche, fazendo o teste
para um filme, é aprisionada numa câmara de gás imaginária.
"Reaja!", ordena o diretor. "Mas
como?", pergunta-se ela.
"Como reagir?": é esse o questionamento que a atriz faz ao namorado, um fotojornalista que
acaba de voltar da guerra dos Bálcãs. Eles não sabem se querem ter
um filho, e é essa a preocupação
que parece inquietar Haneke: como criar uma criança num mundo assim? Como protegê-la dessa
sensação de pânico que as crianças surdas-mudas que abrem e fecham o filme tentam exprimir?
Código Desconhecido
Code Inconnu
Direção: Michael Haneke
Produção: França/Alemanha/Romênia,
2000
Com: Juliette Binoche e Thierry Neuvic
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco, Lumière e circuito
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