São Paulo, segunda, 25 de maio de 1998

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Exposição no centro Georges Pompidou, em Paris, reúne 500 obras de um dos fotógrafos mais geniais de sua época
Artista foi múlti e mídia

EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia

Em torno de 1920, a fotografia era uma jovem senhora de apenas setenta e poucos anos de idade. Flertava com a pintura e tinha problemas de identidade ao tentar imitá-la. Começava a ser reconhecida como um instrumento capaz de reproduzir o mundo real com alguma perfeição. O fotógrafo era, então, um alquimista maluco, e a fotografia, um documento sem muita credibilidade.
Eis que surgiu o franco-americano Man Ray. Bebendo na fonte do construtivismo e abraçando os ideais dadaístas e surrealistas, foi responsável pela ruptura histórica da fotografia, que finalmente se inseria na corrente do anarquismo estético e iniciava seu processo de maturidade como linguagem.
Man Ray é o empirista do surrealismo. Alguns artistas se deixaram influenciar por esse movimento estético. Outros eram o próprio movimento. É o caso de Man Ray, tido como representante oficial do surreal.
Como fotógrafo, alcançou a notoriedade como um excelente retratista. Inovando a técnica e o conceito do retrato. O fotografado deixou de ser um mero volume sem vida na frente da máquina. Ray se valia de fortes contrastes no preto-e-branco, deixando as áreas mais claras da imagem com uma forte tonalidade prateada. Por isso e também pelo enquadramento rigoroso, embora nada formal, imprimia uma presença quase tátil aos rostos.
Nos anos 30, associado aos surrealistas franceses, começou a explorar a fotografia realizada sem o uso da câmera. Colocava objetos tridimensionais sobre papéis fotossensíveis e os expunha à luz. Conseguia, assim, ao transpor o tridimensional para o bidimensional, "roubar" o volume das coisas do mundo, transformando-as em apenas linhas e contornos. Esses trabalhos foram chamados de "rayographs", pois, de fato, parecem radiografias dos objetos.
Mais que um alquimista maluco, Man Ray foi um grande filósofo da sua época e o primeiro artista multimídia, quando múlti e mídia ainda não constavam na linguagem verbal da época.



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