|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Exposição no centro Georges Pompidou, em Paris, reúne
500 obras de um dos fotógrafos mais geniais de sua época
Artista foi múlti e mídia
EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia
Em torno de 1920, a fotografia
era uma jovem senhora de apenas setenta e poucos anos de
idade. Flertava com a pintura e
tinha problemas de identidade
ao tentar imitá-la. Começava a
ser reconhecida como um instrumento capaz de reproduzir
o mundo real com alguma perfeição. O fotógrafo era, então,
um alquimista maluco, e a fotografia, um documento sem
muita credibilidade.
Eis que surgiu o franco-americano Man Ray. Bebendo na
fonte do construtivismo e abraçando os ideais dadaístas e surrealistas, foi responsável pela
ruptura histórica da fotografia,
que finalmente se inseria na
corrente do anarquismo estético e iniciava seu processo de
maturidade como linguagem.
Man Ray é o empirista do surrealismo. Alguns artistas se deixaram influenciar por esse movimento estético. Outros eram
o próprio movimento. É o caso
de Man Ray, tido como representante oficial do surreal.
Como fotógrafo, alcançou a
notoriedade como um excelente retratista. Inovando a técnica
e o conceito do retrato. O fotografado deixou de ser um mero
volume sem vida na frente da
máquina. Ray se valia de fortes
contrastes no preto-e-branco,
deixando as áreas mais claras
da imagem com uma forte tonalidade prateada. Por isso e
também pelo enquadramento
rigoroso, embora nada formal,
imprimia uma presença quase
tátil aos rostos.
Nos anos 30, associado aos
surrealistas franceses, começou
a explorar a fotografia realizada
sem o uso da câmera. Colocava
objetos tridimensionais sobre
papéis fotossensíveis e os expunha à luz. Conseguia, assim, ao
transpor o tridimensional para
o bidimensional, "roubar" o
volume das coisas do mundo,
transformando-as em apenas
linhas e contornos. Esses trabalhos foram chamados de "rayographs", pois, de fato, parecem radiografias dos objetos.
Mais que um alquimista maluco, Man Ray foi um grande
filósofo da sua época e o primeiro artista multimídia,
quando múlti e mídia ainda
não constavam na linguagem
verbal da época.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|