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Moura e Yamandú celebram latinidade em disco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Paulo Moura tem 71 anos, nasceu em São José do Rio Preto (SP)
e há cinco décadas exerce uma carioquice indiscutível. Yamandú
Costa tem 24, é gaúcho da quase-fronteira (Passo Fundo) e se radicou no Rio apenas em 2001. Em
que lugar neutro perfis tão diferentes poderiam se encontrar?
Resposta: América Latina.
Fazendo show até domingo no
Mistura Fina, no Rio, os dois levam para o palco o recém-lançado "El Negro del Blanco" (Biscoito Fino), CD em que, além de música brasileira, tocam peças de Argentina, Chile, Venezuela e Cuba.
"O disco é até uma crítica ao desinteresse do Brasil pela América
Latina", aponta Yamandú. "Ficamos sempre olhando para coisas
norte-americanas, européias, e
esquecemos como somos parecidos com as pessoas do nosso continente. Eu, quando viajo, procuro logo um latino para tomar um
trago e falar de igual para igual."
"Acabei de voltar da França e
raramente faço shows na América
Latina. É mais fácil tocar em Tóquio do que em Buenos Aires",
reforça Paulo Moura.
Questões político-culturais à
parte, os dois músicos foram para
o estúdio com 12 temas e muito
espaço para improvisações. Yamandú, mais do que Moura, acredita que é possível identificar afinidades entre os nacionais samba
e choro e gêneros vizinhos como
o tango e a valsa venezuelana.
Seu colega de disco é mais filosófico. "Nós trabalhamos muito
entre o escrito e o não-escrito.
Obedecemos às composições,
mas nas improvisações entraram
todas as nossas referências", diz o
clarinetista.
O projeto surgiu por acaso.
Convidado por Moura, em 2001,
para ser o violonista do show
"Eternamente Baden", em homenagem a Baden Powell, Yamandú
tocou canções latinas num ensaio.
Halina Grynberg, mulher de
Moura, empolgou-se e imaginou
o disco, agora realizado.
Para Moura, o trabalho enterra
uma antiga frustração: ele nunca
gostou muito de "Tangos e Boleros", disco que gravou em 1960, e
sempre sonhou com uma nova
incursão pela música latina.
Já Yamandú afirma que o CD
chega num momento em que ele,
mais conhecido, não é tão comparado com Raphael Rabello (1962-1995), outro virtuose do violão
que gravou um disco com Moura,
em 1992. "Essa chatice já acabou.
Não vim suprir a falta de ninguém
e estou longe de chegar aonde o
Raphael chegou", diz.
Na formação do repertório do
disco, o violonista entrou mais
com os temas latinos, a começar
pela faixa-título, composta por
ele. Já Moura é íntimo das peças
que integram a porção verde-amarela do CD, como a de Jacob
do Bandolim.
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