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CRÍTICA
Virtuosismo dialoga com a suavidade em CD
DA SUCURSAL DO RIO
Se não houvesse outros, "El
Negro del Blanco" já valeria por um mérito: Yamandú
Costa conseguiu um interlocutor sob medida. O virtuosismo
do violonista tem uma forte
tendência autofágica, exibicionista, que acaba reforçada em
companhia de um showman
como o percussionista Naná
Vasconcelos.
Já Paulo Moura é suave em
tudo, na fala e nos sopros. No
CD, empunha apenas seu instrumento preferido, a clarineta,
que confere leveza mesmo às
mais rasgadas improvisações
das 12 faixas. O saudável efeito
colateral disto é um Yamandú
mais contido, dialogando de
fato com Moura, muitas vezes
atuando apenas como escada
para o colega.
Talvez o momento mais marcante seja "La Paloma", composição do século 19, do espanhol Sebastian de Yradier, que
vai ecoar por México, Caribe e
outras áreas de passado colonial. Yamandú abre a faixa com
uma citação de "Cucurrucucú
Paloma", a canção de Tomás
Méndez recuperada por Caetano Veloso em "Fina Estampa
ao Vivo", e faz com Moura uma
ode à delicadeza.
Talvez não seja por acaso que
hits como "De Camino a la Vereda" (Ibrahim Ferrer), de
"Buena Vista Social Club", e
"Gracias a la Vida" (Violeta
Parra), hino político chileno,
sejam as menores faixas do CD.
A viagem sonora rende mais
quando os músicos executam
temas com os quais têm maior
intimidade, como as músicas
argentinas (de Piazzola, Atahualpa Yupanqui e Marianito
Moraes), velhas conhecidas do
violonista gaúcho, e as peças de
João Pernambuco/ Turíbio
Santos e Raul de Barros, íntimas de Moura.
Temas menos em voga, como
"Um Chorinho em Aldeia" (Severino Araújo/ Ari Santos),
"Duerme Negrito" (Atahualpa
Yupanqui) e "Simplicidade"
(Jacob do Bandolim), são o
ponto alto. Neles, o CD se afirma grande exatamente por ser
pequeno: suave, leve, íntimo.
(LFV)
El Negro del Blanco
Artistas: Paulo Moura e Yamandú Costa
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 20
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