São Paulo, sábado, 25 de junho de 2005

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Caio Fernando Abreu ganha novo solo

DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns contos de Caio Fernando de Abreu reunidos no livro "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso" já renderam bem-sucedidos monólogos, como "A Dama da Noite" (Gilberto Gawronski) e "Réquiem para um Rapaz Triste" (Rodolfo Lima).
Uma nova produção visita o tema recorrente na obra do gaúcho Abreu (1948-96): o amor, sentimento que nunca é manifestado tão simples e direto assim em se tratando do autor de "Morangos Mofados" (1982).
A começar pelo título. "Uma Praiazinha de Areia Bem Clara, Ali, na Beira da Sanga", conto e agora solo interpretado por Ando Camargo e dirigido por Cássio Scapin, faz temporada a partir de hoje no Sesc Belenzinho.
Um rapaz escreve/narra uma carta para um amigo que deixou para trás há sete anos, na pequena, distante e imaginária Passo da Guanxuma. No quartinho de uma pobre pensão, numa agitada São Paulo dos anos 80, o personagem deita a pena sobre memórias, saudades nutridas pelo que foi, mas, principalmente, pelo que deveria ter sido. Há uma atmosfera intimista, que perpassa as sensações do corpo, o sentimento amoroso e o espaço onírico, solar, de borboletas que anunciam a primavera. Idílio que ganha reviravolta no desfecho surpreendente.
Segundo Scapin, a carta é enunciada como se fosse ao pé do ouvido do interlocutor que não aparece. "É quase uma confissão", diz o diretor. Ele já atuou em três monólogos, entre eles "Memórias Póstumas de Brás Cubas".
O conto de Abreu, menos de 12 páginas, está preservado no espetáculo. "É um texto que possibilitaria um trabalho de ator bem delicado. Caio lapidou-o feito pedra preciosa, em cada vírgula, em cada fala, em cada gesto", diz o ator Camargo, 27.
Demais elementos também estão colocados a favor da narrativa e do intérprete. A cenografia de Ulisses Cohn procura ser essencial: uma cama, uma escrivaninha, uma cadeira e uma luminária demarcam o realismo alicerçado justamente sobre o chão de areia, cerca de 10 cm onde o personagem procura se equilibrar.
"O espaço vivo da areia cruza com clausura do quarto", diz Scapin. A metáfora deve ser enriquecida pelo subsolo do Belenzinho, onde a peça é encenada.
Também fazem parte da equipe o figurinista Fabio Namatame e a desenhista de luz Marisa Bentivegna. (VS)


Uma Praiazinha de Areia Bem Clara, Ali, na Beira da Sanga
Onde:
Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, SP, tel. 0/xx/11/ 6602-3700)
Quando: estréia hoje, às 19h30; sáb. e dom., às 19h30; até 14/8
Quanto: R$ 7,50 a R$ 15


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