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Caio Fernando Abreu ganha novo solo
DA REPORTAGEM LOCAL
Alguns contos de Caio Fernando de Abreu reunidos no livro
"Os Dragões Não Conhecem o
Paraíso" já renderam bem-sucedidos monólogos, como "A Dama da Noite" (Gilberto Gawronski) e "Réquiem para um Rapaz
Triste" (Rodolfo Lima).
Uma nova produção visita o tema recorrente na obra do gaúcho
Abreu (1948-96): o amor, sentimento que nunca é manifestado
tão simples e direto assim em se
tratando do autor de "Morangos
Mofados" (1982).
A começar pelo título. "Uma
Praiazinha de Areia Bem Clara,
Ali, na Beira da Sanga", conto e
agora solo interpretado por Ando
Camargo e dirigido por Cássio
Scapin, faz temporada a partir de
hoje no Sesc Belenzinho.
Um rapaz escreve/narra uma
carta para um amigo que deixou
para trás há sete anos, na pequena, distante e imaginária Passo da
Guanxuma. No quartinho de uma
pobre pensão, numa agitada São
Paulo dos anos 80, o personagem
deita a pena sobre memórias, saudades nutridas pelo que foi, mas,
principalmente, pelo que deveria
ter sido. Há uma atmosfera intimista, que perpassa as sensações
do corpo, o sentimento amoroso
e o espaço onírico, solar, de borboletas que anunciam a primavera. Idílio que ganha reviravolta no
desfecho surpreendente.
Segundo Scapin, a carta é enunciada como se fosse ao pé do ouvido do interlocutor que não aparece. "É quase uma confissão", diz o
diretor. Ele já atuou em três monólogos, entre eles "Memórias
Póstumas de Brás Cubas".
O conto de Abreu, menos de 12
páginas, está preservado no espetáculo. "É um texto que possibilitaria um trabalho de ator bem delicado. Caio lapidou-o feito pedra
preciosa, em cada vírgula, em cada fala, em cada gesto", diz o ator
Camargo, 27.
Demais elementos também estão colocados a favor da narrativa
e do intérprete. A cenografia de
Ulisses Cohn procura ser essencial: uma cama, uma escrivaninha, uma cadeira e uma luminária demarcam o realismo alicerçado justamente sobre o chão de
areia, cerca de 10 cm onde o personagem procura se equilibrar.
"O espaço vivo da areia cruza
com clausura do quarto", diz Scapin. A metáfora deve ser enriquecida pelo subsolo do Belenzinho,
onde a peça é encenada.
Também fazem parte da equipe
o figurinista Fabio Namatame e a
desenhista de luz Marisa Bentivegna.
(VS)
Uma Praiazinha de Areia Bem Clara, Ali, na Beira da Sanga
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 915, SP, tel. 0/xx/11/ 6602-3700)
Quando: estréia hoje, às 19h30; sáb. e
dom., às 19h30; até 14/8
Quanto: R$ 7,50 a R$ 15
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