São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS/LANÇAMENTOS

Coleção do Metropolitan usa didatismo em livros dedicados a Monet, Degas, Da Vinci e Van Gogh

Série desvenda clássicos da arte para crianças

RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO

Didatismo em arte é campo minado -como reproduzir a experiência de forma direta e objetiva, quando é no oposto desses termos que ela se dá?
Daí que a coleção do The Metropolitan Museum of Art, de Nova York, tenha alcançado certo êxito nesse campo. Seu autor, o historiador da arte Richard Mülberger, optou por radicalizar as premissas objetivas para falar ao público infanto-juvenil o que faz de uma grande obra uma grande obra.
Não gasta tempo (do leitor) nem espaço com contextualizações históricas, comparações subjetivas ou eruditismo. Em um assunto muitas vezes árido mesmo para o público adulto, uma espécie de isenção vocabular, fora do dialeto crítico, faz bem -inclusive para leitores adultos.
Nos primeiros quatro volumes da série, lançada no Brasil pela Cosac & Naify -dedicados a Leonardo da Vinci, Vincent van Gogh, Claude Monet e Edgar Degas-, o autor encontra, não sem bastante esforço, o tom certo.
A estratégia principal consiste em descrever os acontecimentos -biográficos ou pictóricos-, dando eloquência aos fatos e deixando os fios soltos para o leitor-iniciante montar as peças ao seu próprio entendimento.
Os quatro volumes têm a mesma estrutura: uma curtíssima biografia no início, seguida de análises detidas de fases, exame minucioso de obras e um quadro final, bastante esquemático, mostrando os quatro pontos estilísticos pelos quais os artistas se tornam "inconfundíveis".
Nesse ponto, além da seriedade de abordagem, é a qualidade gráfica, com boas reproduções em cores, que dá a possibilidade de o leitor perceber os detalhes de cada pintura -sintomaticamente, só pintores foram escolhidos pela série, que ainda vai destinar volumes a Picasso, Rembrandt, Rafael, Goya e Bruegel.
Tomemos o caso, tão emblemático na pintura moderna, de Claude Monet (1840-1926). "O que Faz de um Monet um Monet?" dá conta da progressiva "abstração" que a pintura do impressionista vai assumindo, até transbordar na efusividade visual das séries das Ninféias, à qual se dedica nos últimos 25 anos de vida.
A descrição das pinturas, apresentadas nas legendas, e o uso de "frases" do pintor sobre o que esse momento representou em sua pintura e sua vida desvendam para as crianças um dos momentos altos da arte moderna, sem ser tedioso ou indigesto. Lido em paralelo com o volume dedicado a Degas, o texto ajuda a juntar os tais pontos para o leitor jovem.
É criticável a falta de datas acompanhando as reproduções, recurso que facilitaria ainda mais a compreensão desse percurso.
Há, ainda, uma certa curiosidade em ver como uma série dessas se comportaria observando artistas contemporâneos, que, ao contrário dos modernos, não têm mais na idéia de estilo um aliado tão poderoso para se diferenciar de seus pares.
Somados os tentos, Mülberger não consegue, é evidente, explicar o que faz de uma obra-prima uma obra-prima, independentemente do artista que a tenha criado -embora dê pistas certeiras para o leitor, pelo menos, se interessar por essa outra pergunta, que move todos os esforços nessa área.

O que Faz de um Da Vinci um Da Vinci?, O que Faz de um Monet um Monet?, O que Faz de um Van Gogh um Van Gogh? e O que Faz de um Degas um Degas?     
Autor: Richard Mülberger
Editora: The Metropolitan Museum of Art/Cosac & Naify
Quanto: R$ 34, cada um (48 págs.)



Texto Anterior: Da rua - Fernando Bonassi: O adúltero
Próximo Texto: García Márquez ganha versão infantil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.