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CRÍTICA
Livro instaura ordem no caos que foi aquele dia
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma vez, instado a comentar
os efeitos da Revolução
Francesa (1789-1799), o líder comunista chinês Mao Tsé-tung,
morto em 1976, disse que ainda
era cedo para avaliar. Em termos
históricos, o mesmo ocorre com a
queda das torres gêmeas nos ataques de 11 de setembro de 2001.
Em termos jornalísticos, porém,
não estará errado quem disser
que este foi até hoje o evento mais
registrado pela mídia e por seus
protagonistas na história contemporânea, de câmeras profissionais
de TV do mundo inteiro a máquinas fotográficas descartáveis ou
filmadoras usadas para o aniversário das crianças, de e-mails disparados ainda dos computadores
dos escritórios das torres em chamas a recados telefônicos deixados na casa dos amados por passageiros de aviões que sabiam que
estavam condenados.
É também -pelo menos para
este repórter, que estava lá na manhã daquele dia e tratou do assunto pelos dois anos seguintes- o
evento que marca o início do fim
do Império Americano e o começo de fato do século 21, que tinha
iniciado de direito com o "bug do
milênio", aquele que nunca veio.
O que veio foi a primeira investida do grupo terrorista Al Qaeda
em solo americano de maneira irrefutável, irresistível e cinematográfica. Passado o choque inicial,
o acontecimento virou dezenas de
milhares de livros, especiais de
TV, filmes, peças e até quadrinhos
no mundo inteiro, do monólogo
de Tim Robbins à ficção de Ian
McEwan, da "graphic novel" de
Art Spiegelman ao CD e show de
Bruce "The Boss" Springsteen.
Por que, então, perder tempo
em lançar mais uma obra sobre o
tema, como fizeram os repórteres
Jim Dwyer e Kevin Flynn neste
"102 Minutos"? Porque faltava alguém com paciência suficiente e
discernimento bastante para destrinchar horas e horas de fitas de
vídeo e áudio e quilômetros e quilômetros de textos oficiais, mensagens eletrônicas e fontes confiáveis registrados naquele dia e então tentar dar ordem ao caos.
Conseguiram.
Se os 102 minutos que vão do
choque do primeiro avião na primeira torre à queda da segunda
torre eram um caso à procura de
duas almas estóicas que os explicasse, encontraram na figura de
Dwyer e Flynn. Eles fogem do relatorial costurando a narrativa
com histórias dos personagens, os
cerca de 3.000 que perderam a vida naquele dia, os 12 mil que escaparam e suas famílias, o que "humaniza" a narrativa.
O conflito contado a partir do
ponto de vista dos atingidos -a
população civil- já deu obras-primas como "Hiroshima", de
John Hersey. Este chega perto.
102 Minutos - A História Inédita da Luta pela Vida nas Torres
Gêmeas
Autores: Jim Dwyer e Kevin Flynn
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 34,50 (332 págs.)
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