São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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CRÍTICA

Livro instaura ordem no caos que foi aquele dia

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma vez, instado a comentar os efeitos da Revolução Francesa (1789-1799), o líder comunista chinês Mao Tsé-tung, morto em 1976, disse que ainda era cedo para avaliar. Em termos históricos, o mesmo ocorre com a queda das torres gêmeas nos ataques de 11 de setembro de 2001.
Em termos jornalísticos, porém, não estará errado quem disser que este foi até hoje o evento mais registrado pela mídia e por seus protagonistas na história contemporânea, de câmeras profissionais de TV do mundo inteiro a máquinas fotográficas descartáveis ou filmadoras usadas para o aniversário das crianças, de e-mails disparados ainda dos computadores dos escritórios das torres em chamas a recados telefônicos deixados na casa dos amados por passageiros de aviões que sabiam que estavam condenados.
É também -pelo menos para este repórter, que estava lá na manhã daquele dia e tratou do assunto pelos dois anos seguintes- o evento que marca o início do fim do Império Americano e o começo de fato do século 21, que tinha iniciado de direito com o "bug do milênio", aquele que nunca veio.
O que veio foi a primeira investida do grupo terrorista Al Qaeda em solo americano de maneira irrefutável, irresistível e cinematográfica. Passado o choque inicial, o acontecimento virou dezenas de milhares de livros, especiais de TV, filmes, peças e até quadrinhos no mundo inteiro, do monólogo de Tim Robbins à ficção de Ian McEwan, da "graphic novel" de Art Spiegelman ao CD e show de Bruce "The Boss" Springsteen.
Por que, então, perder tempo em lançar mais uma obra sobre o tema, como fizeram os repórteres Jim Dwyer e Kevin Flynn neste "102 Minutos"? Porque faltava alguém com paciência suficiente e discernimento bastante para destrinchar horas e horas de fitas de vídeo e áudio e quilômetros e quilômetros de textos oficiais, mensagens eletrônicas e fontes confiáveis registrados naquele dia e então tentar dar ordem ao caos.
Conseguiram.
Se os 102 minutos que vão do choque do primeiro avião na primeira torre à queda da segunda torre eram um caso à procura de duas almas estóicas que os explicasse, encontraram na figura de Dwyer e Flynn. Eles fogem do relatorial costurando a narrativa com histórias dos personagens, os cerca de 3.000 que perderam a vida naquele dia, os 12 mil que escaparam e suas famílias, o que "humaniza" a narrativa.
O conflito contado a partir do ponto de vista dos atingidos -a população civil- já deu obras-primas como "Hiroshima", de John Hersey. Este chega perto.


102 Minutos - A História Inédita da Luta pela Vida nas Torres Gêmeas
    
Autores: Jim Dwyer e Kevin Flynn
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 34,50 (332 págs.)


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