São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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Artistas europeus mostram hoje as obras do projeto Laboratório, temporada de dois meses no Nordeste
Suíça faz arte para a Paraíba ver

Roberto Courã/Divulgação
Forno artesanal usado por Carmen Perrin em Sousa, Paraíba


FERNANDO OLIVA
da Redação

A artista plástica Carmen Perrin pegou um ônibus em João Pessoa para desembarcar, sete horas e 450 km depois, em Souza.
Foi lá que ela encontrou a matéria-prima para sua obra, fornos artesanais de argila com seis metros de comprimento por dois metros e meio de altura. Sua intervenção artística no sertão -documentada em vídeo, slides e catálogos-, mais as criações de pintores, escultores, fotógrafos e videoartistas, serão apresentadas hoje em João Pessoa e nesta quinta-feira em São Paulo.
Por dois meses, esse grupo de 13 artistas vindos da Suíça abancou-se na Paraíba para produzir a partir da experiência local. O projeto Laboratório estréia hoje suas obras em espaços tão diversos quanto praias, calçadas, um coreto, um mosteiro, pontos de ônibus e ônibus que circulam pela orla.
Pelo menos uma das obras já criou polêmica. A série "Os Sonhos Brasileiros" motivou protesto do artista plástico Mário Simões, que pichou trabalhos de três artistas (leia texto abaixo).
"A idéia era chegar aqui sem idéias de projetos nem material, "sem nada no bolso', trabalhar com o que houvesse à disposição", diz Carmen, que também é uma das curadoras do intercâmbio, ao lado de Fabiana de Barros (artista brasileira fixada em Genebra) e Jean Stern (artista suíço).
"Queríamos nos apropriar de algo e depois devolver para a população, mas carregado de elementos que evidenciassem as diferenças culturais", diz Carmen.
Assim fez Goria, fotógrafa que mudou um pouco a paisagem urbana com suas instalações no interior de pontos de ônibus. Depois de fotografar prédios em construção na periferia, ela transformou as imagens em cartazes e cobriu as paredes de concreto com eles.
Como só concebeu a obra ao chegar à Paraíba, foi obrigada a produzir sua própria cola para afixar os painéis -o que fez usando goma de tapioca, componente básico de um prato típico local.
Outra artista que se valeu, literalmente, da matéria-prima paraibana foi Elizabeth Arpagaus. Para criar sua obra na praia de Jacumã (18 km ao sul de João Pessoa) ela retirou a argila amarela de uma montanha próxima e moldou formas geométricas na areia.
As figuras são pouco a pouco levadas pela maré, criando um interessante efeito de aquarela, filmado e fotografado pela artista.
Fabiana de Barros preferiu trabalhar com a "matéria humana" da Paraíba. Na praia de Cabo Branco construiu seu "Fiteiro Cultural", quiosque de madeira em que ela se instala todas as tardes. O ambiente (também uma referência à obra do carioca Hélio Oiticica) funciona como ateliê e ponto de encontro com interessados, curiosos e amigos. "Queria estar disponível e vulnerável para o espectador de arte", diz ela.
Na mesma praia onde Fabiana interage com o público, circula a obra de Elizabeth Zahnd. O vídeo "Transmissão", exibido na linha Cabo Branco, associa sinais de código morse em alemão ao seu correspondente em português, metáfora de uma comunicação truncada entre as duas culturas.
O Laboratório, orçado em R$ 110 mil, foi custeado pela Fundação Pró-Helvétia, com o apoio do governo da Paraíba e da prefeitura de João Pessoa. Em 1999, cerca de 15 brasileiros devem ir para a Suíça.



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