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ARTES
Com produção gráfica impecável e tradução caprichada, obra traz seção sobre impacto das conquistas napoleônicas no Brasil
Catálogo vê devoção francesa por Napoleão
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo alguém tão britânico
como Sir Arthur Conan
Doyle (1859-1930), criador do detetive Sherlock Holmes, tinha fascínio pela França napoleônica.
Conan Doyle tem também um
personagem bem menos conhecido que Holmes, o oficial de cavalaria francês Gerard, extremamente fiel ao imperador Napoleão 1º e protagonista de dois romances.
O maior conhecedor das campanhas napoleônicas hoje é provavelmente o historiador militar
David Chandler, também britânico.
Se nas ilhas que mais ferrenhamente se opuseram ao primeiro
imperador dos franceses é possível achar admiradores desse calibre, fácil é imaginar o culto devotado a Napoleão Bonaparte (1769-1821) na França.
O catálogo da exposição "Napoleão" é um bom exemplo dessa
devoção. Basta ver que o primeiro
conjunto de imagens -um dos
maiores- , entre as páginas 68 e
131, se intitula simplesmente "A
Glória".
A era napoleônica tem na França o mesmo "status" que as Grandes Descobertas têm em Portugal
-o momento histórico no qual o
país mais influenciou os destinos
do planeta.
Mas assim como há quem critique a expansão imperial portuguesa, lembrando fatos como o
massacre dos índios brasileiros
ou a feroz cruzada contra muçulmanos na Ásia e África, Napoleão
também é um alvo de críticas severas.
O adjetivo "bonapartista" é usado para designar um militar salvador da pátria que toma o poder.
Quando se lembra que sua solução para a "ralé" parisiense foi um
golpe de metralha, é fácil de entender porque a esquerda detesta
o pequeno imperador.
Glorificar a mortandade que as
guerras napoleônicas provocaram não é, portanto, politicamente correto. A exposição e o catálogo procuram mostrar outras facetas desse período histórico que leva o nome de um "homem excepcional", na definição de Thierry
Lentz, curador geral da exposição
e diretor da Fundação Napoleão.
"Foi na época de Napoleão Bonaparte que surgiu um Direito
novo, apoiado na Declaração dos
Direitos do Homem de 1789 e no
Código Civil de 1804, que acabou
por conquistar, desta vez de modo pacífico, uma grande parte do
mundo", escreveu no prefácio o
consultor científico da exposição,
Bernard Chevallier.
Esse "homem excepcional" começou a carreira como um obscuro oficial de artilharia. Nascido
em uma ilha italiana recém anexada pela França, a Córsega, ele
foi batizado Napoleone Buonaparte. Afrancesou o nome para
seguir a carreira militar na França. A Revolução Francesa (1789) e
as guerras consequentes fizeram
sua carreira decolar. Seu gênio
militar fez com que se tornasse general de brigada aos 24 anos de
idade.
A exposição e o catálogo incluem objetos ligados às campanhas militares, mas também à
"arte de viver" durante o império,
à clássica expedição ao Egito que
revelou essa antiga civilização aos
europeus, à sua segunda mulher,
Maria-Luíza, e ao seu exílio e
morte na remota ilha de Santa
Helena, no Atlântico Sul.
Há também uma interessante
seção sobre o impacto das conquistas napoleônicas no Brasil.
Indiretamente, Napoleão apressou a independência do país, pois
a conquista francesa de Portugal
fez com que a corte viesse para o
Rio de Janeiro em 1808. Tornado
a sede da monarquia portuguesa,
o país tornou-se maduro para o filho do rei decretar sua independência em 1822.
A tradução é caprichada -como o texto é bilíngue, fica fácil
apanhar erros. Alguns pequenos
passaram, como a errada tradução de "armée" por "armada",
quando o certo é "exército".
A produção gráfica é impecável,
com destaque para fotos com detalhes ampliados dos objetos que
mostram como são obras de arte
magníficas.
Dê-se destaque ou à glória ou ao
horror, não há como ficar indiferente à epopéia napoleônica.
Catálogo da exposição "Napoleão"
Autor: Vários entre eles Bernard
Chevallier, Karine Huguenaud, Thierry
Lentz e Maria Izabel Branco Ribeiro
Lançamento: Editora Faap
Quanto: R$ 300 (342 págs., edição
bilíngue francês-português)
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