|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTE/CIDADE 3
Artista criou sua instalação a partir de levantamento da vegetação encontrada nas indústrias Matarazzo
Carlos Vergara abre sua "farmácia baldia"
da Reportagem Local
O projeto Arte/Cidade 3 já tinha um campeão de audiência: a instalação
criada pelo artista carioca
Carlos Vergara,
nas indústrias Matarazzo. Isso
porque, mesmo antes de inaugurado, o trabalho já despertava interesse dos trabalhadores do local.
Ligado à fitoterapia (tratamento
de doenças com plantas), Vergara
percebeu, em uma de suas primeiras visitas ao local, a incidência de
plantas com fins terapêuticos.
O passo seguinte foi chamar um
amigo paisagista, Oscar Bressane,
que realizou um levantamento de
52 espécies de plantas no local, como jurubeba, quebra-pedra, abacateiro e outras.
Em seguida, contactou o departamento de botânica da USP, que
se dispôs a visitar o local e identificou mais 30 espécies, grande parte
delas com algum uso medicinal.
"Percebi nas plantas um roteiro
que me interessava e pensei então
em montar, poeticamente, uma
farmácia baldia", disse Vergara.
O passo seguinte foi localizar no
terreno a incidência das plantas e
identificar os locais com grandes
estandartes de bambu e um código
simplificado de cores, de acordo
com seu fim terapêutico. O sistema
respiratório, por exemplo, foi
identificado com a cor azul; o circulatório, com o vermelho; e o digestivo, com o preto.
A farmácia de Vergara termina
aí. O departamento de Botânica da
USP coletou 32 das plantas do local, classificou-as, secou-as e prensou-as para armazenamento. Serão dispostas atrás de vidros que
lembram os de uma farmácia tradicional, mas que remetem à farmácia de uma obra conceitual, já
que guardam também seus nomes
pintados na parede.
Doze delas serão privilegiadas e
mantidas, secas, presas em arcos
de ferro no centro da instalação,
que se completa com uma série de
ilustrações retiradas de um livro de
medicina caseira que mostra as
mazelas do corpo. As ilustrações
circundam uma pichação que já
existia no local e que representa
um coração.
A farmácia de Vergara estabelece
relações ainda com o fluxo da estrada de ferro, já que muitas das
plantas encontradas no local não
são nativas do Brasil, mas da África, Europa e Ásia, e com a marginalidade em que as indústrias Matarazzo se encontravam. "Quis
mostrar que essa área baldia ainda
guarda tesouros da cidade, mas
que, por preconceito, são marginalizados, assim como esse tipo de
medicina", disse.
(CF)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|