|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Sueco não é ruim, mas não é isso tudo
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
Fala-se muito dessa
trilogia "Millennium" e desse autor,
Stieg Larsson. Fala-se demais. E pode acreditar: diferentemente do que o marketing mundial afirma, não estamos diante de um novo estilo de romances policiais, de
um novo gênio do gênero, de
uma obra totalmente original. Contracapa da edição
nacional: "A série surge como uma das mais originais
criações do gênero de mistério desde "O Nome da Rosa'".
Que exagerado!
É que as empresas -ironicamente, um dos alvos do esquerdista Larsson nesse primeiro volume- têm muito a
ganhar ao vender "Os Homens que Não Amavam as
Mulheres" como o novo "O
Código Da Vinci".
Um filme já foi produzido,
com estréia programada para fevereiro na Suécia; outros
deverão seguir. O livro foi
vendido para o mundo inteiro; entrou na lista de mais
vendidos em quase todos os
países. E isso não é de forma
alguma uma prova de qualidade, visto o já citado "Código", tão raso quanto possível,
livro e filme.
A trilogia de Larsson vendeu milhões na Europa. Poderia ter vendido bilhões;
ainda assim, seria exagero dizer que inova. O primeiro livro, ao menos, é ordinário,
não no sentido de ser muito
ruim, mas no sentido de que
sua trama, estilo ou personagens se confundem com a
maioria dos livros do gênero.
Existem autores aptos aos
elogios que os departamentos de marketing estão associando ao falecido Larsson.
Se quiséssemos uma injeção
de porrada, por exemplo,
bastaria procurar os últimos
livros do norte-americano
James Ellroy, mais sangüinário e sexual do que Elmore
Leonard nunca imaginou.
Se a intenção fosse uma
pegada mais literária, o italiano Marcello Fois chega a
requintes que o belga Georges Simenon, por exemplo,
não atingiu. Todos eles são
melhores que Larsson. O que
não significa que o sueco seja
ruim. Apenas que está sendo
falado demais.
OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
Autor: Stieg Larsson
Tradução: Paulo Neves
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (528 págs.)
Avaliação: regular
Texto Anterior: Livros: Chave do êxito de autor sueco está no otimismo Próximo Texto: Crítica/"Berlin Alexanderplatz": Restaurada e na íntegra, obra-prima de Fassbinder chega a SP Índice
|