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Caso levou a acordo inédito
de Nova York
O episódio retratado por "The
Insider" foi fundamental para que
os EUA conseguissem chegar, no
final do ano passado, a um acordo
inédito com os fabricantes de cigarros do país. Eles se comprometeram a pagar US$ 246 bilhões,
nos próximos 25 anos, a um fundo para financiar o atendimento a
pessoas que sofrem de doenças
relacionadas ao fumo em todo o
país.
Até o depoimento de Wigand,
as empresas se defendiam nos tribunais dizendo não conhecer as
propriedades viciantes da nicotina, argumentando também não
estar comprovada a relação entre
o fumo e algumas doenças.
Portanto, não poderiam ser
acusadas de estar deliberadamente prejudicando a saúde dos fumantes.
O depoimento do ex-executivo
a um tribunal no Mississipi, em
95, fez com que houvesse o primeiro acordo do gênero com a indústria do tabaco. A evidência de
que não só conheciam as propriedades da nicotina como também
adicionavam mais substâncias
cancerígenas ao cigarros para
manter o vício fez com que as empresas negociassem acordos com
os outros 48 Estados norte-americanos.
Mas, para a vida particular de
Wigand, o episódio foi devastador. Ele acabou se separando da
família, teve o passado devassado
por investigações movidas pela
companhia em que trabalhava e
foi ameaçado de morte várias vezes. Hoje, ele dirige uma fundação
de combate ao tabagismo entre
crianças e adolescentes.
Para o produtor do "60 Minutes", Lowell Bergman, o episódio
também foi desgastante, mas parece ter trazido menos problemas
que a Wigand. Depois de se desligar da rede CBS, ele foi trabalhar
como documentarista free-lance.
Hoje, dá aulas na Universidade da
Califórnia, em Berkeley, e é colaborador do "New York Times".
Melodrama real
Amigo do diretor Michael
Mann, Bergman colaborou diretamente com a produção do roteiro. Ele afirma ter ficado satisfeito com o resultado final do filme,
ao contrário de Mike Wallace, de
81 anos, apresentador do "60 Minutes" há mais de 30 anos, desde
que o programa foi ao ar pela primeira vez.
Wallace, que no filme aparece
aceitando a censura imposta pela
CBS ao programa, para só mais
tarde mudar de posição, afirma
que o diretor foi irresponsável ao
retratar seu papel no episódio.
"Se isso é entretenimento, porque então usar meu nome para
colocar na minha boca palavras
que eu nunca disse? Todos sabem
qual foi minha posição no caso.
Mas não posso aceitar ser retratado como uma pessoa que perdeu
o senso de moral", reclamou o âncora para o "New York Times".
Assim como ele, diretores da
CBS afirmam que o filme carrega
nas tintas contra a rede de TV enquanto faz de Bergman e de Wigand heróis acima de qualquer
deslize humano.
A resposta do diretor Michael
Mann é despreocupada. "Apesar
de ser baseado em fatos reais, o
filme é um drama. E, no reino do
drama, muda-se tudo. E muda-se
tudo para que signifique exatamente o que significava antes",
afirma ele, que sustenta que "The
Insider" é fiel aos fatos principais
da história real.
(MG)
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