São Paulo, Quinta-feira, 25 de Novembro de 1999


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Caso levou a acordo inédito

de Nova York


O episódio retratado por "The Insider" foi fundamental para que os EUA conseguissem chegar, no final do ano passado, a um acordo inédito com os fabricantes de cigarros do país. Eles se comprometeram a pagar US$ 246 bilhões, nos próximos 25 anos, a um fundo para financiar o atendimento a pessoas que sofrem de doenças relacionadas ao fumo em todo o país.
Até o depoimento de Wigand, as empresas se defendiam nos tribunais dizendo não conhecer as propriedades viciantes da nicotina, argumentando também não estar comprovada a relação entre o fumo e algumas doenças.
Portanto, não poderiam ser acusadas de estar deliberadamente prejudicando a saúde dos fumantes.
O depoimento do ex-executivo a um tribunal no Mississipi, em 95, fez com que houvesse o primeiro acordo do gênero com a indústria do tabaco. A evidência de que não só conheciam as propriedades da nicotina como também adicionavam mais substâncias cancerígenas ao cigarros para manter o vício fez com que as empresas negociassem acordos com os outros 48 Estados norte-americanos.
Mas, para a vida particular de Wigand, o episódio foi devastador. Ele acabou se separando da família, teve o passado devassado por investigações movidas pela companhia em que trabalhava e foi ameaçado de morte várias vezes. Hoje, ele dirige uma fundação de combate ao tabagismo entre crianças e adolescentes.
Para o produtor do "60 Minutes", Lowell Bergman, o episódio também foi desgastante, mas parece ter trazido menos problemas que a Wigand. Depois de se desligar da rede CBS, ele foi trabalhar como documentarista free-lance. Hoje, dá aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e é colaborador do "New York Times".



Melodrama real
Amigo do diretor Michael Mann, Bergman colaborou diretamente com a produção do roteiro. Ele afirma ter ficado satisfeito com o resultado final do filme, ao contrário de Mike Wallace, de 81 anos, apresentador do "60 Minutes" há mais de 30 anos, desde que o programa foi ao ar pela primeira vez.
Wallace, que no filme aparece aceitando a censura imposta pela CBS ao programa, para só mais tarde mudar de posição, afirma que o diretor foi irresponsável ao retratar seu papel no episódio.
"Se isso é entretenimento, porque então usar meu nome para colocar na minha boca palavras que eu nunca disse? Todos sabem qual foi minha posição no caso. Mas não posso aceitar ser retratado como uma pessoa que perdeu o senso de moral", reclamou o âncora para o "New York Times".
Assim como ele, diretores da CBS afirmam que o filme carrega nas tintas contra a rede de TV enquanto faz de Bergman e de Wigand heróis acima de qualquer deslize humano.
A resposta do diretor Michael Mann é despreocupada. "Apesar de ser baseado em fatos reais, o filme é um drama. E, no reino do drama, muda-se tudo. E muda-se tudo para que signifique exatamente o que significava antes", afirma ele, que sustenta que "The Insider" é fiel aos fatos principais da história real. (MG)


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