São Paulo, Quinta-feira, 25 de Novembro de 1999


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CRÍTICA
Tecno retrô tem sempre toque francês

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


Jacques Lu Cont está no Brasil, infelizmente apenas como DJ. Podia ser melhor, mas "Darkdancer", seu segundo disco como o projeto-de-um-homem-só Les Rythmes Digitales consola e dá uma pista a mais sobre o novo pop francês.
Bem, há o factóide aí -o moço de cabelos de fogo é francês de araque, desde antes do 1 aninho de idade vive na velha Inglaterra britpop. Mas ainda assim serve para mostrar que, de uns anos para cá, tudo de interessante que vem de um tipo "retrofuturista" de pop eletrônico tem pé fincado na França.
Não faltam exemplos: Air, Daft Punk, Etienne de Crécy, até os mais farofeiros Cassius e Stardust. Fazem música eletrônica, mas bardos da chique-cafonália como Serge Gainsbourg, Jacques Brel, Françoise Hardy ou o ianque Burt Bacharach moldam seus sons tanto quanto Kraftwerk e blablablá.
Mr. Digitales fica na fronteira da "farofice", com coisas entre disco e house, como o hit "(Hey You) What's That Sound?"; também as referências kitsch-pedantes devem ser meio ancestrais nele -é jovem, atribui suas poções malucas ao tecnopop anos 80: New Order, Depeche Mode, Human League e coisas piores (Phil Collins), de quando era neném. O mistério é que ele usa a barafunda com extrema inteligência. E as invade com artefatos retrô daqueles de fazer corar de gosto Brian Wilson e os Troggs, como Moog e vocoder.
"From: Disco to: Disco", por exemplo, faz recombinações inéditas, de Kraftwerk, disco music, funk do início dos 80, Arthur Baker, tecnopop jeca. O efeito desejado? Ser sarcástico com tudo isso, da disco à disco.
"Soft Machine" soma a referências tão dispersas vocais bem-dotados e o aviso transtornado de que "Lúcifer cresce em minha cabeça" -esse pop francês, como o tecno em geral, despreza a palavra, mas em poucas já diz muito (assim o faziam "Sexy Boy" e "Kelly Watch the Stars", do Air).
É por aí que vai. Lu Cont peita (com o espírito pragmático dos seus) os chavões -o inevitável Kraftwerk surge em "Hypnotise", "Brothers" vai de Soul 2 Soul a Technotronic-, com decisão comparável à que acompanha "Sometimes", peça pop radiofônica melódica, romântica, doce, piegas -fofa, em resumo. Na sequência (e para encerrar o CD), mais sarcasmo, na soul-fantasma "Damaged People", gente lesada?
Seja ou não ele francês, são doses do que a pop-França retrógrada/futurista da virada do século tem oferecido: estrelinhas, cavernas de veludo e pelúcia, robôs à Jetsons. O Cabelos de Fogo ocupa as cabines da U-Turn hoje de madrugada. É ver no que dá.


Avaliação:     


Disco: Darkdancer Projeto: Les Rythmes Digitales Lançamento: Virgin Quanto: R$ 20, em média

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