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CRÍTICA
Tecno retrô tem sempre toque francês
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Jacques Lu
Cont está no
Brasil, infelizmente apenas como DJ.
Podia ser
melhor, mas "Darkdancer",
seu segundo disco como o projeto-de-um-homem-só Les
Rythmes Digitales consola e dá
uma pista a mais sobre o novo
pop francês.
Bem, há o factóide aí -o moço de cabelos de fogo é francês
de araque, desde antes do 1 aninho de idade vive na velha Inglaterra britpop. Mas ainda assim serve para mostrar que, de
uns anos para cá, tudo de interessante que vem de um tipo
"retrofuturista" de pop eletrônico tem pé fincado na França.
Não faltam exemplos: Air,
Daft Punk, Etienne de Crécy,
até os mais farofeiros Cassius e
Stardust. Fazem música eletrônica, mas bardos da chique-cafonália como Serge Gainsbourg, Jacques Brel, Françoise
Hardy ou o ianque Burt Bacharach moldam seus sons tanto
quanto Kraftwerk e blablablá.
Mr. Digitales fica na fronteira
da "farofice", com coisas entre
disco e house, como o hit
"(Hey You) What's That
Sound?"; também as referências kitsch-pedantes devem ser
meio ancestrais nele -é jovem, atribui suas poções malucas ao tecnopop anos 80: New
Order, Depeche Mode, Human
League e coisas piores (Phil Collins), de quando era neném. O
mistério é que ele usa a barafunda com extrema inteligência. E as invade com artefatos
retrô daqueles de fazer corar de
gosto Brian Wilson e os Troggs,
como Moog e vocoder.
"From: Disco to: Disco", por
exemplo, faz recombinações
inéditas, de Kraftwerk, disco
music, funk do início dos 80,
Arthur Baker, tecnopop jeca. O
efeito desejado? Ser sarcástico
com tudo isso, da disco à disco.
"Soft Machine" soma a referências tão dispersas vocais
bem-dotados e o aviso transtornado de que "Lúcifer cresce
em minha cabeça" -esse pop
francês, como o tecno em geral,
despreza a palavra, mas em
poucas já diz muito (assim o faziam "Sexy Boy" e "Kelly
Watch the Stars", do Air).
É por aí que vai. Lu Cont peita (com o espírito pragmático
dos seus) os chavões -o inevitável Kraftwerk surge em
"Hypnotise", "Brothers" vai de
Soul 2 Soul a Technotronic-,
com decisão comparável à que
acompanha "Sometimes", peça pop radiofônica melódica,
romântica, doce, piegas -fofa,
em resumo. Na sequência (e
para encerrar o CD), mais sarcasmo, na soul-fantasma "Damaged People", gente lesada?
Seja ou não ele francês, são
doses do que a pop-França retrógrada/futurista da virada do
século tem oferecido: estrelinhas, cavernas de veludo e pelúcia, robôs à Jetsons. O Cabelos de Fogo ocupa as cabines da
U-Turn hoje de madrugada. É
ver no que dá.
Avaliação:
Disco: Darkdancer
Projeto: Les Rythmes Digitales
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 20, em média
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