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HQ
Compilação de terror de Flavio Colin (1930-2002) lançada pela Opera Graphica apresenta seu trabalho à nova geração
Quadrinista carioca ganha nova chance
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
As histórias em quadrinhos precisam ser levadas a sério. Essa foi a
bandeira carregada por Flavio
Colin (1930-2002) ao longo de
seus mais de 50 anos de dedicação
teimosa e quase ininterrupta à arte de contar "causos" com o auxílio de desenhos e balõezinhos.
Morreu em 13 de agosto deste
ano, pobre, desempregado e desconhecido da geração de leitores
nascida depois dos anos 60. O álbum "Filho do Urso e Outras Histórias", lançado agora pela editora Opera Graphica, tem a tardia
missão de alterar essa sina.
Com dois trabalhos inéditos,
"Filho do Urso" e a adaptação de
Edgar Allan Poe "Metzengengerstein", e outras quatro histórias de
Colin publicadas há pelo menos
20 anos, a compilação faz um recorte da carreira do quadrinista
carioca, responsável pela tira "Vizunga", que saiu na Folha na década de 60, e pelas premiadas
"Mulher-Diaba no Rastro de
Lampião" (94) e "Estórias Gerais"
(2000). O assunto aqui é o terror.
Contemporâneo de nomes hoje
igualmente subestimados pela
grande maioria de fãs de HQ, como Julio Shimamoto e Nico Rosso, Colin mistura, em "Filho do
Urso", o tradicional horror da
americana E.C. Comics com o
brasilianismo que lhe foi característico. Como jamais saiu do país,
procurava adaptar para cenários e
personagens locais quase todas as
aventuras que desenhou, influenciadas pela literatura estrangeira e
pelo cinema dos anos 50.
Daí nasceram "Diversão Sinistra" e "O Cavalo Encantado", ambas publicadas no "Grande Livro
do Terror", lançado pela editora
Argos, em 1978, e reeditadas agora neste álbum. Ainda que o argumento seja discutível, datado talvez, é inegável o domínio de Colin
sobre o nanquim.
Seu traço forte, estilizado e o jogo de luz e sombra fazem do quadrinista uma importante e autêntica referência na HQ nacional.
Nacionalismo que, incentivado
pelo então governador gaúcho
Leonel Brizola, impulsionou o
movimento pela nacionalização
dos quadrinhos antes do regime
militar. "No país em que vivemos,
com tanto material americano, o
artista brasileiro não tem vez", reforça Norma Colin, 71, viúva do
desenhista.
Casada com Colin durante 47
anos, ela conta que, apesar de
uma breve guinada para a publicidade nos anos 70, o artista dizia
que trabalhar com HQs "era a sua
cachacinha". Meses antes de sua
morte, decorrente de um enfisema pulmonar, Colin trabalhava
em um projeto de quadrinizar a
história de Hans Staden. O artista
não deixou discípulos, mas sua
mulher mantém milhares de páginas inéditas guardadas "a sete
chaves" em sua casa, no Rio.
FILHO DO URSO E OUTRAS
HISTÓRIAS. Autor: Flavio Colin. Editora:
Opera Graphica. Quanto: R$ 12,90 (52
págs.).
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