São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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HQ

Compilação de terror de Flavio Colin (1930-2002) lançada pela Opera Graphica apresenta seu trabalho à nova geração

Quadrinista carioca ganha nova chance

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

As histórias em quadrinhos precisam ser levadas a sério. Essa foi a bandeira carregada por Flavio Colin (1930-2002) ao longo de seus mais de 50 anos de dedicação teimosa e quase ininterrupta à arte de contar "causos" com o auxílio de desenhos e balõezinhos.
Morreu em 13 de agosto deste ano, pobre, desempregado e desconhecido da geração de leitores nascida depois dos anos 60. O álbum "Filho do Urso e Outras Histórias", lançado agora pela editora Opera Graphica, tem a tardia missão de alterar essa sina.
Com dois trabalhos inéditos, "Filho do Urso" e a adaptação de Edgar Allan Poe "Metzengengerstein", e outras quatro histórias de Colin publicadas há pelo menos 20 anos, a compilação faz um recorte da carreira do quadrinista carioca, responsável pela tira "Vizunga", que saiu na Folha na década de 60, e pelas premiadas "Mulher-Diaba no Rastro de Lampião" (94) e "Estórias Gerais" (2000). O assunto aqui é o terror.
Contemporâneo de nomes hoje igualmente subestimados pela grande maioria de fãs de HQ, como Julio Shimamoto e Nico Rosso, Colin mistura, em "Filho do Urso", o tradicional horror da americana E.C. Comics com o brasilianismo que lhe foi característico. Como jamais saiu do país, procurava adaptar para cenários e personagens locais quase todas as aventuras que desenhou, influenciadas pela literatura estrangeira e pelo cinema dos anos 50.
Daí nasceram "Diversão Sinistra" e "O Cavalo Encantado", ambas publicadas no "Grande Livro do Terror", lançado pela editora Argos, em 1978, e reeditadas agora neste álbum. Ainda que o argumento seja discutível, datado talvez, é inegável o domínio de Colin sobre o nanquim.
Seu traço forte, estilizado e o jogo de luz e sombra fazem do quadrinista uma importante e autêntica referência na HQ nacional. Nacionalismo que, incentivado pelo então governador gaúcho Leonel Brizola, impulsionou o movimento pela nacionalização dos quadrinhos antes do regime militar. "No país em que vivemos, com tanto material americano, o artista brasileiro não tem vez", reforça Norma Colin, 71, viúva do desenhista.
Casada com Colin durante 47 anos, ela conta que, apesar de uma breve guinada para a publicidade nos anos 70, o artista dizia que trabalhar com HQs "era a sua cachacinha". Meses antes de sua morte, decorrente de um enfisema pulmonar, Colin trabalhava em um projeto de quadrinizar a história de Hans Staden. O artista não deixou discípulos, mas sua mulher mantém milhares de páginas inéditas guardadas "a sete chaves" em sua casa, no Rio.


FILHO DO URSO E OUTRAS HISTÓRIAS. Autor: Flavio Colin. Editora: Opera Graphica. Quanto: R$ 12,90 (52 págs.).


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