São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2000

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Elenco influi no processo criativo



ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para Pina Bausch, fazer do Brasil e seu povo um tema com ressonâncias universais não se resume a visitar lugares ou observar pessoas. Ao que a coreógrafa vem captando em lugares como Salvador, serão somadas impressões e vivências pessoais dos bailarinos de seu elenco, que costumam participar intensamente do processo criativo de cada espetáculo.
"Quando percorremos os países que inspiram uma produção, nós procuramos sentir o que cada lugar transmite. Mas muito do que se vê no palco vem de nós mesmos, dos bailarinos como seres humanos, movidos por sensações subjetivas, de raiva ou de amor", diz a australiana Julie Shanahan, que integra o Tanztheater Wuppertal desde 1988.
Em "Masurca Fogo", Julie contracena com o alemão Rainer Behr. Quando ele é erguido por outro personagem para tornar-se mais alto e beijá-la, ambos parodiam uma situação verdadeira. Namorados na vida real, Julie e Rainer têm alturas contrastantes, ele é bem mais baixo do que ela.
"Entrei para o grupo de Pina porque, no palco, queria ser antes de tudo uma pessoa, não só uma bailarina", diz Julie, que em "Masurca Fogo" também aparece seminua, com o corpo encoberto por balões vermelhos. "Foi pensando em uma professora do colégio que desenvolvi essa cena, sobre uma mulher vulnerável, que se faz de vítima para atrair a atenção. A idéia dos balões, que são explodidos no final, foi de Pina."
A colaboração que a coreógrafa cultiva com cada integrante de seu grupo é característica que influi na fusão do individual com o coletivo, do regional com o cosmopolita. "Pina sempre se coloca à escuta das pessoas com as quais trabalha", diz Dominique Mercy. Bailarino mais veterano do Tanztheater, Mercy garante que são inúteis as especulações prévias sobre os espetáculos em desenvolvimento. "No final, Pina transforma tudo o que recolhe, encontrando uma ordem inesperada."


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