São Paulo, sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

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Crítica/"Hanami - Cerejeiras em Flor"

Clássico japonês inspira drama alemão

Filme tem premissa semelhante à de "Era uma Vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, e aborda velhice, família e morte

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

De tempos em tempos, por coincidência, inconsciente coletivo ou moda, um tema inspira vários diretores ao mesmo tempo. No ano passado, a francesa Claire Denis ("35 Doses de Rum"), o japonês Hirozaku Kore-eda ("Seguindo em Frente") e a alemã Doris Dörrie, com "Hanami - Cerejeiras em Flor", que estreia agora no Brasil, buscaram no cineasta japonês Yasujiro Ozu (1903-1963) a referência explícita para essas produções que abordam família, velhice e morte.
Mais fraco desse pacote, "Hanami" se apresenta como uma variação de "Era uma Vez em Tóquio" (1953), a obra-prima de Ozu. Nele, um casal de idosos que moram no interior vai à agitada Tóquio visitar os filhos. Estes, sempre ocupados, não têm tempo para os pais.
Em "Hanami", a morte não é uma consequência, mas algo anunciado desde o início. Trudi (Hannelore Elsner) fica sabendo por médicos que o marido, Rudi (Elmar Wepper), tem pouco tempo de vida. Um deles não é nada sutil: sugere que façam uma viagem enquanto ainda é possível. Atordoada, ela mantém segredo, e vai com o marido a Berlim visitar os dois filhos. Como no filme de Ozu, os idosos são tratados como um estorvo. O terceiro e predileto filho está distante também fisicamente: é um homem de negócios que trabalha em Tóquio.
Mas a diretora Doris Dörrie não está apenas contando mais uma variação da história de moral no estilo "aproveite cada dia como se fosse o último", como o próprio Rudi zomba em determinado momento.
A cineasta busca uma conexão Alemanha-Japão. Assim, Trudi é uma mulher apaixonada pela dança japonesa butô, e seu sonho é um dia visitar o país -e o monte Fuji.

Estrangeiro
Em termos estéticos, "Hanami" se divide em dois. Primeiro, há o olhar estrangeiro, já visto em filmes como "Encontros e Desencontros" (2003), em que a agitação e o colorido das ruas de Tóquio são sinônimos de solidão e estranhamento; paralelamente, a diretora tenta fazer uma homenagem aos planos estáticos de Ozu, mas enfatizando belezas naturais.
"Hanami" cresce a partir de uma reviravolta que não convém contar, mas é anunciada no trailer. Neste momento, o filme se torna uma reflexão sobre se tornar estrangeiro dentro de uma nova realidade. O que o impede de se tornar memorável é uma concessão a certos apelos fáceis da linguagem televisiva, que buscam as lágrimas. Aqui e ali os personagens explicam verbalmente situações que já estão claras visualmente, e certas metáforas, como aquela que relaciona as folhas de cerejeira à brevidade da vida, são um tanto óbvias.
Quando adota esse recurso, "Hanami" acaba se tornando uma anti-homenagem a Ozu, já que não deixa espaço para ambiguidades e dúvidas.


HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR

Direção: Doris Dörrie
Produção: Alemanha/França, 2008
Com: Elmar Wepper, Hannelore Elsner
Quando: a partir de hoje, no Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




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