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Crítica/"Hanami - Cerejeiras em Flor"
Clássico japonês inspira drama alemão
Filme tem premissa semelhante à de "Era uma Vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, e aborda velhice, família e morte
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
De tempos em tempos,
por coincidência, inconsciente coletivo ou
moda, um tema inspira vários
diretores ao mesmo tempo.
No ano passado, a francesa
Claire Denis ("35 Doses de
Rum"), o japonês Hirozaku Kore-eda ("Seguindo em Frente")
e a alemã Doris Dörrie, com
"Hanami - Cerejeiras em Flor",
que estreia agora no Brasil,
buscaram no cineasta japonês
Yasujiro Ozu (1903-1963) a referência explícita para essas
produções que abordam família, velhice e morte.
Mais fraco desse pacote, "Hanami" se apresenta como uma
variação de "Era uma Vez em
Tóquio" (1953), a obra-prima
de Ozu. Nele, um casal de idosos que moram no interior vai à
agitada Tóquio visitar os filhos.
Estes, sempre ocupados, não
têm tempo para os pais.
Em "Hanami", a morte não é
uma consequência, mas algo
anunciado desde o início. Trudi
(Hannelore Elsner) fica sabendo por médicos que o marido,
Rudi (Elmar Wepper), tem
pouco tempo de vida. Um deles
não é nada sutil: sugere que façam uma viagem enquanto ainda é possível.
Atordoada, ela mantém segredo, e vai com o marido a Berlim visitar os dois filhos. Como
no filme de Ozu, os idosos são
tratados como um estorvo. O
terceiro e predileto filho está
distante também fisicamente: é
um homem de negócios que
trabalha em Tóquio.
Mas a diretora Doris Dörrie
não está apenas contando mais
uma variação da história de
moral no estilo "aproveite cada
dia como se fosse o último", como o próprio Rudi zomba em
determinado momento.
A cineasta busca uma conexão Alemanha-Japão. Assim,
Trudi é uma mulher apaixonada pela dança japonesa butô, e
seu sonho é um dia visitar o
país -e o monte Fuji.
Estrangeiro
Em termos estéticos, "Hanami" se divide em dois. Primeiro,
há o olhar estrangeiro, já visto
em filmes como "Encontros e
Desencontros" (2003), em que
a agitação e o colorido das ruas
de Tóquio são sinônimos de solidão e estranhamento; paralelamente, a diretora tenta fazer
uma homenagem aos planos
estáticos de Ozu, mas enfatizando belezas naturais.
"Hanami" cresce a partir de
uma reviravolta que não convém contar, mas é anunciada
no trailer. Neste momento, o
filme se torna uma reflexão sobre se tornar estrangeiro dentro de uma nova realidade.
O que o impede de se tornar
memorável é uma concessão a
certos apelos fáceis da linguagem televisiva, que buscam as
lágrimas. Aqui e ali os personagens explicam verbalmente situações que já estão claras visualmente, e certas metáforas,
como aquela que relaciona as
folhas de cerejeira à brevidade
da vida, são um tanto óbvias.
Quando adota esse recurso,
"Hanami" acaba se tornando
uma anti-homenagem a Ozu, já
que não deixa espaço para ambiguidades e dúvidas.
HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR
Direção: Doris Dörrie
Produção: Alemanha/França, 2008
Com: Elmar Wepper, Hannelore Elsner
Quando: a partir de hoje, no Unibanco
Augusta, Reserva Cultural e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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