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DISCO/LANÇAMENTO
Banda baiana, que congrega 30 mulheres percussionistas, lança "A Mulher Gera o Mundo"
Didá estréia entre feminino e feminismo
Rosemeire, percussionista da Didá, põe máscara de escrava Anastácia
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial a Salvador
Tinha tudo para ser uma banda
feminista. A Didá Banda Feminina
transborda de signos desse universo: é constituída por 30 mulheres
radicadas no Pelourinho, em Salvador; seu emblema é a máscara/focinheira da escrava Anastácia
(leia abaixo), que usam enquanto
tocam percussão, prática musical
em geral monopolizada por homens; lançam agora seu CD de estréia, "A Mulher Gera o Mundo".
Com idades entre 16 e 30 anos,
elas negam o rótulo, entretanto.
"É um sabor de conquista muito
grande, não havia espaço para a
mulher na percussão", afirma a
vocalista, compositora e porta-voz
Vivian. "Não chega a ser feminista
porque nos controlamos."
"Fortalecemos a idéia da emancipação da mulher, mas transformamos a coisa pesada do tambor
em algo sensível, sublime", emenda a percussionista Rosemeire.
"Somos femininas tocando
tambor, usamos batom e esmalte", diz Adriana, maestrina da
banda. Rechaçam qualquer aproximação -via sensualidade-
com o universo axé de É o Tchan.
"Se alguém encurta demais a saia,
a gente briga", diz Adriana.
Para afastar a impressão feminista, há também duas figuras masculinas pairando sobre o grupo. A
mais notória delas é o conterrâneo
Caetano Veloso, que as "descobriu" e as divulgou, levando-as
para tocar na trilha sonora do filme "Tieta do Agreste".
"Ele nos orientou na escolha das
músicas, sabia o que ia poder tocar
ou não", lembra Neguinho do
Samba, a outra figura crucial na
existência da Didá. Egresso do
Olodum, foi dele a idéia de abrir a
Didá Escola de Música, que hoje
congrega cerca de 200 mulheres e é
o celeiro de formação das artistas.
"Didá é uma instituição cultural. A idéia é estruturá-la para ser
eterna. Eu vou morrer, e a Didá vai
continuar", sonha Vivian.
Neguinho, compositor principal
da banda, é definido pelas pupilas
como o inventor do samba-reggae,
nome que reivindicam para seu
som. "Inventei do mar, do sol, do
ar, da terra", ele esclarece.
A "vice" de Neguinho é a maestrina Adriana do Pelô, 27. "Tenho
total responsabilidade na organização do grupo", define. "Neguinho passa o ritmo, eu passo para a
banda e ensaio com elas."
Apesar da predominância, Didá
não é uma banda de afro-americanas. Abarca, hoje, uma suíça (leia
abaixo), uma argentina e até uma
loura, a flautista Carol. "O pessoal
mexe comigo: 'O que essa branquinha está fazendo aí?'", conta.
A diversidade não dificulta a harmonia, segundo elas. Mas Neguinho mete a colher, brincalhão:
"Elas brigam o tempo todo, agora
dizem que são uma família".
O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a
convite da gravadora BMG
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