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Indústria achata força percussiva
do enviado especial
A natureza mostra sua força
mais uma vez. Didá Banda Feminina tenta se impor em disco à custa
de muito hedonismo e apego à terra. Vê-las ao vivo, nas ruas do Pelourinho, é ter a certeza de que a
natureza é toda delas.
O fenômeno da transcrição da
natureza ao disco laser, entretanto, dá-se como de hábito: a indústria parece fazer o favor de achatar
a força natural das artistas, em
prol de alguma pasteurização -o
mesmo processo se deu, muito recentemente, no lançamento do
primeiro single da banda paulistana de percussionistas Oh! Terezinhas, também só de mulheres.
Em disco, sopros peculiares da
axé music mais chã invadem a arte
da Didá -que não é uma banda
chã de axé-, em detrimento até
da percussão. Jovens e entusiasmadas, as muitas meninas transpiram integridade, que nem sempre
vaza para o CD.
Vem concorrer para isso o padrão besteirol das letras do tutor
Neguinho do Samba. Alguém é capaz de decifrar a mensagem oculta
em versos como "Tropicália tropicália tropicalismou/ Caetano
Caetano caetaneou" ou "Quando
o telefone toca, quem atende é a
Tieta/ Tieta Jorge Amado é uma
beleza"? Difícil.
Não seria, nunca, o caso da Didá.
Há conceito por trás das meninas,
e isso é evidente desde o início.
"Samba de Elza" dá a senha que
quebra fronteiras e estabelece a
força dionisíaca da Didá.
É homenagem a Elza Soares, ícone feminino tão potente quanto o
de Anastácia. A vocalista Jucy enobrece o atar de laços entre gerações, tornando rouca à Elza a interpretação da fraca musiquinha.
O mesmo vão fazer as cantoras Catita, em "Quando Toco", e Nadjane, em "Convite".
"Samba de Elza" cita também
Tom Zé -e Caetano. Pensa-se no
inusitado que seria a presença de
Elza e Tom Zé bagunçando o arcabouço percussivo da Didá. Em vez
disso, tem-se Daniela Mercury
(em "Barrela") e Caetano, o patrono, em uma nova versão de
"Tigresa" (que pouco tem a ver
com a simbologia Didá).
Justiça seja feita: Caetano dá, na
parte que lhe cabe, interpretação
pungente e convicta como há anos
e anos ele não atingia (fruto evidente do amor que afirma e reafirma pela própria obra).
Daniela, por sua vez, quase passa
despercebida. É que as várias vocalistas ainda se aprumam pelo canto à Mercury, frequentemente gritado com desnecessário exagero.
A isso sobrevivem flagrantes
musicais repletos de suingue -em
"Madalena", "Memória" e "O
Rio" (que incorpora, com resultado engraçado e inteligente, batidas
vulgares de dance music de boate).
O que pode bem sintetizar as
qualidades da Didá é a figura hiperenergética, ao tambor, de Rosemeire, a própria reencarnação da
figura de Anastácia. Para fazer valer a imagem, talvez precisem ainda de alguma rebeldia frente a
bons e masculinos feitores.
(PAS)
Disco: A Mulher Gera o Mundo
Grupo: Didá Banda Feminina
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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