|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"MORTE NA ATLÂNTIDA"
Livro é bangue-bangue submarino
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Só falta a pipoca. "Morte na
Atlântida" é uma verdadeira
sessão bangue-bangue, em versão
submarina, para garotos e garotas
crescidinhos. Como nos velhos
filmes de faroeste, o Bem e o Mal
se enfrentam, mocinho é mocinho e bandido é bandido e, no
fim, o Bem sempre vence, mesmo
usando recursos nem sempre verossímeis.
É uma bobagem sensacional,
divertida, cheia de ação em um
ritmo alucinante, que lembra o
dos filmes de Indiana Jones, em
que você fica cansado só de ver o
personagem correr, pular, brigar,
dar tiros e por aí afora.
Bobagem, claro, se você estiver
procurando a resposta para enigmas metafísicos da humanidade
ou coisa que o valha. A literatura
de aventura não vai dar respostas
nem sequer pistas: ela está aí para
divertir multidões e vender livros
como pão quente.
O autor de "Morte na Atlântida", Clive Cussler, por sinal, é um
especialista em vendas. Leitores
de mais de cem países já compraram mais de 120 milhões de cópias das aventuras de Dirk Pitt,
mistura de Jacques Costeau com
MacGyver que também guarda
características do autor.
O herói é moreno de olhos verdes, alto e forte e dirige a Numa
(sigla em inglês para Agência Nacional de Marinha e Subaquática)
-mesmo nome da entidade sem
fins lucrativos que, na vida real, é
comandada por Cussler e atua na
busca de navios naufragados, já
tendo encontrado mais de 60.
Além disso, como o criador, a
criatura é fanática por carros antigos: Pitt mora em um hangar remodelado para receber seus carrões; a coleção verdadeira do autor tem mais de 80 preciosidades.
Para completar, Cussler, que
tem 70 anos, três filhos e dois netos, diverte-se como uma espécie
de Hitchcock literário. Como o diretor de cinema, que costumava
passear discretamente em cenas
de seus filmes, o escritor aparece
em suas novelas como figura secundária, mas com certa importância na resolução da trama.
Em "Morte na Atlântida", o personagem Clive Cussler, também
conhecido como "Tio", cuidou da
recuperação e manutenção de um
superveículo que é usado pelo heróico Pitt no enfrentamento final
com o maléfico adversário.
E haja maldade! Os criminosos
querem nada mais nada menos
que a destruição do planeta tal como ele é hoje para que seu clã,
protegido em navios especiais,
inicie um novo processo de colonização da Terra segundo seus cânones racistas.
Mas o leitor da novela só vai conhecer e entender mais amplamente quem é o grupo criminoso
e quais são seus objetivos lá pela
metade das mais de 500 páginas
da história. Antes disso, acompanha uma sequência de aventuras
cheias de tiros, mortes, fugas arriscadas e estratagemas ardilosos.
Tudo gira em torno de uma sensacional descoberta arqueológica,
restos de uma civilização superavançada que teria existido há cerca de 10 mil anos. Há múmias, objetos, um relato de como a civilização foi destruída e uma advertência contra uma catástrofe futura, que estaria para acontecer nos
dias de hoje.
Um grupo de fanáticos neonazistas radicados na Argentina
aproveitou o mote para tentar
produzir seu fim do mundo particular a fim de fazer surgir o Quarto Império, sonhado desde a derrota de Hitler. Está prestes a concluir a trama quando Pitt mergulha na dança.
O prazer da leitura só é prejudicado pelos erros de edição e revisão. O maior deles, que poderia
até afastar leitores mais rigorosos,
aparece logo no primeiro parágrafo, na quinta linha, onde está
escrito "1.600 quilômetros quadrados de diâmetro" -mesmo
que tal barbaridade matemática
estivesse no original, era obrigação dos editores corrigir o descalabro. Outras falhas menores reforçam a necessidade de revisão
mais rigorosa em futuras edições.
Morte na Atlântida
Atlantis Found
Autor: Clive Cussler
Editora: Geração Editorial
Quanto: R$ 38 (532 págs.)
Texto Anterior: Livro/Lançamentos - "A Confraria do Medo": Texto de Rex Stout provoca uma espécie de perplexidade Próximo Texto: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: Genealogia da pintura Índice
|