São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"MORTE NA ATLÂNTIDA"

Livro é bangue-bangue submarino

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Só falta a pipoca. "Morte na Atlântida" é uma verdadeira sessão bangue-bangue, em versão submarina, para garotos e garotas crescidinhos. Como nos velhos filmes de faroeste, o Bem e o Mal se enfrentam, mocinho é mocinho e bandido é bandido e, no fim, o Bem sempre vence, mesmo usando recursos nem sempre verossímeis.
É uma bobagem sensacional, divertida, cheia de ação em um ritmo alucinante, que lembra o dos filmes de Indiana Jones, em que você fica cansado só de ver o personagem correr, pular, brigar, dar tiros e por aí afora.
Bobagem, claro, se você estiver procurando a resposta para enigmas metafísicos da humanidade ou coisa que o valha. A literatura de aventura não vai dar respostas nem sequer pistas: ela está aí para divertir multidões e vender livros como pão quente.
O autor de "Morte na Atlântida", Clive Cussler, por sinal, é um especialista em vendas. Leitores de mais de cem países já compraram mais de 120 milhões de cópias das aventuras de Dirk Pitt, mistura de Jacques Costeau com MacGyver que também guarda características do autor.
O herói é moreno de olhos verdes, alto e forte e dirige a Numa (sigla em inglês para Agência Nacional de Marinha e Subaquática) -mesmo nome da entidade sem fins lucrativos que, na vida real, é comandada por Cussler e atua na busca de navios naufragados, já tendo encontrado mais de 60.
Além disso, como o criador, a criatura é fanática por carros antigos: Pitt mora em um hangar remodelado para receber seus carrões; a coleção verdadeira do autor tem mais de 80 preciosidades.
Para completar, Cussler, que tem 70 anos, três filhos e dois netos, diverte-se como uma espécie de Hitchcock literário. Como o diretor de cinema, que costumava passear discretamente em cenas de seus filmes, o escritor aparece em suas novelas como figura secundária, mas com certa importância na resolução da trama.
Em "Morte na Atlântida", o personagem Clive Cussler, também conhecido como "Tio", cuidou da recuperação e manutenção de um superveículo que é usado pelo heróico Pitt no enfrentamento final com o maléfico adversário.
E haja maldade! Os criminosos querem nada mais nada menos que a destruição do planeta tal como ele é hoje para que seu clã, protegido em navios especiais, inicie um novo processo de colonização da Terra segundo seus cânones racistas.
Mas o leitor da novela só vai conhecer e entender mais amplamente quem é o grupo criminoso e quais são seus objetivos lá pela metade das mais de 500 páginas da história. Antes disso, acompanha uma sequência de aventuras cheias de tiros, mortes, fugas arriscadas e estratagemas ardilosos.
Tudo gira em torno de uma sensacional descoberta arqueológica, restos de uma civilização superavançada que teria existido há cerca de 10 mil anos. Há múmias, objetos, um relato de como a civilização foi destruída e uma advertência contra uma catástrofe futura, que estaria para acontecer nos dias de hoje.
Um grupo de fanáticos neonazistas radicados na Argentina aproveitou o mote para tentar produzir seu fim do mundo particular a fim de fazer surgir o Quarto Império, sonhado desde a derrota de Hitler. Está prestes a concluir a trama quando Pitt mergulha na dança.
O prazer da leitura só é prejudicado pelos erros de edição e revisão. O maior deles, que poderia até afastar leitores mais rigorosos, aparece logo no primeiro parágrafo, na quinta linha, onde está escrito "1.600 quilômetros quadrados de diâmetro" -mesmo que tal barbaridade matemática estivesse no original, era obrigação dos editores corrigir o descalabro. Outras falhas menores reforçam a necessidade de revisão mais rigorosa em futuras edições.


Morte na Atlântida
Atlantis Found
   
Autor: Clive Cussler
Editora: Geração Editorial
Quanto: R$ 38 (532 págs.)




Texto Anterior: Livro/Lançamentos - "A Confraria do Medo": Texto de Rex Stout provoca uma espécie de perplexidade
Próximo Texto: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: Genealogia da pintura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.