São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

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18ª SP FASHION WEEK

Dores musculares, de cabeça e queda na resistência são os principais sintomas de profissionais que trabalharam na semana de moda

Síndrome da estafa fashion atinge modelos

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se conseguirem consolidar os seus sonhos para o dia de hoje -o "day after" da semana de desfiles da São Paulo Fashion Week-, dezenas de produtores, modelos, estilistas, estudantes e jornalistas devem estar agora deitados em casa.
"Vou passar o dia inteiro comendo e dormindo", planejava o DJ Zé Pedro ontem no prédio da Bienal. O DJ foi responsável por 12 trilhas da São Paulo Fashion Week e oito da Fashion Rio. "Durmo umas três horas por noite, e o meu celular toca toda madrugada. Recupero o sono deitado nos lounges, abraçado com os meus CDs, para não roubarem."
Ele chegou a dormir enquanto fazia uma trilha. "Fiquei duas horas desmaiado sentado com o dedo no botão do equipamento." Quando dormiu, teve pesadelos. "Sonhava que trocava as trilhas. Vi a Vide Bula entrando na passarela com música da Rosa Chá. Foi um pavor", conta.
Zé Pedro é mais uma das vítimas da estafa fashion que acomete quem trabalhou sete dias enfurnado no prédio da Bienal. Muitas delas vieram direto da Fashion Rio, que aconteceu dos dias 11 a 15 deste mês. Ontem, a frase corrente nos corredores do evento era: "Não agüento mais!".
Os maiores sintomas da estafa fashion são dores musculares, dor de cabeça, sono e queda na resistência. "A maioria das pessoas que procuram o posto médico está com gripe ou dor de cabeça. Isso porque trabalham muito e não se alimentam direito", disse o médico Sérgio Brito, que fazia plantão ontem na SPFW.
A modelo Aline Conti, 18, trabalhava sentindo dores no corpo e ne cabeça. "Fiquei doente, tive febre ontem. Deve ser cansaço. E também porque eu não como direito." A também modelo Bárbara Berger, 19 anos e 38 desfiles entre a São Paulo Fashion Week e a Fashion Rio, sofria com dores nos pés e com o esgotamento de quem dorme, há duas semanas, cerca de três horas por noite.
O que os médicos não contam são com as alucinações e alterações de humor do povo da moda. "Fiz três desfiles por dia. O pior é que não paro de maquiar. Porque quando durmo, sonho que estou maquiando também. Então, trabalho 24 horas por dia", contou o maquiador Puca Queiróz.
Para agüentar o tranco de quem fez o estilo de três desfiles (e por isso virou várias madrugadas), o stylist Daniel Ueda tomou cerca de dez cafés por dia "e o que eu vi pela frente de energético". Enquanto falava com a Folha, ele se deliciava com uma dose dupla de café. Daniel também passou a "gritar com as pessoas, coisa que nunca faço".
As esquenta-cadeiras (estudantes de moda que ocupam os assentos da primeira fileira dos desfiles, guardando os lugares dos VIPs), no lugar de gritar, afirmam não agüentar mais "o estrelismo e as grosserias dos famosos". Elas trabalharam cerca de 11 horas por dia. "Também não agüento mais a falta de opção de comida daqui. Só tem coisa cara e light", conta Amanda Brasil. Se faltou comida, sobrou bebida nada saudável. Durante sete dias de São Paulo Fashion Week, 10 mil latas de energético foram abertas e cerca de 4.000 cafezinhos foram servidos.
Resta saber se essa gente vai conseguir ter o desejado sono depois de ter tomado tudo isso.


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