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18ª SP FASHION WEEK
Dores musculares, de cabeça e queda na resistência são os principais sintomas de profissionais que trabalharam na semana de moda
Síndrome da estafa fashion atinge modelos
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se conseguirem consolidar os
seus sonhos para o dia de hoje
-o "day after" da semana de desfiles da São Paulo Fashion
Week-, dezenas de produtores,
modelos, estilistas, estudantes e
jornalistas devem estar agora deitados em casa.
"Vou passar o dia inteiro comendo e dormindo", planejava o
DJ Zé Pedro ontem no prédio da
Bienal. O DJ foi responsável por
12 trilhas da São Paulo Fashion
Week e oito da Fashion Rio.
"Durmo umas três horas por noite, e o meu celular toca toda madrugada. Recupero o sono deitado nos lounges, abraçado com os
meus CDs, para não roubarem."
Ele chegou a dormir enquanto
fazia uma trilha. "Fiquei duas horas desmaiado sentado com o dedo no botão do equipamento."
Quando dormiu, teve pesadelos.
"Sonhava que trocava as trilhas.
Vi a Vide Bula entrando na passarela com música da Rosa Chá. Foi
um pavor", conta.
Zé Pedro é mais uma das vítimas da estafa fashion que acomete quem trabalhou sete dias enfurnado no prédio da Bienal. Muitas
delas vieram direto da Fashion
Rio, que aconteceu dos dias 11 a 15
deste mês. Ontem, a frase corrente nos corredores do evento era:
"Não agüento mais!".
Os maiores sintomas da estafa
fashion são dores musculares, dor
de cabeça, sono e queda na resistência. "A maioria das pessoas
que procuram o posto médico está com gripe ou dor de cabeça. Isso porque trabalham muito e não
se alimentam direito", disse o médico Sérgio Brito, que fazia plantão ontem na SPFW.
A modelo Aline Conti, 18, trabalhava sentindo dores no corpo e
ne cabeça. "Fiquei doente, tive febre ontem. Deve ser cansaço. E
também porque eu não como direito." A também modelo Bárbara Berger, 19 anos e 38 desfiles entre a São Paulo Fashion Week e a
Fashion Rio, sofria com dores nos
pés e com o esgotamento de
quem dorme, há duas semanas,
cerca de três horas por noite.
O que os médicos não contam
são com as alucinações e alterações de humor do povo da moda.
"Fiz três desfiles por dia. O pior é
que não paro de maquiar. Porque
quando durmo, sonho que estou
maquiando também. Então, trabalho 24 horas por dia", contou o
maquiador Puca Queiróz.
Para agüentar o tranco de quem
fez o estilo de três desfiles (e por
isso virou várias madrugadas), o
stylist Daniel Ueda tomou cerca
de dez cafés por dia "e o que eu vi
pela frente de energético". Enquanto falava com a Folha, ele se
deliciava com uma dose dupla de
café. Daniel também passou a
"gritar com as pessoas, coisa que
nunca faço".
As esquenta-cadeiras (estudantes de moda que ocupam os assentos da primeira fileira dos desfiles, guardando os lugares dos
VIPs), no lugar de gritar, afirmam
não agüentar mais "o estrelismo e
as grosserias dos famosos". Elas
trabalharam cerca de 11 horas por
dia. "Também não agüento mais
a falta de opção de comida daqui.
Só tem coisa cara e light", conta
Amanda Brasil. Se faltou comida,
sobrou bebida nada saudável.
Durante sete dias de São Paulo
Fashion Week, 10 mil latas de
energético foram abertas e cerca
de 4.000 cafezinhos foram servidos.
Resta saber se essa gente vai
conseguir ter o desejado sono depois de ter tomado tudo isso.
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