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França tem obras dos anos 50 e 60
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Universidade de Poitiers, na França, encontra-se um acervo de
mais de 8.000 peças do cordel brasileiro, entre folhetos -sobretudo das décadas de 50 e 60, período
considerado rico pelos especialistas-, xilogravuras, estudos críticos e registros audiovisuais.
A coleção recebeu o nome do
homem que a reuniu, Raymond
Cantel. Doutor em letras portuguesas, Cantel passou a integrar o
corpo docente da Universidade
de Poitiers na década de 40. Em
1959, fez sua primeira viagem ao
Brasil, em busca de reminiscências do sebastianismo português.
Seduzido pelos mitos populares
nordestinos, Cantel passou a ser
um estudioso da cultura brasileira
e tornou-se próximo de poetas e
gravadores como Rodolfo Coelho
Cavalcante, José Soares, Azulão e
José Bernardo.
Manejando uma câmera, Cantel
registrava a performance de repentistas. Em Poitiers, chegou a
ter como assistente a professora
Elza Tavares, uma das lexicógrafas do dicionário Aurélio, como
lembra a escritora Nélida Piñon,
que recebeu da universidade francesa o título de doutor "honoris
causa". Nélida doou peças de sua
coleção particular para o acervo
Cantel, "levando em conta sua
importância".
"Sou uma mulher apaixonada
pelo medievo. E acho que no fulcro do cordel brasileiro podemos
detectar as fontes das nossas inquietações imaginárias. Doei tudo o que tinha sobre ele pois tenho uma forte noção da memória
brasileira. Chega a ser uma tristeza, mas eles valorizam o que nós
não valorizamos", diz Nélida.
Com a morte do professor Cantel, em 1986, o acervo ficou desabrigado de cuidados até a chegada
da estudiosa holandesa Ria Lemaire à Poitiers, em 1992.
Este ano a universidade adquiriu um equipamento de tecnologia de ponta capaz de digitalizar e
restaurar obras antigas. A aquisição permitirá à universidade arquivar em CD todos os folhetos
do acervo Cantel, cuja "sobrevivência" é a principal preocupação
de Ria Lemaire.
"Os folhetos são velhos, o papel,
muito barato, de qualidade ruim.
Eles passaram por não sei quantas
mãos num clima tropical muitas
vezes muito úmido, foram visitados pelo cupim e por roedores."
O equipamento servirá também
para "salvar folhetos raros de
poetas e colecionadores brasileiros que estão em vias de perdição", diz a especialista.
(SA)
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