São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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França tem obras dos anos 50 e 60

DA REPORTAGEM LOCAL

Na Universidade de Poitiers, na França, encontra-se um acervo de mais de 8.000 peças do cordel brasileiro, entre folhetos -sobretudo das décadas de 50 e 60, período considerado rico pelos especialistas-, xilogravuras, estudos críticos e registros audiovisuais.
A coleção recebeu o nome do homem que a reuniu, Raymond Cantel. Doutor em letras portuguesas, Cantel passou a integrar o corpo docente da Universidade de Poitiers na década de 40. Em 1959, fez sua primeira viagem ao Brasil, em busca de reminiscências do sebastianismo português.
Seduzido pelos mitos populares nordestinos, Cantel passou a ser um estudioso da cultura brasileira e tornou-se próximo de poetas e gravadores como Rodolfo Coelho Cavalcante, José Soares, Azulão e José Bernardo.
Manejando uma câmera, Cantel registrava a performance de repentistas. Em Poitiers, chegou a ter como assistente a professora Elza Tavares, uma das lexicógrafas do dicionário Aurélio, como lembra a escritora Nélida Piñon, que recebeu da universidade francesa o título de doutor "honoris causa". Nélida doou peças de sua coleção particular para o acervo Cantel, "levando em conta sua importância".
"Sou uma mulher apaixonada pelo medievo. E acho que no fulcro do cordel brasileiro podemos detectar as fontes das nossas inquietações imaginárias. Doei tudo o que tinha sobre ele pois tenho uma forte noção da memória brasileira. Chega a ser uma tristeza, mas eles valorizam o que nós não valorizamos", diz Nélida.
Com a morte do professor Cantel, em 1986, o acervo ficou desabrigado de cuidados até a chegada da estudiosa holandesa Ria Lemaire à Poitiers, em 1992.
Este ano a universidade adquiriu um equipamento de tecnologia de ponta capaz de digitalizar e restaurar obras antigas. A aquisição permitirá à universidade arquivar em CD todos os folhetos do acervo Cantel, cuja "sobrevivência" é a principal preocupação de Ria Lemaire.
"Os folhetos são velhos, o papel, muito barato, de qualidade ruim. Eles passaram por não sei quantas mãos num clima tropical muitas vezes muito úmido, foram visitados pelo cupim e por roedores."
O equipamento servirá também para "salvar folhetos raros de poetas e colecionadores brasileiros que estão em vias de perdição", diz a especialista. (SA)


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