São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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Ninguém vai para casa sem um premiozinho

da Reportagem Local

São 95 categorias, o que já demonstra a disposição "politiqueira" de que ninguém que tenha se comportado minimamente bem durante o ano vá para casa sem seu premiozinho.
Uma imagem simbólica ilustra o quão fim de linha é esse tal de Grammy: proclamados rebeldes alternativos, Billy Corgan (dos Smashing Pumpkins) e Shirley Manson (do Garbage) se prestaram a entregar o prêmio de "melhor performance vocal feminina de rock" àquela moça chamada Alanis Morissette. É de rir, se for possível não sentar num canto e chorar.
Daí por diante, a premiação é um desfile de monstruosidades. A ex-"Erotica" Madonna precisou ser mamãe e aderir às formas zen de inocuidade para enfim ganhar umas estatuinhas.
Lauryn Hill, "artista nova" do ano, nem precisou. O rap, uma espécie de pagode à americana (e tão conservador quanto), costumeiramente já nasce abençoado pela indústria de lá.
A excrescência Celine Dion, por sua vez, é a "melhor cantora pop" -para que ninguém deixe de ver como é baixo o conceito de pop da indústria fonográfica deles.
Bem, e houve nosso Gilberto Gil -merecedor há décadas de um prêmio desses-, sob medida para evidenciar que Brasil é mesmo o país do futuro.
Tropicalismo é o grito da moda lá (até Beck foi, mostrando que já compete com Celine Dion no quesito "alternativo"), mesmo que "Quanta Gente Veio Ver", versão ao vivo de "Quanta", seja um disco preguiçoso do artista -num ano em que Cesária Évora, por quem o próprio Gil disse estar torcendo, estava na parada com um disco nos conformes, inédito, de estúdio.
Fica a pergunta: se "Quanta Live" (o nome em inglês) merecia o Grammy de world music (?), por que o primeiro "Quanta" não mereceu?
A moral de tudo parece ser essa: na grande indústria de música planetária, quem apitar mais alto (e mais mansinho, para não ferir ouvidos sensíveis) leva. Depois só a gente é que é subdesenvolvido.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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