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Ninguém vai para casa sem um premiozinho
da Reportagem Local
São 95 categorias, o que já demonstra a disposição "politiqueira" de que ninguém que tenha se
comportado minimamente bem
durante o ano vá para casa sem seu
premiozinho.
Uma imagem simbólica ilustra o
quão fim de linha é esse tal de
Grammy: proclamados rebeldes
alternativos, Billy Corgan (dos
Smashing Pumpkins) e Shirley
Manson (do Garbage) se prestaram a entregar o prêmio de "melhor performance vocal feminina
de rock" àquela moça chamada
Alanis Morissette. É de rir, se for
possível não sentar num canto e
chorar.
Daí por diante, a premiação é um
desfile de monstruosidades. A ex-"Erotica" Madonna precisou ser
mamãe e aderir às formas zen de
inocuidade para enfim ganhar
umas estatuinhas.
Lauryn Hill, "artista nova" do
ano, nem precisou. O rap, uma espécie de pagode à americana (e tão
conservador quanto), costumeiramente já nasce abençoado pela indústria de lá.
A excrescência Celine Dion, por
sua vez, é a "melhor cantora pop"
-para que ninguém deixe de ver
como é baixo o conceito de pop da
indústria fonográfica deles.
Bem, e houve nosso Gilberto Gil
-merecedor há décadas de um
prêmio desses-, sob medida para
evidenciar que Brasil é mesmo o
país do futuro.
Tropicalismo é o grito da moda lá
(até Beck foi, mostrando que já
compete com Celine Dion no quesito "alternativo"), mesmo que
"Quanta Gente Veio Ver", versão
ao vivo de "Quanta", seja um disco
preguiçoso do artista -num ano
em que Cesária Évora, por quem o
próprio Gil disse estar torcendo,
estava na parada com um disco
nos conformes, inédito, de estúdio.
Fica a pergunta: se "Quanta Live"
(o nome em inglês) merecia o
Grammy de world music (?), por
que o primeiro "Quanta" não mereceu?
A moral de tudo parece ser essa:
na grande indústria de música planetária, quem apitar mais alto (e
mais mansinho, para não ferir ouvidos sensíveis) leva. Depois só a
gente é que é subdesenvolvido.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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